A Hora e Vez de Augusto Matraga

A Hora e Vez de Augusto Matraga[1] é uma novela de Guimarães Rosa, integrante de Sagarana (1946), e considerada pelo autor "de certa forma, síntese e chave de todas as outras" narrativas da obra e, enquanto estilo, o que procurava descobrir desde o início do livro [2]. À época de sua publicação, foi considerada por Antônio Cândido um dos contos mais perfeitos da língua portuguesa. [3]

A Hora e Vez de Augusto Matraga
A Hora e Vez de Augusto Matraga
Capa do livro Sagarana de João Guimarães Rosa, onde foi publicado pela primeira vez o conto A Hora e vez de Augusto Matraga
Autor(es) João Guimarães Rosa
Idioma Português
País  Brasil
Gênero Conto
Lançamento 1946

Estilo e temática editar

Ainda que ambientada no sertão, a novela A hora e vez de Augusto Matraga, assim como as demais narrativas de Sagarana, difere das obras regionalistas. Partindo da estrutura de saga, Rosa cria "universo literário em que vida e poesia se equivalem, onde o sertão deixa de ser estritamente um espaço geográfico para atingir uma dimensão mitopoética". [3]

A relação entre o medo e a coragem [4] e o papel da honra na reafirmação da identidade masculina também podem ser considerados temas importantes da novela.[5]

Sinopse editar

Conta a história de Augusto Esteves, filho de Coronel, homem "duro e doido e sem detença, como um bicho grande do mato", "estúrdio, estouvado e sem regra", que, no mesmo dia, é abandonado pela esposa e leva uma enorme surra de seus desafetos, escapando à morte por pouco. É acolhido por um casal muito pobre, que cuida dele e salva sua vida. Arrependido de sua vida desregrada, Nhô Augusto ouve do padre que deve rezar e trabalhar, que sua hora e vez um dia vão chegar, e decide que vai entrar no céu, mesmo que seja "a porrete". Passa vivendo de forma humilde, trabalhando para o casal que o salvou e ajudando seus vizinhos, até começar a sentir falta de sua antiga valentia. E, um dia, chega à vila o bando do jagunço Joãozinho Bem-Bem. Fascinado pelos homens ferozes e armados, Nhô Augusto oferece hospedagem ao grupo em seu sítio. O chefe jagunço o convida para se juntar a eles, mas Nhô Augusto não aceita. Entretanto, depois de um tempo, decide partir e acaba encontrando novamente o bando, que está em missão de vingança contra um velho e sua família. Ao ouvir o que Joãozinho Bem-Bem pretende fazer com os filhos do velho, Nhô Augusto decide que não pode permitir, e desafia o amigo jagunço. Os dois combatem, ambos morrem, e Nhô Augusto recupera sua dignidade. [6]

Adaptações editar

Teatro editar

Em 1986, Antunes Filho, um dos mais considerados diretores teatrais do Brasil, fez uma adaptação livre muito premiada do conto para os palcos, juntando trechos do Grande Sertão: Veredas e de outros textos de Guimarães Rosa, protagonizada por Raul Cortez.[7]

Cinema editar

Referências e notas editar

  1. Embora seja muito comum ― até mesmo nas adaptações artísticas da obra ― redigir e falar "A Hora e a Vez"..., o correto no original de Guimarães Rosa é "A Hora e Vez"... Cf. aqui e aqui duas edições recentes: Sagarana pela Nova Fronteira, c. 2001 (e nas edições subsequentes), e pela Global Editora em 2020, esta última com o conto logo no título de capa. Além disso, no mesmo ano da publicação de Sagarana, Sérgio Milliet grafa o título "A Hora e Vez"... em seu diário crítico; Álvaro Lins também assim o faz neste volume publicado no ano seguinte (1947), Jornal da Crítica pela Livraria José Olympio Editora. O equívoco foi até objeto de discussão e notícia em vestibular de 2007 da Unicamp, com um vestibulando e uma professora confirmando o título correto e apontando o incorreto.
  2. CARTA de João Guimarães Rosa a João Condé, revelando os segredos de Sagarana. In.: ROSA, João Guimarães. Sagarana. Ed. comemorativa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. p. 395.
  3. a b Gordo, Filipe Gonçalves (2022). «Prefiguração e transcendência em A hora e vez de Augusto Matraga». Centro Universitário Campos de Andrade. Scripta Alumni. 25 (2): 106-119. Consultado em 17 de abril de 2023 
  4. Silva, Célia Marília (10 de junho de 2018). «Entre a coragem e o medo: uma análise de A hora e a vez de Augusto Matraga». Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Odisseia. 3 (2): 1-15. Consultado em 17 de abril de 2023 
  5. Almeida, Abílio Mendes de (2014). «A honra como reafirmação da identidade masculina no conto A hora e a vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa». Universidade Federal da Paraíba. Artemis. 18 (1): 239-250. Consultado em 17 de abril de 2023 
  6. ROSA, João Guimarães (2006). Sagarana. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. ISBN 8520919219 
  7. A Hora e Vez de Augusto Matraga. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/evento401434/a-hora-e-a-vez-de-augusto-matraga>. Acesso em: 08 de Jul. 2018. Verbete da Enciclopédia. ISBN 978-85-7979-060-7
  8. André Dib (27 de novembro de 2015). «Abraccine organiza ranking dos 100 melhores filmes brasileiros». Abraccine. abraccine.org. Consultado em 26 de outubro de 2016 
  9. MILANI, Robledo. «A hora e a vez de Augusto Matraga». Papo de Cinema. Consultado em 17 de abril de 2023 

Ligações externas editar