Abão de Fleury

monge beneditino e matemático

Abão de Fleury (em latim: Abbo Floriacensis), também conhecido por Abbon ou Santo Abbo (Orleães, ca. 945 - La Réole, 13 de novembro de 1004) foi um monge, e mais tarde abade, do mosteiro beneditino de Fleury sur Loire (a atual Saint-Benoît-sur-Loire) próximo de Orleães, França.

Abão de Fleury
Abão de Fleury
Página título de um dos tratados de Abão de Fleury mostrando a palavra "ABBO". Criado entre 962 e 986 na abadia de Saint-Benoît-sur-Loire.
Nascimento ca. 945
Orleães
Morte 13 de novembro de 1004
mosteiro de La Réole na Gasconha
Veneração por Igreja Católica
Festa litúrgica 13 de novembro
Portal dos Santos

Vida editar

Abão nasceu perto de Orleães e foi educado em Paris e Reims, dedicando-se à Filosofia, Matemática e Astronomia. Passou dois anos (986-987) na Inglaterra, a maior parte do tempo no recém fundado mosteiro de Ramsey, auxiliando o arcebispo Osvaldo de York na restauração do sistema monástico. Foi também abade e diretor da escola do recém criado mosteiro, de 986 a 987.

Abão retornou a Fleury em 988, onde foi escolhido para ser o abade de Fleury, após a morte do abade Oilbold. Mas outro monge, que havia assegurado o apoio do rei e de seu filho Roberto, bispo de Orléans, contestou a escolha, e a questão assumiu uma importância nacional. Finalmente, ela foi resolvida em favor de Abão pelo famoso Gerbert de Aurillac (mais tarde Papa Silvestre II). O novo abade foi atuante na política contemporânea: esteve presente no Sínodo de São Basolus (São Basileu), perto de Reims, no qual Arnulfo, arcebispo de Reims foi julgado por traição e deposto, para abrir caminho para Gerbert. Em 996, o rei Roberto II (Roberto, o Pio) enviou-o para Roma para repelir uma ameaça de interdição apostólica contra o seu casamento com Berta da Borgonha. No caminho para Roma, encontrou-se com o Papa Gregório V, que era um fugitivo da cidade da qual o Antipapa João XVI o havia expulsado. Entre o pontífice e o abade criou-se então uma grande estima e afeto. A petição real para a dispensa foi rejeitada. Abão conseguiu trazer a restauração de Arnulfo para a sé de Reims. Foi influente para acalmar a excitação e o medo sobre o fim do mundo que estava generalizado na Europa em 1000.

Em 1004, Abão tentou restaurar a disciplina no mosteiro de La Réole, na Gasconha, através da transferência de alguns dos monges de Fleury para aquela comunidade. Mas o problema aumentou; começou uma luta entre as duas partes e quando Santo Abão tentou separá-los, foi ferido por uma lança. Ele ocultou a ferida e chegou até a sua cela, onde morreu nos braços de seu fiel discípulo Aimoin, que deixou um relato de seus trabalhos e virtudes. Os milagres em seu túmulo logo levaram-no a ser considerado pela Igreja da Gália como uma santo e mártir, embora ele não parece ter sido oficialmente canonizado por Roma. Sua festa é mantida em 13 de novembro.

Obras editar

Na Inglaterra Abão soube do martírio de Santo Edmundo (novembro de 870), e escreveu uma paixão em latim sobre ele (Passio sancti Edmundi). Ele também escreveu uma gramática latina para seus alunos ingleses, e três poemas para São Dunstão. Entre seus outros trabalhos estão: uma simplificação do computus, o cálculo da data da Páscoa; um Epitome de XCI Romanorum Pontificum Vitis (um livro sobre a vida dos papas romanos, que é uma simplificação do anterior Liber Pontificalis), um Collectio Canonum, com esclarecimentos sobre temas de Direito canônico, e outros tratados sobre temas controversos e cartas.

Por volta de 980 a 985, escreveu um comentário sobre os "Calculus" de Victorius da Aquitânia, antes da introdução dos algarismos arábicos, quando os cálculos eram muitas vezes bastante complexos. A grande variedade de pensamentos de Abão é refletida no comentário, que abrange a natureza da sabedoria, a filosofia do número, a relação de unidade e pluralidade, e a aritmética do Calculus. Abão baseou-se em seus conhecimentos de gramática, lógica e cosmologia para ilustrar seus argumentos, e definir tudo no contexto mais amplo de sua teologia da criação. A maioria dos trabalhos de Abão pode ser encontrada na Patrologia Latina (CXXXIX,375-582).

Temos uma biografia contemporânea, escrita por seu discípulo Aimoin de Fleury, na qual grande parte da correspondência de Abão foi reproduzida. É de grande importância, entre outras coisas, como uma fonte histórica de informações sobre o reinado de Roberto II da França, especialmente com referência ao Papado.

Referências

Ligações externas editar