Abu Iacube Iúçufe II

califa almóada
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Abu Iacube Iúçufe II ibne Anácer[1] (em árabe: أَبُو يَعقُوب يُوسُف بن النَاصِر; romaniz.:Abū Iūsuf Iaʿqūb ibn an-Nāṣir), apelidado Almostancir Bilá (em árabe: المسنتصر بالله; romaniz.:al-Mustanṣir bi-llāh; lit. "Aquele que procura vitória em Deus"),[2][3] foi um califa almóada que reinou entre 1213 e 1223/24. Era filho de Maomé Anácer (r. 1199–1213), seu antecessor, e foi sucedido pelo efêmero Abde Aluaide Almaclu (r. 1224).

Abu Iacube Iúçufe II
Califa almóada
Reinado 1213-1223/1224
Antecessor(a) Maomé Anácer
Sucessor(a) Abde Aluaide Almaclu
 
Nascimento 1203
Morte 1223 ou 1224
Dinastia almóada
Pai Maomé Anácer
Religião Islão

Vida editar

 
Mesquita de Tinmel
 
Califado Almóada ca. 1200

Iúçufe era filho do califa Maomé Anácer (r. 1199–1213) e nasceu em 1203. Em 1213, seu pai morre subitamente, talvez envenenado pelos xeiques almóadas do Magrebe, e Iúçufe sucede-o apesar de ser menor de idade.[4] A sua entronização foi acompanhada de condições que limitavam seu poder, notadamente o compromisso de não reter contingentes almóadas por muito tempo em território inimigo e não atrasar o pagamento dos soldos. Consequentemente, os negócios do Estado começaram a ter sensível deterioração.[5] Durante todo seu reinado, Almostancir apenas saía de sua capital Marraquexe para peregrinar a Tinmel, deixando seu vizir ibne Jami incumbido de suprimir as cada vez mais frequentes revoltas que eclodiam no Magrebe.[6] De acordo com o Dhakhira as-Sanīa, uma fonte hostil aos almóadas, Iúçufe era uma marionete que, por sua inexperiência, ficou em seu palácio envolto em frivolidades e vinho e deixou o governo sob comando de seus tios e parentes e delegou os assuntos do Estado a seus ministros e xeiques. Eles, continua a fonte, invejavam o poder uns dos outros e lutaram pela supremacia, enfraquecendo o Califado Almóada.[4] Os vizires, a seu turno, investiram-se de poderes exorbitantes, usurpando a própria autoridade do Estado.[7]

Já em 1214, foi assinada uma trégua entre almóadas e os cristãos do Alandalus em decorrência da sucessão na corte de Marraquexe e por dissensões no seio da nobreza cristã e o mau ciclo de colheitas em seus feudos; a trégua seria renovada em 1221 e duraria até a morte do califa.[3] Apesar do aparecimento, primeiro entre os sanhajas, e depois entre os jazulas, de duas personagens que diziam descender dos fatímidas e mádis, seu reinado decorreu sem grandes problemas até 1218, quando os Benamerim (merínidas) surgem perto de Fez.[8] Supostamente os exércitos califais já teriam confrontado os Benamerim de Abdalaque I (r. ca. 1195–1217) numa batalha às margens do rio Nacur em 1216, mas a julgar pela pouca fiabilidade das fontes que atestam o conflito, é possível que essa batalha não tenha ocorrido.[9] Seja como for, apesar da aparente calmaria, a ameaça cristã continuava a crescer, os Banu Gania estavam novamente em movimento e os Benamerim, até então mantidos além dos limites saarianos do país, penetravam no coração do extremo Magrebe, inicialmente na região entre Taza e Mequinez, e depois na zona de Fez.[8] A situação piorou com a morte de Iúçufe em 1223[10] ou 1224[11][7] e a sucessão pelo efêmero Abde Aluaide Almaclu.[10]

Referências

  1. Alves 2014, p. 571.
  2. Revista 1946, p. 17.
  3. a b Monteiro 2015, p. 170.
  4. a b Bennison 2016, p. 115.
  5. Saidi 2010, p. 60.
  6. Buresi 2012, p. 80.
  7. a b Saidi 2010, p. 61.
  8. a b Saidi 2010, p. 60-61.
  9. Mediano 2010, p. 108.
  10. a b Shatzmiller 1993, p. 802-803.
  11. Silva 2015, p. 10.

Bibliografia editar

  • Alves, Adalberto (2014). Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Leya. ISBN 9722721798 
  • Bennison, Amira K. (2016). Almoravid and Almohad Empires. Edimburgo: Edinburgh University Press. ISBN 0748646825 
  • Buresi, Pascal; El Aallaoui, Hicham (2012). Governing the Empire: Provincial Administration in the Almohad Caliphate (1224-1269) : Critical Edition, Translation, and Study of Manuscript 4752 of the Hasaniyya Library in Rabat Containing 77 Taqādīm ("appointments"). Leida: Brill 
  • Mediano, Fernando Rodríguez (2010). «4 . The post Almohad dynasties in al Andalus and the Maghrib (seventh ninth/thirteenth !fteenth centuries)». In: Fierro, Maribel. The New Cambridge History of Islam. II: The Western Islamic World Eleventh to Eighteenth Centuries. Cambrígia: Imprensa da Universidade de Cambrígia 
  • Monteiro, João Gouveia; Martins, Miguel Gomes; Agostinho, Paulo Jorge (2015). Guerra e Poder na Europa Medieval. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra 
  • Revista da Faculdade de Letras. 12 e 13. Lisboa: Universidade de Lisboa 
  • Saidi, O. (2010). «2 - A unificação do Magreb sob os Almóadas». In: Niane, Djibril Tamsir. História Geral da África IV - África do Século XII ao XVI. Paris; São Carlos: UNESCO; Universidade de São Carlos 
  • Shatzmiller, M. (1993). «al-Muwaḥḥidūn». In: Bosworth, C. E.; Donzel, E. van; Heinrichs, W.P.; Pellat, Ch. The Encyclopaedia of Islam Vol. VII Mif-Naz. Leida e Nova Iorque: Brill 
  • Silva, Acauã Alves Galvão da (2015). «As Relações Políticas entre os Mouros da Espanha e Norte da África no período de dominação Islâmica na Península Ibérica Medieval». IRECHEBH (5)