Aldeia da Pedra Branca

A aldeia da Pedra Branca era uma aldeia indígena localizada no atual município de Santa Teresinha, situado próximo à região do Recôncavo Baiano, no estado da Bahia, na bacia do rio Paraguaçu.[1]

História editar

Este aldeamento foi formado no século XVIII a partir da união de dois núcleos populacionais habitados por indígenas cariris e sapuiás: a aldeia de Nossa Senhora da Conquista da Pedra Branca e a aldeia de Caranguejo.[1]

Em 1818, a Aldeia da Pedra Branca recebeu a visita do naturalista Von Martius, que anotou registros da existência das línguas faladas pelas duas etnias que habitavam a aldeia naquela época: os Cayriri (Kariri) e os Sabuja (Sapuyá).[2] A aldeia foi destruída, no século XIX, após seguidas guerras e revoltas, como a revolta que eclodiu entre os meses de junho e julho de 1834:

O outro caso teve maiores repercussões e aconteceu em Pedra Branca (hoje distrito de Santa Terezinha), quando uma revolta realizada por cerca de 300 índios explodiu entre os meses de junho e julho de 1834. O motivo da revolta foi a invasão dos terrenos destinados ao patrimônio indígena realizada com o apoio do juiz municipal do termo, Francisco de Oliveira Guedes. É bom notar que, à época, o irmão de Francisco Guedes, João de Oliveira Guedes, exercia o cargo de juiz de órfãos e, portanto, o de curador e procurador dos índios de Pedra Branca.
— André de Almeida Rego.[3]

Em razão da destruição da aldeia, os indígenas tiveram de fugir desse território e se estabelecer, por décadas, em outras áreas, como a Aldeia Santa Rosa (situada no atual município baiano de Jequié), até serem reunidos, no final da década de 1930, na terra indígena Caramuru-Paraguaçu, segundo relato colhido por Curt Nimuendaju.[4][5]

No lugar da antiga aldeia há uma localidade chamada Pedra Branca, distrito do município de Santa Teresinha, cuja população é formada por alguns dos remanescentes dos indígenas aldeados que se miscigenaram com outras populações.

Hoje editar

Atualmente, muitos desses indígenas que fugiram compõem a maioria (cerca de 75%) dos que vivem na TI Caramuru-Paraguaçu e são genericamente designados como Pataxó Hã Hã Hãe (nome de um dos dois grupos que primeiro habitaram a terra indígena) e que enfrentam, há mais de vinte anos, um terrível conflito e uma demanda judicial pela retomada de suas terras, invadidas por fazendas.

O índio Galdino, que morreu queimado em Brasília em 1997 - num crime bárbaro que ficou tristemente famoso - era um Cariri-Sapuiá.

Referências

  1. a b REGO, André de Almeida. João Baitinga: análise sobre protagonismo histórico, a partir da trajetória de um índio (Bahia, 1804-1857). Revista Brasileira de História & Ciências Sociais, v. 10, n. 20, Jul. - Dez. 2018.
  2. WELPER, Elena Monteiro. Segredos do Brasil Curt Nimuendajú, Robert Lowie e os índios do nordeste. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 61 n. 3: 7-51, USP, 2018.
  3. REGO, André de Almeida. Trajetórias de vidas rotas: terra, trabalho e identidade indígena na província da Bahia (1822-1862). Tese (doutorado em História Social). Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Salvador, 2014, p. 72.
  4. CARVALHO, Maria do Rosário. Curt Nimuendaju no sul da Bahia: Registro etnográfico e repercussões de sua visita aos Pataxó Hãhãhãi. Revista de @ntropologia da UFSCar, 8 (2), jul./dez. 2016, p. 77
  5. «Aldeia de Santa Rosa: Mitos coletados por Nimuendaju». Consultado em 1º de maio de 2021