António Aniceto Monteiro

matemático português

António Aniceto Monteiro (Moçâmedes, Angola, 31 de maio de 1907Bahía Blanca, Argentina, 29 de outubro de 1980) foi um matemático português.

António Aniceto Monteiro
António Aniceto Monteiro
António Aniceto Monteiro e esposa, após o casamento
Nome completo António Aniceto Ribeiro Monteiro
Nascimento 31 de maio de 1907
Moçâmedes, Angola colonial
Morte 29 de outubro de 1980 (73 anos)
Bahía Blanca, Argentina
Nacionalidade português
Cônjuge Lídia Monteiro
Alma mater Universidade de Lisboa
Prémios Prémio Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (1978)
Orientador(es)(as) Maurice Fréchet[1]
Campo(s) Matemática
Tese 1936: Sur l'additivité des noyaux de Fredholm

Biografia editar

António Aniceto Monteiro nasceu a 31 de Maio de 1907 na província ultramarina de Angola, onde o seu pai era tenente de infantaria. Quando este faleceu, a 7 de Julho de 1915, regressou a Portugal com a mãe e com a irmã. Fez os estudos secundários no Colégio Militar de Lisboa, de 1917 a 1925. Casou-se em 1929 com Lídia Marina de Faria Torres.

Em 1930, licenciou-se em Ciências Matemáticas na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde foi aluno de Pedro José da Cunha. Em 1936 obteve o doutoramento na Universidade de Paris, orientado por Maurice Fréchet. Ao regressar a Portugal após o doutoramento tornou-se o impulsionador de diversas iniciativas destinadas a fomentar o aparecimento de uma comunidade científica dinâmica e competitiva a nível internacional:

  • Fundou em 1936 o Núcleo de Matemática, Física e Química em Lisboa.
  • Fundou, juntamente com Hugo Ribeiro, J. da Silva Paulo e M. Zaluar Nunes, a revista Portugaliæ Mathematica em 1937.
  • Impulsionou, em 1939, o Seminário de Análise Geral.
  • No mesmo ano, juntamente com Bento de Jesus Caraça, Hugo Ribeiro, J. da Silva Paulo e M. Zaluar Nunes, fundou a Gazeta de Matemática.[2]
  • Fundou a Sociedade Portuguesa de Matemática em 1940, tendo sido o seu primeiro secretário-geral.

Em 1945 António Aniceto Monteiro emigra para o Brasil. Existem duas interpretações dos motivos que o terão levado a abandonar Portugal. Uma primeira interpretação refere motivos políticos, que ele foi impedido de ter uma carreira universitária em Portugal, pois recusou-se a assinar um documento onde declarava o apoio ao salazarismo e o repúdio ao comunismo e às «ideias subversivas». Uma outra interpretação é a de que o próprio António Aniceto Monteiro deixou escrito de forma clara que abandonou o país, não por motivos ou perseguições políticas mas, por estar saturado das obstruções dos seus pares académicos.[3] Recomendado por Albert Einstein, John von Neumann e Guido Beck, foi convidado para trabalhar na Universidade do Brasil (actual Universidade Federal do Rio de Janeiro). Teve de aguardar durante quinze meses em Portugal para receber do governo brasileiro o visto para emigrar, bem como os bilhetes para a viagem, tendo partido em 1945 para o Rio de Janeiro. No entanto, a guerra interna dos concursos que acompanhou toda a existência da Universidade do Brasil até à sua extinção no final da década de 1960 levou à impossibilidade da sua permanência no Brasil. Partiu então para a Argentina, onde foi professor na Universidad Nacional de Cuyo (1949–1957), graças à influência de Julio Rey Pastor. Foi convidado depois a criar um Instituto de Matemática na Universidad del Sur, onde leccionou de 1957 a 1975.

Após o 25 de Abril, regressou a Portugal por dois anos, como investigador do Instituto Nacional de Investigação Científica. Regressou depois à Argentina.

Em abril de 1979 recebeu o Prémio Gulbenkian de Ciência e Tecnologia (1978) pelo seu trabalho Algèbres de Heyting symétriques.[4]

António Aniceto Monteiro morreu a 29 de outubro de 1980, em Bahía Blanca, na Argentina.

Em 2000 foi feito, a título póstumo, Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, a 2 de outubro.[5]

Bibliografia editar

  • Augusto J. S. Fitas e António A. P. Videira, Cartas entre Guido Beck e cientistas portugueses, Instituto Piaget, 2004
  • Ruy Luís Gomes e Luís Neves Real, «António Aniceto Monteiro e o C.E.M. do Porto (1941/1944)», Portugaliæ Mathematica 39(1–4), IX–XIV (1980)
  • A. Pereira Gomes, «O regresso de António Monteiro a Portugal de 1977 a 1979», Portugaliæ Mathematica 39(1–4), XXXIII–XLI (1980)
  • Leopoldo Nachbin, «The influence of António A. Ribeiro Monteiro in the development of Mathematics in Brazil», Portugaliæ Mathematica 39(1–4), XV–XVII (1980)
  • Eduardo L. Ortiz, «Professor António Monteiro and contemporary mathematics in Argentina», Portugaliæ Mathematica 39(1–4), XIX–XXXII (1980)
  • Jorge Rezende, Luiz Monteiro, Elsa Amaral (coordenadores), António Aniceto Monteiro: Uma fotobiografia a várias vozes, Sociedade Portuguesa de Matemática, 2007
  • Hugo Ribeiro, «Actuação de António Aniceto Monteiro em Lisboa entre 1939 e 1942», Portugaliæ Mathematica 39(1–4), V–VII (1980)
  • Luís Saraiva (ed.), António Aniceto Monteiro (1907–1980), Número especial do Boletim da Sociedade Portuguesa da Matemática, 2008.

Referências

  1. António Aniceto Monteiro (em inglês) no Mathematics Genealogy Project
  2. O primeiro número só saiu em 1940.
  3. Buescu, Jorge (2012). Matemática em Portugal. Uma Questão de Educação 1ª ed. [S.l.]: Relógio D'Água. p. 18. ISBN 9789898424532 
  4. Redacção (9 de Abril de 1979). «Prémio Gulbenkian de Ciência e Tecnologia». Diário de Lisboa (via Casa Comum). p. 5. Consultado em 15 de janeiro de 2019 
  5. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "António Aniceto Ribeiro Monteiro". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 14 de janeiro de 2019 

Ligações externas editar