António Machado Pires

professor universitário, ensaísta e escritor português

António Manuel Bettencourt Machado Pires (Angra do Heroísmo, 17 de novembro de 1942Ponta Delgada, 9 de junho de 2022),[1] foi um professor universitário, ensaísta e escritor. Teve papel de grande relevo no estudo e divulgação da obra de Vitorino Nemésio. Entre outros cargos, foi vice-reitor e reitor da Universidade dos Açores.[2]

António Machado Pires
Nascimento 17 de novembro de 1942
Angra do Heroísmo
Morte 9 de junho de 2022 (79 anos)
Ponta Delgada
Cidadania Portugal
Alma mater
Ocupação professor universitário, escritor, ensaísta

Biografia editar

Nasceu na freguesia da Sé da cidade de Angra do Heroismo, filho de Teotónio Machado Pires, um advogado e político. Concluídos os estudos secundários na sua cidade natal, em 1966 licenciou-se em Filologia Românica pela Universidade de Lisboa, apresentando uma dissertação de licenciatura sobre a linguagem, adagiário, literatura popular e culta ligadas ao mundo agro-pecuário da ilha Terceira,[3] sugerida e orientada por Vitorino Nemésio.[2]

Iniciou a sua carreira docente como assistente na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1966, inicialmente a convite de Delfim Santos, que entretanto faleceu, e depois como colaborador de Vitorino Nemésio, Luís Filipe Lindley Cintra, Jacinto do Prado Coelho e David Mourão-Ferreira. Neste período colaborou no ensino de diversas disciplinas das áreas da história da cultura e da literatura em Portugal.[2]

Com a criação da Universidade dos Açores passou a colaborar com a nóvel instituição, na qual em 1979 concluiu o doutoramento em Literatura Portuguesa, apresentando uma dissertação sobre a ideia de decadência na Geração de 70,[4] assumindo de imediato funções de professor da instituição no seu campus de Ponta Delgada. Em 1982 concluiu a agregação, na mesma Universidade, com uma lição sobre Raul Brandão e Vitorino Nemésio e um relatório sobre o conflito de geração no século XIX em Portugal.

Na Universidade dos Açores, a par de disciplinas das áreas da língua e cultura portuguesas, também se encarregou de outras, nomeadamente nos campos da sociedade e a cultura, as técnicas de expressão do Português e dos estudos linguísticos. Integrou júris de provas académicas e orientou numerosas dissertações de mestrado e de doutoramento.[2]

Professor catedrático da Universidade dos Açores, fundou e dirigiu o departamento de Línguas e Literaturas Modernas da instituição. Depois de ter sido vive-reitor, exerceu as funções de reitor entre dezembro de 1982 e julho de 1995. Como reitor contribuiu para a expansão da Universidade e para a credibilizar no contexto do sistema português de ensino superior. Sob a sua direcção, a Universidade dos Açores reforçou a sua rede de contactos internacionais, nomeadamente com universidades brasileiras e norte-americanas. Com o objetivo de recuperar a memória da emigração açoriana para o Brasil, partindo de um convite da Universidade Federal de Santa Catarina, a Universidade dos Açores veio a assinar, em 1984, um convénio que tem contribuído para o estreitamento de relações entres os dois estabelecimentos de ensino.[2]

Como ensaísta e investigador, conduziu conferências e seminários e participou em múltiplas reuniões científicas, frequentemente colaborando na sua organização. É autor de uma longa lista de publicações em livro, de prefácios e introduções, de artigos, comunicações e recensões em revistas nacionais e estrangeiras. Considerado um dos grandes especialistas na na obra de Vitorino Nemésio, foi determinante na fundação e divulgação do Seminário Internacional de Estudos Nemesianos que tem por objectivos divulgar e aprofundar a obra de Vitorino Nemésio.[2] Este seminário, fundado em 1996 com Fernando Cristóvão, realiza-se na Universidade dos Açores, em Ponta Delgada.

Como ensaísta, produziu vários estudos sobre a obra de um conjunto de autores, entre os quais Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Antero de Quental, Raul Brandão e Vitorino Nemésio, bem como a Geração de 70. São igualmente numerosos os escritos que publicou sobre a literatura portuguesa finissecular. Foi um dos colaboradores da Enciclopédia Açoriana.

Aposentou-se em 2006. Foi agraciado ecom o grau de grande oficial da Ordem da Instrução Pública em 1988. Também recebeu a medalha dos 25 anos da Universidade Federal de Santa Catarina. Em 2016, sob a coordenação de Maria do Céu Fraga, Maria Madalena M. C. Teixeira da Silva e Gabriela Funk, foi publicada a obra Da Literatura e da Cultura, como tributo ao Professor Doutor António Machado Pires.[2]

Obras publicadas editar

Dos trabalhos publicados salientam-se os seguintes:[2]

  • A Pastorícia dos bovinos na ilha Terceira. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. 29-33 ((1971-1975), pp. 231-398;
  • Bibliografia do Prof. Doutor Vitorino Nemésio. In Miscelânea de estudos em honra do Professor Vitorino Nemésio««, Lisboa, Faculdade de Letras: XLIII-LXVIII (1971);.
  • Uma carta inédita sobre a acção de 11 de Agosto de 1829 na Vila da Praia. In Miscelânea de estudos em honra do Professor Vitorino Nemésio. Lisboa, Faculdade de Letras: 327-333, 1971.
  • O Século XIX em Portugal : cronologia e quadro de gerações. Amadora, Livraria Bertrand, 1975.
  • Marcas de insularidade no Mau Tempo no Canal de Vitorino Nemésio. Arquipélago, (Ciências Humanas), 1(1979): 79-90;
  • Nemésio e os Açores. Colóquio-Letras, 48 (1979), Março: 5-15;
  • Emigração e cultura. In Anais do Congresso de Comunidades Açorianas, Angra do Heroísmo, Agosto de 1978, pp. 101-108. Angra do Heroísmo, Comissão preparatória do I Congresso de Comunidades Açorianas, 1979;
  • Vitorino Nemésio Professor. In Linguagem, Linguagens e Ensino, pp. 27-34. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1981;
  • Açores: une quête de la condition insulaire. Le Monde, 19 de junho de 1981;
  • Emigração, cultura e modo de ser açoriano. Revista Lusitana, (nova série), I (1981), pp. 7-18;
  • Os Açores, a Terceira e o liberalismo. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XL (1982), pp. 359-374;
  • Para a discussão de um conceito de literatura açoriana. Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, XLI (1983), pp. 742-858;
  • Língua e criação literária em Vitorino Nemésio. Actas do Congresso «A Situação da Língua Portuguesa no Mundo», pp. 465-475, Lisboa, Instituto de Cultura e Língua Portuguesa, 1985.
  • A identidade da cultura açoriana. Arquipélago, (Línguas e literaturas), 9 (1987), pp. 155-166;
  • Raúl Brandão e Vitorino Nemésio. Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988;
  • Antero romântico. Revista de História das Ideias, Coimbra, Edição Comemorativa do Centenário da Morte de Antero, pp. 165-177. Coimbra, 1992;
  • Antero e a olímpica exemplaridade de uma geração. In Actas do Congresso Anteriano Internacional, pp. 529-537. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1993;
  • The Third International Symposium on the Role of Universities in Developing Areas. In Higher Education Policy, 8 (1995), 2: 11 e 12
  • Autonomia e açorianidade. Actas do Congresso do Centenário da Autonomia, vol. I, pp. 11-16. Ponta Delgada, Jornal de Cultura, 1995;
  • Universidade, Humanismo e Tecnologia. Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1995.
  • Vitorino Nemésio, rouxinol e mocho. Praia da Vitória, Câmara Municipal da Praia da Vitória, 1998 [inicialmente em Insulana (Revista do Instituto Cultural de Ponta Delgada), 1995: pp. 23-38];
  • Raúl Brandão. Lisboa, Imprensa Nacional, col. «O Essencial», 1999;
  • Luz e Sombras no Século XIX em Portugal (2006, obra vencedora do prémio PENCLUB – Ensaio);
  • Vitorino Nemésio, Rouxinol e Mocho (1998; com nova edição revista em 2009);
  • Memórias e Reflexões (2015);
  • A Sedução da Filologia (2020);

Referências editar

Ligações externas editar