O Apolo de Cirene é uma estátua de mármore representando o deus grego Apolo. Ela integra a grande família escultórica do Apolo Citaredo, um protótipo criado na Grécia Antiga durante o período clássico, onde o deus porta uma lira ou cítara, um atributo que alude ao seu papel de deus da música e patrono das Musas.[1][2]

O Apolo de Cirene

O protótipo foi especialmente cultivado durante o período helenístico, pois sua postura assimétrica possibilitava a exploração de diferentes efeitos plásticos do corpo e das tensões entre repouso e movimento. O Apolo de Cirene foi modelado em contrapposto, acentuando seu dinamismo.[2] A obra é uma cópia romana do século II a.C. de um original helenístico, criado por um autor desconhecido,[3] a partir de uma combinação de elementos do famoso Apolo Liceu de Praxíteles e de uma variante sua, o Apolo Citaredo de Timárquides.[2][4]

A estátua mede 2,28 metros de altura e foi encontrada em janeiro de 1861 na área do Templo de Apolo da cidade de Cirene, na Líbia, pelo arqueólogo escocês tenente Sir Robert Murdoch Smith e o comandante Edwin Porcher, partida em 121 fragmentos, ao lado de um pedestal onde originalmente fora instalada. Oferecida ao Museu Britânico, a estátua foi recomposta mas não completamente restaurada de imediato.[1] Mais tarde recebeu tratamentos de conservação e preenchimento de lacunas. O braço direito e a mão esquerda, que não foram encontrados, não foram recriados.[3] Aparentemente a estátua foi destruída quando o Templo de Apolo foi incendiado, durante a Revolta Judaica de 115-116 d.C. Uma cópia completa se encontra no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles.[5]

O autor deste Apolo deve ter sido um mestre altamente qualificado, considerando o fino acabamento da superfície e a desenvoltura da figura. A cabeça é ornamentada por uma basta cabeleira, presa na nuca e recaindo em cachos movimentados. O torso está nu frontalmente, e as pernas cobertas por um manto, que cobre também seu dorso e recai sobre o ombro esquerdo. Foi esculpido quase integralmente em um único bloco de mármore, salvo o braço direito e o punho esquerdo. O braço direito deveria repousar sobre a cabeça do deus, uma postura que convencionalmente indicava se encontrar em um estado de inspiração divina. À sua esquerda uma cítara é apoiada sobre um tronco de árvore, no qual se enrola uma serpente, e do qual pende um arcaz de flechas.[1]

O Apolo de Cirene foi copiado várias vezes na Antiguidade,[6] mas recebeu pouca atenção crítica depois de sua redescoberta até o início do século XX, pois então a arte helenística era tida como uma degeneração dos princípios do prestigiado classicismo,[7] embora em 1907 fosse reconhecido em uma resenha do periódico The Classical Review da Universidade de Cambridge como uma das melhores cópias conhecidas de importantes originais gregos.[8] Segundo Peter Higgs, hoje é uma das obras mais notáveis da seção de antiguidades do Museu Britânico.[1]

Ver também editar

Referências

  1. a b c d Higgs, Peter. "The Cyrene Apollo". In: History Today, 1994; 44 (11): 50–54
  2. a b c The J. Paul Getty Museum. Statuette of Apollo.
  3. a b The British Museum. Statue.
  4. Catling, H. W. & Waywell, G. B. "A Find of Roman Marble Statuettes at Knossos". In: The Annual of the British School at Athens, 1977; 72: 85-106
  5. Nafziger, James A.R. & Nicgor, Ann M. Cultural Heritage Issues: The Legacy of Conquest, Colonization and Commerce. Brill, 2009, p. 174
  6. Compatangelo-Soussignan, Rita. Apollo, god of victory: from the Second Punic War to the conquest of Cisalpine Gaul. Le Mans Université.
  7. Lethaby, W. R. "The Venus de Milo and the Apollo of Cyrene". In: The Journal of Hellenic Studies, 1919; 39: 206-208
  8. E. S. "Ancient Sculpture and Painting". In: The Classical Review, 1907; 21 (5): 145-148