Apostolepis assimilis

Apostolepis assimilis, popularmente conhecida como falsa-coral. É uma serpente encontrada na América do Sul, sendo que no Brasil ela é bastante comum na Mata Atlântica e no Cerrado. Ela não oferece perigo para seres humanos, pois é desprovida de presas aptas a inocular peçonha, exatamente por isso alimenta-se de invertebrados e pequenos répteis. Apresenta coloração parecida com a coral verdadeira, assim como as espécies Erythrolamprus aesculapii, Lampropeltis triangulum, Oxyrhopus guibei, Oxyrhopus trigeminus, etc.

Como ler uma infocaixa de taxonomiaFalsa-coral

Estado de conservação
Espécie pouco preocupante
Pouco preocupante (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Reptilia
Ordem: Squamata
Família: Colubridae
Subfamília: Dipsadinae
Género: Apostolepis
Espécie: A. assimilis
Nome binomial
Apostolepis assimilis
(Reinhardt, 1861)
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Taxonomia editar

Apostolepis é reconhecido como um dos grupos taxonomicamente mais problemáticos de Dipsadidae, principalmente por causa de descrições de espécies com informações insuficientes, por vezes baseadas em variações intraespecíficas e em indivíduos anômalos. Mais de 50 táxons nominais são relacionados a Apostolepis, dos quais 21 foram descritos nos últimos 30 anos e 35 baseados apenas no holótipo; vários já sinonimizados a espécies descritas anteriormente. Por causa dos hábitos de vida as espécies do gênero não são abundantemente encontradas, fazendo com que muitas espécies ainda sejam minimamente conhecidas e outras conhecidas apenas pelo holótipo. Combinando todos esses fatores, foram gerados muitos equívocos na identificação das espécies, contribuindo para uma sucessão massiva de controvérsias taxonômicas e resultando no insatisfatório entendimento da evolução, ecologia e história natural das espécies do grupo.[2]

Evolução editar

Uma suposição filogenética atual é de que a proeminência rostral evoluiu independentemente em várias linhagens da antiga classificação no gênero Elapomorphini. No entanto, ainda é necessário um melhor entendimento das relações filogenéticas, além de informações detalhadas sobre morfometria e ecologia (incluindo descrições detalhadas do uso de microhabitat) para interpretações confiáveis do possível significado filogenético e valor adaptativo de uma escala rostral aumentada nos grupos Phalotris e Apostolepis.[3]

Distribuição editar

Sua distribuição se dá nos cerrados brasileiros e também na mata atlântica, sendo suas principais localidades: Goiás, Minas Gerais e Mato grosso. Também há ocorrência na América Latina como Argentina e Paraguai. É encontrada no Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e no Sul brasileiro em localidades também como Bahia, São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Esta espécie é típica do domínio morfoclimático Cerrado, ocorrendo também em áreas florestais próximas.

Uso de hábitat editar

Apresenta hábitos fossoriais ou subterrâneos, possui maior atividade no período noturno. É um habitante de áreas de vegetação aberta da Mata Atlântica e do Cerrado, também considerada uma espécie urbana (Pereira et al., 2004). Esta espécie foi encontrada a 170 metros do nível do mar, em Cuiabá, Mato Grosso e no máximo a 1610 metros do nível do mar em Campos do Jordão, SP (Bérnils, 2009[4]). Na Caatinga, habita gramas e herbáceas em solos arenosos ou matas fechadas. Se alimenta de vertebrados alongados (Ferrarezzi et al., 2005[3], Marques et al. 2015).

Descrição editar

Espécies de tamanho pequeno, escudos internos ausentes; corpo quase uniformemente vermelho, com cauda preta. Anel preto cervical com menos de 9 escamas de largura. Região mental e gular fortemente manchadas de preto.[5]

Morfológica editar

Mancha clara supralabial longa, trapezoidal, ocupando várias labiais. 4 infralabiais contatam as mentoneanas anteriores.[5]

Nasal separado do pré-ocular; quinta escala supralabial apenas em contato com o parietal; temporal 0 + 1; blindagem terminal apontada para uma borda acentuada; grande mancha interna cobrindo o focinho e atingindo o escudo frontal; colares nucho-cervicais brancos e pretos moderados a extremamente amplos e nitidamente evidentes; padrão dorsal uniformemente vermelho (sem nenhum traço de listras escuras); superfície ventral branca, exceto a região da garganta , que é pigmentada escura (com manchas pretas) e principalmente preta; blindagem terminal preta, indiferenciada da coloração da ponta da cauda. A glândula de Duvernoy desenvolveu-se moderadamente; glândula hardian bem desenvolvida, atingindo a região temporal, músculos adutores da mandíbula moderadamente desenvolvidos, atingindo a superfície dorsal do cérebro.

Rostral curto e arredondado, sem destaque; pouco visível de cima; ventrais 236-267 nos machos, 246-270 nas fêmeas; subcaudais 31-39 nos machos, 25-31 nas fêmeas, creme leve para manchas no focinho; mancha supralabial branca geralmente cobrindo pelo menos dois supralabiais; uma única cor nucal branca, de 2 a 3 escalas, é seguida por uma cor cervical preta 3-4, restrita dorsalmente.[6]

Comportamento editar

Em dezembro, um adulto foi visto às 07h30 movendo-se em uma área aberta. O registro ocorreu em Aiuruoca-MG, próximo ao Parque Estadual da Serra do Papagaio (Menezes, 2017[7]). Nenhum comportamento defensivo foi observado para esta espécie.

Ecologia editar

Dieta editar

A espécie caça pequenos anfíbios, serpentes escolecofidianas, anfisbenídeos e répteis fossoriais e outros vertebrados alongados  (Ferrarezzi, 1993[8]; Marques et al.[9]).

Reprodução editar

A espécie é ovípara. Barbo (2008) menciona duas fêmeas com quatro e seis folículos vitelogênicos, em novembro e março, de 12 e 30,9 mm, respectivamente.

Predação editar

Barbo et al. (2011) verificou a presença de Liotyphlops beui (Amaral, 1924) no estômago de dois indivíduos de A. assimilis.

Conservação editar

Até o momento, não há norma reguladora da conservação da espécie. Duas espécies do gênero são reguladas pela Portaria nº 293[10], de 9 de abril de 2018. A espécie é classificada como Pouco Preocupante ou Least Concern, em inglês (LC), pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade[11]. Espécies abundantes e amplamente distribuídas são incluídas nesta categoria.

Referências

  1. Nogueira, C. de C. (2021). «Apostolepis assimilis». Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. 2021: e.T167502525A167502976. Consultado em 17 de novembro de 2021 
  2. França, Daniella Pereira Fagundes de (23 de novembro de 2018). «Revisão taxonômica do gênero Apostolepis Cope, 1862 (Serpentes, Dipsadidae, Xenodontinae, Elapomorphini)» 
  3. a b Ferrarezzi, Hebert; Barbo, Fausto Erritto; Albuquerque, Cristina España (2005). «Phylogenetic relationships of a new species of Apostolepis from Brazilian Cerrado with notes on the assimilis group (Serpentes: Colubridae: Xenodontinae: Elapomorphini)». Papéis Avulsos de Zoologia (São Paulo). 45 (16). ISSN 0031-1049. doi:10.1590/s0031-10492005001600001 
  4. «Renato Bérnils - Citações do Google Acadêmico». scholar.google.com. Consultado em 4 de dezembro de 2019 
  5. a b Lema, Thales De; Renner, Márcia F. (2011). «A new species of Apostolepis (Serpentes, Colubridae, Elapomorphini), belonging to assimilis group, found in Brazilian Cerrado - DOI: dx.doi.org/10.15602/1983-9480/cmbs.v13n27p71-76». Ciência em Movimento. 13 (27): 71–76. ISSN 1983-9480. doi:10.15602/1983-9480/cmbs.v13n27p71-76 
  6. «Apostolepis assimilis». The Reptile Database. Consultado em 6 de dezembro de 2019 
  7. Menezes, Frederico de Alcântara (2017). «COMPOSIÇÃO E HISTÓRIA NATURAL DAS SERPENTES DO PARQUE ESTADUAL SERRA DO PAPAGAIO, SUL DE MINAS GERAIS, SERRA DA MANTIQUEIRA, BRASIL» (PDF). Universidade Federal de Viçosa 
  8. Cacciali, Pier; Carreira, Santiago; Scott, Norman (dezembro de 2007). «REDESCRIPTION OF PHALOTRIS NIGRILATUS FERRAREZZI, 1993 (SERPENTES: COLUBRIDAE: XENODONTINAE)». Herpetologica. 63 (4): 552–559. ISSN 0018-0831. doi:10.1655/0018-0831(2007)63[552:ropnfs]2.0.co;2 
  9. Marques, Otavio Augusto Vuolo; Pereira, Donizete Neves; Barbo, Fausto Erritto; Germano, Valdir José; Sawaya, Ricardo Jannini (junho de 2009). «Os répteis do município de São Paulo: diversidade e ecologia da fauna pretérita e atual». Biota Neotropica. 9 (2): 139–150. ISSN 1676-0603. doi:10.1590/s1676-06032009000200014 
  10. «PORTARIA Nº 293, DE 9 DE ABRIL DE 2018 - Imprensa Nacional». www.in.gov.br. Diário Oficial da União. Consultado em 5 de dezembro de 2019 
  11. «Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Répteis - Serpentes». www.icmbio.gov.br. Consultado em 5 de dezembro de 2019 

BARBO, Fausto Erritto. Composição, história natural, diversidade e distribuição das serpentes no município de São Paulo, SP. 2008. Tese de Doutorado. Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo, São Paulo. Disponível em: <https://teses.usp.br/teses/disponiveis/87/87131/tde-07012009-131725/publico/FaustoErrittoBarbo_Mestrado.pdf> Acesso em: 04 dez. 2019.

DE LEMA, Thales; RENNER, Márcia Ferret. Contribuição ao conhecimento taxonômico de Apostolepis flavotorquata (Serpentes, Elapomorphinae). Biociências (On-line), v. 13, n. 2, 2005. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fabio/article/viewFile/184/166> Acesso em: 04 dez. 2019.

FERRAREZZI, Hebert; RODRIGUES, Miguel Trefaut Urbano. Sistemática filogenética de Elapomorphus, Phalotris e Apostolepis (Serpentes: Colubridae: Xenodontinae). 1993. Disponível em: <https://repositorio.usp.br/item/000738488> Acesso em: 04 dez. 2019.

SÃO PEDRO, V. de A.; PIRES, M. R. S. As serpentes da região de Ouro Branco, extremo sul da Cadeia do Espinhaço, Minas Gerais. Revista Ceres, v. 56, p. 166-171, 2009. Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=305226730009>. Acesso em: 15 out. 2014.

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