Boris Souvarine (nascido Boris Konstantinovich Lifschitz e também chamado de Varine; 1895–1984) nascido na Rússia Imperial, socialista francês, ativista comunista, ensaísta, e jornalista.[1]

Boris Souvarine
Boris Souvarine
Nome completo Boris Konstantinovich Lifschitz
Nascimento 5 de novembro de 1895
Kiev (Ucrânia)
Morte 1 de novembro de 1984 (88 anos)
Paris (França)
Nacionalidade Francês
Ocupação Escritor e Político

Biografia editar

Primeiros Anos editar

Boris Souvarine nasceu em Kiev, Ucrânia no seio de uma família judia. A família Souvarine mudou-se para Paris em 1897. A família Lifschitz só adquire a nacionalidade francesa em 1906. Boris se tornou um ativista socialista desde os 14 anos. Naquela época, ele participava das reuniões de Jean Jaurès.[2]

Militância editar

Juntou-se a Seção Francesa da Internacional Operária (SFIO) pouco antes da Primeira Guerra Mundial.[1] Logo entrou em contato com a ala esquerda anti-militarista liderada por Jean Longuet, e começou a escrever para jornal Le Populaire, e depois para o Novaya Jizn de Maxim Gorky.[2] Embora inicialmente apoiasse a participação da França no conflito, logo se opõem à guerra. Na época da Revolução de Outubro, tornou-se bolchevique. Boris Souvarine se torna um dos principais ativistas do Comitê Comitê para a recuperação das relações internacionales junto com Alfred Rosmer, e publicou vários panfletos que são amplamente divulgados. Ele escreve, por exemplo, que " as forças socialista-comunistas devem se esforçar para criar uma democracia proletária, que vai remover classes, abolindo privilégios econômicos, e cujos órgãos são os soviéticos, isto é, conselhos de operários e camponeses, um novo tipo de organização do proletariado para se governar".[3] Este Comitê ira se transformar no Comitê da Terceira Internacional que reunirá os ativistas franceses que defendem o Comintern.[4]

Boris Souvarine foi preso em 17 maio de 1920 como parte de uma operação de estado para reconhecimento dos líderes revolucionários. Esta manobra não dá em nada, ele e seus co-réus (incluindo dois outros líderes do Comitê, Fernand Loriot e Pierre Monatte) serão libertados em março de 1921. Enquanto estava preso, escrevia incansavelmente para diversos jornais como: L'Humanité, La Vague, La Vie Ouvrière, além de elaborar o que ficou conhecido como Moção Souvarine à ser aprovada no Congresso de Tours da SFIO.[2]

Em dezembro de 1920, Loriot e Souvarine, mesmo presos são aclamados "presidentes honorários" do Congresso de Tours. Três quartos dos delegados aprovam a moção de Souvarine, a de criar a SFIC (Section Française de l'Internationale CommunisteSeção Francesa da Internacional Comunista). Durante o verão daquele ano, já tinha aceitado as 21 condições de adesão apresentadas por Vladimir Lenin. Os instigadores do movimento, a facção à esquerda, Boris Souvarine e Fernand Loriot e a facção mais moderada de Marcel Cachin e Ludovic Frossard, obtêm três quartos dos votos e aceitam desse modo alinhar sua política com a do Cominter. Marcel Sembat, Léon Blum e Albert Thomas, no entanto, recusam-se a ceder. Eis a razão por quê a SFIO se cinde entre uma maioria comunista e a minoria restante, que daria seguimento ao Partido Socialista - SFIO.[5]

Souvarine chega à Rússia em junho de 1921 como delegado para o Terceiro Congresso da Internacional Comunista. Ele ficou conhecido por seu anti-conformismo, visitando anarquistas na prisão, querendo discutir teses da Oposição Operária - teses cuja distribuição foi proibida pela maioria do Congresso.[2]

Boris Souvarine foi posteriormente um dos membros fundadores e principais porta-vozes do Partido Comunista Francês (PCF), e seu representante no Comitê Executivo do Comintern.[1] Nessa função, tinha contato regular com Leon Trotsky.

Final de 1923 e início de 1924, ante as manobras da direção do partido russo - o começo do que se tornou o stalinismo - principalmente quando Trotsky tornou-se alvo de difamação no Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Souvarine transmitiu o apoio do PCF a Trotsky no XIII Congresso do PCUS em 1924.[1] Ligou-se a oposição contra as posições de Stalin. Este pensamento crítico, e o fato dele se recusar a se limitar em suas declarações à mídia, o classificaram rapidamente como dissidente - resultado de uma visão política militar da burocracia russa.[2]

O seu questionamento do regime é muito progressista, em 06 de fevereiro de 1924 Souvarine escreveu a Zinoviev: "Há muitos fatos que eu acho desagradáveis no Partido, na vida russa e soviética em geral". Em 4 de abril em uma reunião da Federação do Sena do PC-SFIC, ele faz sua análise franca:" Há algo de podre no Partido e no Internacional!".[6]

Mas Souvarine era um líder do Comintern, um dos pilares do Partido Francês, ele é reconhecido e apoiado por muitos ativistas de vários países. O 5º Congresso da Internacional Comunista, que foi iniciado em junho de 1924, transfere a "questão Souvarine" para uma comissão especial que, finalmente, é remetida para o Comitê Executivo do Comintern em julho de 1924 que dá o veredito: que é a exclusão, com a possibilidade de pedido de sua re-adesão - isto é se Souvarine, abdicar a sua crítica, como obviamente isso não acontece, Souvarine não é reintegrado.[2]

Souvarine, comunista anti-estalinista editar

Boris Souvarine foi removido de seus cargos oficiais dentro do PCF em 1924, e logo mais expulso do Comintern em julho. Depois da expulsão de Souvarine, novas renúncias e exclusões privaram rapidamente o PC do resto de sua ala esquerda.[2]

Presente na Rússia no momento da exclusão (que fica sabendo ao ler o Pravda em 13 de julho), permanecendo por mais alguns meses, deixando o país em janeiro de 1925, na sequência de ameaças à sua liberdade.

Nos anos seguintes, Souvarine é empregado por David Riazanov como correspondente na França, do Instituto Marx-Engels. Seu serviço era comprar livros raros e arquivos de vários movimentos socialistas e comunistas. Foi dessa forma que Souvarine adquiriu de manuscritos de Babeuf. Esse apego aos arquivos do movimento operário é uma constante na vida de Souvarine.[2]

A partir daí, Boris Souvarine organiza grupos anti-stalinistas em Paris (se aproximando de militantes como Marcel Body, Christian Rakovsky e o escritor Panait Istrati).[7] Em outubro de 1925, Souvarine relançou o Boletim Comunista e em fevereiro de 1926, organizou os seus seguidores no Círculo Comunista Marx-Lenin.[2]

No final da década de 1920, Boris Souvarine permaneceu ativo na Oposição Unificada, próximo a Pierre Monatte e Alfred Rosmer, escrevendo para La Révolution Prolétarienne. Ele compartilhava algumas posições com o Oposição de Esquerda, bem como da Oposição de Direita, mas se recusou a participar de sua conferência internacional chamada por Heinrich Brandler e August Thalheimer em Berlim, em 1930. O Círculo Comunista Marx-Lenin foi rebatizado o Círculo Democrático Comunista ( Cercle Communiste Démocratique) ; e o Boletim Comunista mantido. Nesta época Boris Souvarine lançou La Critique Sociale.[8] Sua ruptura com Trotsky ia se tornando crescente e se solidificou em sua análise, em junho de 1929, que designava o regime da União Soviética como capitalismo de estado, enquanto que Trotsky designava como um estado operário degenerado.[1][2]

Em 1935, Boris Souvarine criou o Institut d'Histoire Sociale (Instituto de História Social),[9] um ramo francês do Instituto Internacional para a História Social de Amsterdã originalmente criado para preservar os arquivos do Partido Social-Democrata Alemão. O presidente era Alexandre-Marie Desrousseaux, o diretor Boris Nicolaievski, e Boris Souvarine foi o secretário-geral. Em novembro de 1936, ladrões roubaram os arquivos de Leon Trotsky que foram depositados no instituto. Em 1940, o instituto foi saqueado pelos nazistas, que trouxeram algumas das suas coleções para a Alemanha.

Em 1936, Boris Souvarine incentivou o escritor recém-exilado Victor Serge a continuar a atividade política. Neste período, Trotsky criticou duramente as características pessoais de Souvarine, afirmando que Souvarine era mais um jornalista do que um revolucionário. Serge saiu em defesa de anti-estalinismo de Souvarine e de outros que romperam com as posições de Trotsky e este foi um dos fatores que levaram à desconfiança entre Serge e Trotsky.

Depois de Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria, Boris Souvarine foi se movendo para o campo reformista adotando cada vez mais posições anti-soviéticas. Após seu regresso à França, em 1948, e com a ajuda de Jacques Chevallier, ele recriou o Institut d'Histoire Sociale. O instituto publicou a revista Le Contrat Social.

Boris Souvarine estava envolvido em uma variedade de organizações e revistas da esquerda anti-stalinista na França, publicando com freqüência matérias sobre a União Soviética, Joseph Stalin, e o estalinismo. Ele também criticou Lenin. Suas críticas ao estalinismo foram importantes fontes para alguns trotskistas menos ortodoxos, tais como C. L. R. James, que traduziu seu livro Stalin para o inglês.

Morte e legado editar

Em 1976, um declínio na saúde o forçou a abandonar a sua posição no Institut d'Histoire Sociale. Ele morreu em Paris.

Referências

  1. a b c d e International Institute of Social History. «Boris Souvarine Papers» (em inglês). Consultado em 30 de julho de 2012 
  2. a b c d e f g h i j Critique Sociale. «Les Vies de Boris Souvarine» (em francês). 2008. Consultado em 30 de julho de 2012 
  3. Boris Souvarine, A Terceira Internacional , Editora Claridade, 1919, p. 29-30
  4. Lenin. «An Open Letter to Boris Souvarine» (em inglês). Consultado em 30 de julho de 2012 
  5. Max Altman. «1920 - Nasce o Partido Comunista Francês». Consultado em 30 de julho de 2012 
  6. Citado por Jean-Louis Panné, Boris Souvarine, Laffont, 1993, pp. 137 e 142
  7. Stelian Tanase. «The Renegade Istrati» (em inglês). Consultado em 30 de julho de 2012 
  8. Boris Souvarine. «Anniversaire et actualité» (em francês). Consultado em 30 de julho de 2012 
  9. «Présentation - Institut d'Histoire Sociale» (em francês). Consultado em 30 de julho de 2012