Taxonomia dos Gastrópodes (Bouchet & Rocroi, 2005)

(Redirecionado de Bouchet & Rocroi, 2005)

Bouchet & Rocroi, 2005 é atualmente o principal sistema de classificação de gastrópodes utilizado por especialistas. Este sistema taxonômico foi apresentado em um artigo chamado "Classificação e Nomenclatura de Famílias de Gastrópodes" (em inglês: "Classification and Nomenclator of Gastropod Families"), publicado no jornal Malacologia em 2005[1] escrito em colaboração com J. Frýda, B. Hausdorf, W. Ponder, Á. Valdés e A. Warén.

Esta classificação suplantou a taxonomia elaborada por Ponder & Lindberg, 1997, sendo atualmente considerada a mais próxima de representar a história evolutiva do filo Mollusca em sua totalidade, apesar do fato de que alguns malacologistas ainda estão sendo obrigados a utilizar uma classificação híbrida entre a taxonomia tradicional de Lineu e os trabalhos e revisões mais recentes baseados em pesquisa molecular.

No passado, a taxonomia de gastrópodes era grandemente baseada nas características morfológicas dos taxa (ou táxons), mas avanços recentes têm se embasado mais em sequências de DNA e RNA. Isso tornou a classificação e hierarquia taxonômica tradicionais um tanto controversas, e os debates sobre o assunto devem alongar-se por mais algum tempo.

A classificação proposta por Bouchet e Rocroi pretende reconciliar os avanços nas pesquisas recentes incluindo clados não-classificados para os taxa acima do nível de superfamília (substituindo os níveis subordem, ordem, superordem e subclasse), enquanto permanece utilizando a taxonomia tradicional para os taxa abaixo de superfamília. Assim, 611 famílias são reconhecidas como válidas. Destas, 202 são exclusivamente fósseis, indicadas abaixo com o símbolo †.

Onde quer que a monofilia não tenha sido ainda testada, ou onde um táxon tradicional de gastrópodes tenha sido mudado para parafilético ou polifilético, o termo "grupo" ou "grupo informal" é utilizado.

A classificação de famílias em subfamílias é frequentemente confusa e ainda não foi totalmente sistematizada; deve, pois, seguir a melhor hipótese possível.

A publicação Bouchet & Rocroi (2005)[1] também inclui uma nomenclatura de aproximadamente 2400 taxa supragenéricos de gastrópodes, indo de subtribo até superfamília. Uma referência bibliográfica completa é providenciada para cada táxon; esta inclui nome do(s) autor(es), a publicação original, data de publicação, gênero típico (ou seja, o gênero que deu nome ao táxon), status do táxon e reconhecimento do mesmo sob as regras do Código Internacional de Nomenclatura Zoológica (ICZN, da sigla em inglês).

Clados principais, grupos e grupos informais

editar

Taxonomia em fomato de cladograma:


† Moluscos paleozóicos incertae sedis

† Táxons basais incertae sedis

Patellogastropoda

Vetigastropoda

Cocculiniformia

Neritimorpha

† Neritimorpha paleozóicos incertae sedis

Cyrtoneritimorpha

Cycloneritimorpha

  Caenogastropoda 

Caenogastropoda incertae sedis

Architaenioglossa

Sorbeoconcha

  Hypsogastropoda 

Littorinimorpha

Ptenoglossa

Neogastropoda

Heterobranchia

Lower Heterobranchia

  Opisthobranchia 

Cephalaspidea

Thecosomata

Gymnosomata

Aplysiomorpha

Acochlidiacea

Sacoglossa

Cylindrobullida

Umbraculida

  Nudipleura 

Pleurobranchomorpha

  Nudibranchia 

Euctenidiacea

  Dexiarchia 

Pseudoeuctenidiacea

  Cladobranchia 

Euarminida

Dendronotida

Aeolidida

Pulmonata

Basommatophora

  Eupulmonata 

Systellommatophora

  Stylommatophora 

Elasmognatha

Orthurethra

Sigmurethra

O formato em lista utilizado abaixo deixa claro quais taxa são denominados "grupos" e quais são "grupos informais":

Taxonomia

editar

Na seguinte lista, mais detalhada, os taxa de superfamília e família constam como "sub-seções". Os nomes de clados têm sua hierarquia indicada pelo tamanho da letra utilizada em seus nomes. Para uma melhor visualização de sua hierarquia, veja a lista acima.

Moluscos do Paleozóico com posição sistemática incerta

editar

(existem apenas como fósseis)

Posição incerta (Gastropoda ou Monoplacophora)

editar

Conchas com rotação isotrófica de posição incerta (Gastropoda ou Monoplacophora)

editar

Conchas com rotação anisotrófica de posição incerta (Gastropoda?)

editar

Taxa basais que certamente pertencem a Gastropoda

editar

(existem apenas como fósseis)

Clado Neritimorpha (= Neritopsina)

editar

Contém os Neritimorpha de posição incerta do Paleozóico e os clados Cyrtoneritimorpha e Cycloneritimorpha

Contém os Caenogastropoda de posição sistemática incerta, o grupo informal Architaenioglossa e os clados Sorbeoconcha e Hypsogastropoda

Contém os clados Littorinimorpha, Neogastropoda e o grupo informal Ptenoglossa.

Grupo informal Ptenoglossa

editar

Contém os grupos informais Heterobranchia, Opisthobranchia e Pulmonata

Contém os clados Cephalaspidea, Thecosomata, Gymnosomata, Aplysiomorpha, Sacoglossa, Umbraculida, Nudipleura e os grupos Acochlidiacea e Cylindrobullida.

Contém os clados Euctinidiacea e Dexiarchia

  • não consignados a uma superfamília

Contém os subclados Gnathodoridacea e Doridacea

Contém os clados Pseudoeuctenidiacea e Cladobranchia

Clado Pseudoeuctenidiacea ( = Doridoxida)
editar
Clado Cladobranchia ( = Cladohepatica)
editar

Contém os subclados Euarminida, Dendronotida e Aeolidida

Grupo informal Pulmonata

editar

Contém o grupo informal Basommatophora e o clado Eupulmonata

Grupo informal Basommatophora

editar

Contém o clado Hygrophila

Contém os clados Systellommatophora and Stylommatophora

Contém os subclados Elasmognatha, Orthurethra e o grupo informal Sigmurethra

Grupo informal Sigmurethra
editar

Duas superfamílias pertencem ao clado Sigmurethra, mas não figuram no clado limacóide.

Mudanças desde 2005

editar

Mudanças taxonômicas:

  • Foi organizada a taxonomia de Helcionelloida de acordo com P. Yu. Parkhaev (2006-2007)[2].[3] Os membros deste táxon figuravam entre os "Moluscos do Paleozóico com posição sistemática incerta" de Bouchet & Rocroi sob outro nome.
  • A família Provannidae foi transferida para a superfamília Abyssochrysoidea Tomlin, 1927.[4]
  • Uma nova Família foi criada: Hokkaidoconchidae Kaim, Jenkins & Warén, 2008[4][5]
  • Nakano & Ozawa (2007)[6] efetuaram muitas mudanças em Patellogastropoda baseados em pesquisa filogenética molecular: Acmaeidae tornou-se sinônimo de Lottiidae; Pectinodontinae foi elevada para a família Pectinodontidae; uma nova família, Eoacmaeidae, contendo um novo gênero típico, Eoacmaea, foi criada.[6]
  • Geiger (2009)[7] elevou Depressizoninae para a família Depressizonidae.
  • Três subfamílias: Larocheinae, Sutilizioninae e Temnocinclinae foram elevadas a famílias, respectivamente, Larocheidae, Sutilizionidae e Temnocinclidae.[7]
  • Trochoidea e Turbinidae são verificadas como polifiléticas em 2006[8] e Trochidae, Turbinidae e Trochoidea foram redefinidas em 2008.[9]

Propostas e pesquisa:

Baseados em sequências nucleotídicas de genoma mitocondrial, Grande, Templado & Zardoya (2008)[10] propuseram as seguintes mudanças:

  • Pulmonata é polifilética.
  • Euthyneura não é monofilética porque Pyramidelloidea também deveria ser incluída nela.
  • Opisthobranchia não é monofilética porque Siphonaria pectinata deve ser reconhecida como membro deste grupo.

Referências

editar

O conteúdo deste artigo foi traduzido com base em artigo equivalente na Wikipédia em inglês. As referências lá utilizadas foram:

  1. a b Bouchet P. & Rocroi J.-P. (Ed.); Frýda J., Hausdorf B., Ponder W., Valdés Á. & Warén A. 2005. Classification and nomenclator of gastropod families. Malacologia: International Journal of Malacology, 47(1-2). ConchBooks: Hackenheim, Germany. ISBN 3-925919-72-4. Issn = 0076-2997. 397 pp. http://www.vliz.be/Vmdcdata/imis2/ref.php?refid=78278
  2. Parkhaev, P. Y. (2006) "Adaptive radiation of the Cambrian helcionelloid mollusks (Gastropoda, Archaeobranchia). Arquivado em 10 de junho de 2015, no Wayback Machine." In: S.V. Rozhnov (ed.) "Evolution of the biosphere and biodiversity. Towards the 70th anniversary of A. Y. Rozanov". 2006. Moscow, pp. 282-296.
  3. Parkhaev P. Yu. (2007). «The Cambrian 'basement' of gastropod evolution». Geological Society, London, Special Publications. 286: 415–421. doi:10.1144/SP286.31 
  4. a b Kaim, A., Jenkins, R.G., and Warén, A. 2008. Provannid and provannid−like gastropods from Late Cretaceous cold seeps of Hokkaido (Japan) and the fossil record of the Provannidae (Gastropoda: Abyssochrysoidea). Zoological Journal of the Linnean Society 154: 421–436.
  5. Kiel, S., Campbell, K.A., Elder, W.P., and Little, C.T.S. 2008. Jurassic and Cretaceous gastropods from hydrocarbon seeps in forearc basin and accretionary prism settings, California. Acta Palaeontologica Polonica 53 (4): 679–703.
  6. a b Nakano T. & Ozawa T. (2007). "Worldwide phylogeography of limpets of the order Patellogastropoda: Molecular, morphological and palaeontological evidence". Journal of Molluscan Studies 73(1) 79-99. doi:10.1093/mollus/eym001.
  7. a b Geiger D. L.(8 maio 2009) "A new species of Depressizona and the family rank of Depressizonidae". Zootaxa 2059: 57-59. abstract, artigo completo.
  8. Williams S. T. & Ozawa T. (abril 2006) "Molecular phylogeny suggests polyphyly of both the turban shells (family Turbinidae) and the superfamily Trochoidea (Mollusca: Vetigastropoda)". Molecular Phylogenetics and Evolution 39(1): 33-51. doi:10.1016/j.ympev.2005.12.017
  9. Williams S. T., Karube S. & Ozawa T. (setembro 2008) "Molecular systematics of Vetigastropoda: Trochidae, Turbinidae and Trochoidea redefined". Zoologica Scripta 37(5): 483-506. doi:10.1111/j.1463-6409.2008.00341.x
  10. Grande C., Templado J. & Zardoya R. 2008. Evolution of gastropod mitochondrial genome arrangements. BMC Evolutionary Biology, 2008, 8:61. doi:10.1186/1471-2148-8-61

Bibliografia

editar
  • Klussmann-Kolb A., Dinapoli A., Kuhn K., Streit B. & Albrecht C. (25 February) 2008. From sea to land and beyond – New insights into the evolution of euthyneuran Gastropoda (Mollusca). BMC Evolutionary Biology 2008, 8:57. doi:10.1186/1471-2148-8-57
  • Cunha R. L., Grande C. & Zardoya R. (23 August) 2009. Neogastropod phylogenetic relationships based on entire mitochondrial genomes. BMC Evolutionary Biology, 2009, 9:210. doi:10.1186/1471-2148-9-210