Os caetés foram um povo indígena brasileiro de língua tupi antiga descendentes do grupo Tupinambá, que habitam o litoral do Brasil entre a ilha de Itamaracá e o rio São Francisco. No século XVI eram 75.000 indivíduos. A área que habitavam era limitada ao norte pelas terras dos potiguaras e, ao sul, pelas dos tupinambás. Aliaram-se aos comerciantes franceses que percorriam o litoral brasileiro no século XVI,[1] tornando-se, então, inimigos dos portugueses.[2] Os caetés, antes de serem exterminados, foram escravizados pelos portugueses e utilizados como mão de obra no plantio da cana-de-açúcar.

Caetés
População total

No século XVI, 75.000, extintos na atualidade.

Regiões com população significativa
Litoral do Brasil, entre a ilha de Itamaracá e o rio São Francisco
Línguas
tupi antigo
Religiões
Jurema sagrada
Etnia
Tupinambás

Etimologia editar

"Caeté" é originário do termo tupi antigo kaeté, que significa "mata verdadeira, mata virgem, que nunca foi roçada" (ka'a, mata + eté, verdadeira).[2]

Produção, hábitos e cultivos editar

Em liberdade, os caetés eram exímios pescadores e caçadores. Na pesca, utilizavam redes, anzóis e arpões feitos de ossos. Na caça, faziam uso de arcos, flechas, e arapucas, capturando pássaros e mamíferos. Consumiam peixes e carnes assados sobre brasa ou moqueados.

Eram navegadores de canoas costeiras, sendo considerados, portanto, um dos povos canoeiros, sendo, também, construtores desse tipo de embarcação. Teciam rede de dormir, entalhavam gamelas, e cabaças que usavam como prato e copos. Fabricavam cestas de palha de bananeiras e de palmeiras e também utensílios e panelas de barro.

Eram agricultores, cultivando milho, feijão, fumo e mandioca. Comiam também frutas e outras raízes como a batata e o inhame.

Antropofagia e genocídio editar

 
Ataque dos índios caetés à vila de Igarassu em Pernambuco, 1549. Gravura de Theodor de Bry no livro Duas Viagens ao Brasil de Hans Staden.

Os indígenas desta comunidade, praticavam a antropofagia ritual, e foram acusados de haverem consumido — de fato trucidaram, porém o consumo posterior é controverso — o primeiro bispo do Brasil, dom Pero Fernandes Sardinha, junto com o donatário do Siará Grande (Ceará) Antônio Cardoso de Barros, cujo navio em que regressava a Portugal naufragou nas costas da foz do rio Coruripe, no atual estado Alagoas, junto a outros cem náufragos. O evento ocorreu em 1556.[3]

Em sua época, o incidente provocou a ira da Igreja Católica e da Inquisição. Em 1562, depois de serem acusados de devorar o bispo, foram considerados "inimigos da civilização" e, com o aval da Igreja Católica, se tornaram alvos de implacável perseguição pelo governador português Mem de Sá, que determinou que fossem "escravizados todos, sem exceção".[4] Como conseqüência, os caetés foram exterminados.[1]

Pesquisas recentes colocam em dúvida se o bispo Pero Sardinha teria mesmo sido devorado pelos indígenas, já que os relatos são todos marcados pela intenção de condenar os caetés e torná-los sujeitos à escravização.[5]

O verdadeiro motivo da morte do primeiro bispo do Brasil poderia ter sido a vingança do governador-geral, Duarte da Costa, e de seu filho Álvaro da Costa, que poderiam ter tramado tal crime e incriminado os caetés.[carece de fontes?] Álvaro da Costa, homem violento, que usava da força para intimidar principalmente os indígenas, era conhecido por relacionar-se sexualmente com as indígenas de maneira forçada. Durante um de seus sermões, o bispo Sardinha teria condenado as ações de Álvaro da Costa, o que resultou no início de um conflito entre o bispo e o governador-geral.[6][7]

Legado editar

Em 2018, os botânicos brasileiros James L. Costa-Lima e Earl Celestino de Oliveira homenagearam os indígenas do povo dos caetés ao batizarem uma nova espécie de planta[8]. A espécie em questão foi nomeada Eugenia anthropophaga [9] e pertence à família das mirtáceas, a mesma família botânica à qual pertencem a goiabeira e pitangueira. O nome específico cunhado pelos autores, derivado do grego anthropos ("homem") e phagein ("comer"), faz referência às práticas antropofágicas pelas quais os caetés ficaram amplamente conhecidos. Esta espécie vegetal ocorre em áreas de Mata Atlântica na costa do estado de Alagoas, distribuição geográfica em parte similar à dos Caetés no passado.

Referências

  1. a b Os índios caetés: Primeiros habitantes de São Miguel dos Campos. Disponível em http://www.escritoresalagoanos.com.br/texto/2540. Acesso em 2 de setembro de 2012.
  2. a b NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 550.
  3. Farias, Airton de (2015). História do Ceará - 7ª Edição. Revisada e Ampliada. ed. Fortaleza: Armazém da Cultura. pp. ,23. ISBN 978-85-8492-004-4 
  4. BUENO, E. Brasil: uma história. Segunda edição revista. São Paulo. Ática. 2003. p. 18,19.
  5. «Bispo Sardinha e a antropofagia». Escola Kids. Consultado em 23 de novembro de 2019 
  6. PINTO, Tales. Bispo Sardinha e a antropofagia. São Paulo. 2005.
  7. https://www.algosobre.com.br/historia/primeiros-governadores-gerais-do-brasil-os.html
  8. Costa-Lima, J.L.; Chagas, E.C.O. (29 de outubro de 2018). «Six new species of Eugenia (Myrtaceae) from the Atlantic Forest of northeastern Brazil». Phytotaxa (em inglês). 373 (3): 211–220. ISSN 1179-3163. doi:10.11646/phytotaxa.373.3.4 
  9. «Figures 11-15 from: Cerretti P, Mei M, Whitmore D, Lo Giudice G (2013) A neotype designation for the bone-skipper Centrophlebomyia anthropophaga (Diptera, Piophilidae, Thyreophorina), with a review of the Palaearctic species of Centrophlebomyia. ZooKeys 310: 7-28. doi.org/10.3897/zookeys.310.4914». dx.doi.org. Consultado em 22 de agosto de 2022