Califórnia da Canção Nativa

A Califórnia da Canção Nativa é um evento artístico musical que ocorre no Rio Grande do Sul desde 1971, considerada patrimônio cultural do Estado, sendo modelo de divulgação da música regional gaúcha.[1]

Telmo de Lima Freitas, vencedor em 1979, com Esquilador

Ocorrendo durante o ano provas eliminatórias em diversas cidades gaúchas, e por fim, após a triagem de mais de 500 músicas,[2] as finais ocorrem na cidade de Uruguaiana, fronteira oeste do Rio Grande do Sul, onde, conforme o grau de vitórias, é concebido o prêmio máximo: a Calhandra de Ouro.

O Nome "Califórnia" editar

A palavra Califórnia já era conhecida no Rio Grande do Sul desde suas origens. Em meados do século XIX foram famosas as Califórnias do Chico Pedro. Foi Garci Rodríguez de Montalvo o criador da palavra, pelos anos 1500, quando escreveu a famosa novela Las sergas de Esplandián. Os eruditos ainda disputam sobre a etimologia da palavra, a Academia inclinada a propugnar como sendo derivado de Califa. Entre os gaúchos, o termo Califórnia evoluiu de conceito, significando a "carreira de que participam mais de dois parelheiros" (Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, de Zeno Cardoso Nunes e Rui Cardoso Nunes). Nessa acepção pode-se encontrar a seguinte passagem em Alcides Maia: "(...) Acabavam de correr uma califórnia: levava-a de pescoço um potrilho pangaré" (Alcides Maia, Ruínas Vivas, 1910). Como o festival de música gaúcha era também uma disputa entre melhores, e por ser as califórnias uma característica genuinamente gaúcha, por extensão, o festival ganhou esse epíteto.

História editar

O evento surgiu em 1971 em meio aos anos de chumbo, reunindo as mais diversas variações musicais nativas do Rio Grande do Sul organizada pelo CTG Sinuelo do Pago e prefeitura municipal, ambos de Uruguaiana. Inicialmente, sua primeira edição não teve tanta repercussão porém, algumas edições tiveram mais de 60 mil pessoas[3] e atualmente é o maior evento cultural regional do Brasil.

Conforme Cícero Galeno Lopes, em artigo publicado no livro RS índio: cartografia sobre a produção do conhecimento, Leopoldo Rassier pealou a censura ao cantar a música Tema de marcação, (poema de Luiz Coronel musicado por Marco Aurélio Vasconcellos), no festival de 1975, através de uma ambiguidade entre dois personagens históricos: o lunar de Sepé Tiaraju e a estrela de Che Guevara, já que ambos lutaram por liberdade, tinham "uma estrela na testa" e foram "pra baixo desse chão".[4] Além de Rassier (que compunha militância no Partido Comunista Brasileiro), diversos membros do Movimento Tradicionalista Gaúcho eram esquerdistas e compunham letras de crítica a Ditadura Militar Brasileira[5][6].

Composições vencedoras editar

 Ver artigo principal: Calhandra de Ouro

Referências

  1. Califórnia da Canção Nativa ganha status de patrimônio cultural do RS
  2. Cachoeira vence na Califórnia da Canção Nativa
  3. O festival Califórnia da Canção
  4. Lopes, Cícero (2009). «Capítulo 2: Contornos do imaginário: imagens do índio do Rio Grande do Sul na literatura brasileira». In: Silva, Gilberto; Penna, Rejane; Carneiro, Luiz Carlos. RS índio: cartografia sobre a produção do conhecimento (PDF). Porto Alegre: EdiPUCRS. pp. 31–32. ISBN 978-85-7430-865-4 
  5. «Pronunciamento de Roberto Freire em 07/02/2000» 
  6. «"Por uma nova esquerda", de Luiz Coronel» 

Ligações externas editar