Carrilhões de Mafra

Os carrilhões de Mafra são um conjunto de dois carrilhões encomendados por D. João V para as torres sineiras do Real Edifício de Mafra, compostos por um total de 98 sinos, o que os torna uns dos maiores carrilhões históricos do mundo. Foram declarados, em 2019, juntamente com todo o Real Edifício de Mafra, como Património Mundial da Humanidade, pela UNESCO [1].

Um dos carrilhões de Mafra.

Depois de anos de abandono pelos organismos de tutela, o conjunto foi recuperado e entrou novamente em funcionamento em Fevereiro de 2020[2].

Segundo a tradição, o monarca encarregou o Marquês de Abrantes de se informar, nos Países Baixos, onde, à época, se situavam as mais afamadas fundições da Europa, acerca do preço de um carrilhão. Foi-lhe indicado o valor de 400.000$00 réis, quantia que, à época, era tida como demasiado elevada para um país pequeno e periférico como Portugal. D. João V, ofendido com tais considerações, pois tinha-se como o monarca mais rico do seu tempo, terá respondido: “Não supunha que fosse tão barato; quero dois!”. E assim se encomendaram dois carrilhões: um executado em Liége, nas oficinas de Nicolas Levache, e que veio a ser instalado na torre norte; e outro executado em Antuérpia, na fundição de Willem Witlockx, e que veio a ser montado na torre sul[3].

Cada uma das torres sineiras, a norte e a sul, tinham 58 sinos, pertencendo 49 sinos a cada um dos carrilhões. Os sinos de primeira grandeza pesam, cada um, 625 arrobas, ou seja, mais de 9.180 kg. Os de segunda grandeza pesam cada um 291 arrobas, ou seja, 4.270 kg cada um, os de terceira 231 arrobas, o que corresponde a 3.392 kg cada, os de quarta 99 arrobas, correspondentes a 1.454 kg cada, e assim vão diminuindo até sinos de 1 de arroba, os mais pequenos. Finalmente, as rodas e engenhos dos carrilhões pesam 1.420 quintais, isto é, 83.427,84 kg[3] .

Ambos os carrilhões são compostos simultaneamente por dois sistemas: - Um sistema mecânico, que funciona como um órgão de Barbieri, com dois enormes cilindros de bronze onde se colocam cavilhas representando notas musicais. Quando accionado pelo mecanismo dos relógios, o movimento dos cilindros faz as cavilhas baterem em teclas metálicas ou papagaios, movendo os martelos dos sinos de acordo com a melodia programada. O carrilhão mecânico tocava a todas os quartos, meias e horas certas, do nascer ao pôr-do-sol. - Um sistema manual, accionado por um carrilhanista, tocando com as mãos e os pés num teclado que faz accionar os badalos dos sinos[3].

Após a instalação da paróquia de Mafra na basílica, os sinos passaram também a assinalar a morte dos paroquianos e a ser usados nas funções litúrgicas da paróquia. Eram igualmente tocados nas procissões da Quaresma de Mafra e aquando da estada na vila do Círio da Prata Grande ou de Nossa Senhora da Nazaré.

Além destes sinos, outros houve que pontuavam a vida do convento, como caso do Sino das Aulas, que marcava o início destas, o Sino da Enfermaria ou da Agonia, assim chamado por ser tocado quando algum frade estava próximo da morte, o sino do refeitório, que tocava para assinalar as horas das refeições, e, por fim, o sino da Féria, também chamado o sino do bacalhau, porque tocava apenas nos dias de jejum, às matinas, vésperas e horas da missa, segundo Frei João de Santa Ana[3].

Restauro em 2020 editar

Os carrilhões degradaram-se e deixaram de tocar em 2001.

Os sinos, alguns a pesarem 12 toneladas, estavam presos por andaimes desde 2004, para garantir a sua segurança, pois as respetivas estruturas de suporte, em madeira, encontravam-se apodrecidas.

Na altura, os carrilhões de Mafra foram classificados como um dos "Sete sítios mais ameaçados na Europa", pelo movimento de salvaguarda do património Europa Nostra.[4]

A intervenção de restauro, orçada em 1,5 milhões de euros, começou no verão de 2018, depois de, nesse inverno, terem sido adotadas interdições de circulação no local, por sinos e carrilhões ameaçarem cair com o mau tempo.

No dia 2 de fevereiro de 2020, realizou-se a bênção dos sinos e o concerto inaugural do restauro, momento em que os carrilhonistas Abel Chaves e Liesbeth Janssens interpretaram composições de Vivaldi.

Apesar de as obras de restauro englobarem os dois carrilhões, só o da torre sul ficou a funcionar.

O Palácio Nacional de Mafra vai manter um programa de concertos de carrilhões ao longo do ano,[5] com a participação de carrilhonistas de todo o mundo[6].

Referências

Ligações externas editar


  Os Carrilhões de Mafra estão incluídos no sítio "Real Edifício de Mafra - Palácio, basílica, convento, Jardim do Cerco e Tapada", Património Mundial da UNESCO.