Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos

povoado fortificado, ou castro, da Idade do Ferro, localizado em Vilarinho dos Galegos
Povoado Fortificado de Vilarinho dos Galegos
Apresentação
Tipo
Estatuto patrimonial
Sítio de Interesse Público (d) ()Visualizar e editar dados no Wikidata
Localização
Localização
Coordenadas
Mapa

O Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos, também referido como Povoado fortificado de Vilarinho dos Galegos e Castro de Vilarinho dos Galegos, é um sítio arqueológico situado na União de Freguesias de Vilarinho dos Galegos e Ventozelo, Município de Mogadouro.[1]

O Castelo dos Mouros, também conhecido como Castelinho ou Castro de Vilarinho dos Galegos, localiza-se numa pequena elevação, a 600 metros de altitude, nas arribas do Rio Douro, em pleno Parque Natural do Douro Internacional, na confluência da ribeira de Vilarinho com o rio Douro. A implantação na arriba oferece ao sítio uma excelente defesa natural, em três quartos do seu perímetro, situação que é proporcionada pelas encostas rochosas, muito abruptas, que caracterizam o local.

Em 2011 e 2015 foram realizadas escavações arqueológicas no âmbito do projeto "Estudo e Valorização do Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos, Mogadouro (Norte de Portugal)", sob a direção científica do arqueólogo António Pereira Dinis CITCEM-Universidade do Minho e coadjuvado pelo arqueólogo Emanuel Campos do Município de Mogadouro. Durante estas campanhas arqueológicas alunos da Licenciatura de Arqueologia da Universidade do Minho realizaram o seu estágio curricular, tendo também participado voluntários nacionais e estrangeiros nas escavações arqueológicas.

Rio Douro
Vista sobre o Rio Douro desde o Castelo dos Mouros

O referido projeto de investigação foi promovido pelo Município de Mogadouro com o patrocínio Sr. Comendador António Cepeda Alves, natural de Vilarinho dos Galegos.

Classificado de Monumento de Interesse Municipal em 2016. Atualmente em vias de classificação

Pedras Fincadas, muralha e Torreão

Estruturas Arqueológicas editar

Sistema Defensivo editar

Quem chega ao Castelo dos Mouros esbarra com um caos de pedras de quartzo, com arestas pontiagudas, distribuídas por uma área considerável. Esta barreira de “pedras fincadas” dificultava o avanço de pessoas e animais, tornando-as muito vulneráveis. Imediatamente a seguir ao “campo de pedras fincadas”, abre-se um largo e profundo fosso, cavado na rocha granítica, funcionando com um segundo obstáculo a ultrapassar por quem quisesse entrar no sítio. O sistema defensivo incluía ainda uma muralha e um torreão, em pedra. A muralha, rampeada, tinha na base cerca de 9 metros e uma altura que deveria rondar os 7 metros. Pelo interior, era escalonada em patamares que deveriam possuir rampas para acesso ao topo. Quanto ao torreão, de configuração tendencialmente circular, desenvolvia-se em frente à muralha, ocupando o espaço entre esta e o fosso.

 
Muralha Norte e Torre

Muralha editar

A muralha, com uma extensão de cerca de 46.50 metros, está implantada sobre o afloramento rochoso, desenvolvendo-se no sentido S-N, com inflexão para nascente, onde forma uma secção arredondada. A Norte, a escavação pôs a descoberto um muro ainda com 5.20 metros de altura. No lado Sul o muro atinge o máximo de 3 metros e a estrutura encontra-se em mau estado de conservação devido ao saque de pedra e construção de socalcos para oliveiras.

Torreão editar

O torreão, com uma configuração semicircular, desenvolve-se frontalmente à muralha, entre esta e o fosso. A tensão provocada pela grande massa de pedra que o constitui obrigou à junção de um contraforte, em forma de meia-lua, que o envolve parcialmente e outros muros de reforço paralelos, apresentando-se os do lado Norte ainda bem preservados.

Entrada editar

 
Torreão - Torre - Contrafortes e Muralha

Originalmente, a muralha do Castelo dos Mouros possuía uma entrada, em corredor, localizada no quadrante Sul, com cerca de 7.50 metros de extensão e 3.30 metros de largura, delimitado por muros que ainda atingiam mais de 2.50 metros de altura. Por razões que ainda desconhecemos (admitimos que a condenação da entrada talvez possa estar relacionada com as grandes dimensões do vão) este corredor foi desativado, cerrando-se com muros e atulhando-se o interior com pedras e terra. Infelizmente, as escavações não conseguiram, até ao momento, descobrir a nova entrada.

Torre editar

Entre as descobertas mais significativas que ocorreram durante as escavações destaca-se a construção de uma torre maciça, de configuração angular, identificada sobre as estruturas do torreão, a qual se assumia como o ponto mais elevado de todo o edificado. Ao topo, subia-se através de uma escada de pedra, adossada ao paramento Sul.

Estruturas Domésticas editar

Ultrapassado o complexo defensivo, o Castelo dos Mouros possui uma ampla plataforma aplanada, de configuração subcircular, delimitada de Norte e de Sul pela escarpa que caracteriza o local. O lado nascente, que é menos abrupto, permite o acesso ao vale, através de um caminho que se desenvolve em ziguezague. Esta plataforma deveria, no passado, conter as habitações da população residente. Porém, a utilização agrícola deste terreno, ao longo dos séculos, causou perturbações significativas no registo arqueológico, pelo que as estruturas habitacionais se encontram muito desmanteladas e em muito mau estado de conservação.

As escavações mais recentes reconheceram neste local dois tipos de estruturas domésticas, relacionadas com dois momentos da ocupação do Castelo dos Mouros.

A um primeiro momento, cronologicamente situado na Idade do Ferro, pertencem alguns restos de pavimento, em argila ou saibro e pequenos calhaus, muito compactados, num dos casos contendo alguns buracos de poste, sugerindo construções em materiais perecíveis. A um segundo momento, atribuível a um período tardo-romano, pertencem estruturas em pedra, pelo menos na sua base, de configuração retangular, com pavimentos de saibro compactado e cobertura em telha. Dois exemplares foram identificados encostados à face interna da muralha, presumindo-se que outros possam ter sobrevivido soterrados pelas grandes massas de derrube de pedra que pertenceram à estrutura defensiva.

Materiais editar

O espólio exumado nas escavações arqueológicas, quantitativamente significativo e variado, permite a aproximação aos modos de vida, às atividades produtivas e às relações sociais dos habitantes do Castelo dos Mouros, ao longo dos séculos em que o povoado foi ocupado. Há que referir que os materiais encontrados cobrem um período longo, entre a Idade do Ferro e a Idade Moderna.

A caça e a criação de animais deveria ter um peso significativo no quotidiano das populações do Castelo dos Mouros, a par das práticas agrícolas que se reconhecem quer nas sementes identificadas quer no achado de moinhos de pedra e de grandes contentores cerâmicos.

Encontrou-se uma grande quantidade de fragmentos de ossos, por vezes associados a estruturas de combustão, indicando o consumo na alimentação.

Entre as atividades artesanais destaca-se a fiação, a tecelagem e a metalurgia, principalmente a do ferro. Restos de escórias e material refratário demonstram práticas de ferreiro no local. A feitura de cavilhas e pregos deveria ser corrente, dada a necessidade destes materiais para a construção.

Bibliografia editar

  • António Pereira Dinis e Emanuel Campos Gonçalves, “O Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos, Mogadouro (Bragança): Objectivos e resultados dos trabalhos realizados em 2011 e 2012”, in Actas de las segundas Jornadas de Jóvenes Investigadores del valle del Duero 2012, Leon, 2014, pp. 225-239.
  • António P. Dinis e Emanuel C. Gonçalves, “O Sistema defensivo do Castelo dos Mouros de Vilarinho dos Galegos (Mogadouro, Nordeste de Portugal), tipologia, faseamento e cronologia” in Actas do Congresso internacional de Fortificaciones de la Edad del Hierro; recursos y control del território, Glyphos Publicaciones, 2015, pp. 225-241.
  • António P. Dinis e Emanuel C. Gonçalves, Projecto de investigação e valorização do Castelo dos Mouros (Vilarinho dos Galegos, Mogadouro): ponto de situação”, in Actas do I Encontro de Arqueologia de Mogadouro – Mogadouro Abril de 2013, Mogadouro, pp. 51-78.
 
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Referências