Cerco de Artogerassa

O Cerco de Artogerassa ocorre durante dois anos, entre 368 e 370, e teve como consequência a captura da rainha Paranzém e do tesouro real do Reino da Armênia.

Cerco de Artogerassa
Invasão persa da Armênia em 368-370

Última batalha da Rainha Paranzém, de Rubik Kocharian (2013)
Data 368-370
Local Artogerassa
Desfecho Vitória persa decisiva
Beligerantes
  Reino da Armênia Império Sassânida Império Sassânida
Comandantes
  Paranzém
  Papa
Império Sassânida Cílaces
Império Sassânida Arrabanes
Império Sassânida Meruzanes I
Império Sassânida Baanes, o Apóstata
Império Sassânida Zecas
Império Sassânida Carano
Império Sassânida Sapor II
Forças
11 000[1] 5 000 000[1]
Baixas
Desconhecidas Desconhecidas

Contexto editar

No ano 367 ou 368, o Sapor II (r. 309–379) tramou um complô contra Ársaces II, que foi levado como prisioneiro político e morreu em cativeiro. Isto foi parte do plano do xá para conquistar a Armênia, já que os tratados com os imperadores Joviano (r. 363–364) e Valente (r. 364–378) falharam. Após capturar Ársaces, enviou seu exército. Quando o exército se preparava para invadir, Paranzém e Papa levaram o tesouro armênio e se esconderam na fortaleza de Artogerassa, onde foram defendidos pelas tropas dos azatani. A invasão foi liderada por Cílaces e Arrabanes, dois armênios que desertaram para Sapor.[2] Cílaces e Arrabanes foram apoiados pelos nobres Baanes, o Apóstata e Meruzanes I Arzerúnio que também desertaram.[3] Sapor queria suprimir o governo arsácida e substituir a dinastia por administradores persas e senhores aristocráticos armênios tradicionais.[4]

Cerco editar

As fontes divergem sobre ao acontecimentos. Segundo Moisés de Corene, Papa não estava na fortaleza, pois foi enviado ao Império Romano. Paranzém foi sitiada por Meruzanes e Baanes, que tiveram dificuldades em capturá-la. Cansados de esperar por notícias de Papa, os defensores entregam-se aos sitiantes.[5] Segundo Fausto, o Bizantino, o cerco foi conduzido por Zecas e Carano, que atacaram-a com alegadas 5 000 000 tropas, mas não conseguiram tomar a fortaleza e começaram a saquear o país. Enquanto o cerco se desenrolava, Paranzém recebeu várias mensagens de apoio de Papa (também segundo Fausto o herdeiro estava no Império Romano) encorajando-a a resistir aos persas.[1]

Após 14 meses de cerco, uma praga assolou o forte e em pouco tempo cerca de 11 000 homens e 6 000 mulheres pereceram. Fausto alegou que foi devido a ira divina. No fim, apenas sobreviveram Paranzém e 2 aias. O mardepetes eunuco Hair entra secretamente na fortaleza e insulta a rainha chamando-a de prostituta e a dinastia arsácida alegando que estavam esperando em julgamento e desgraça e perderam suas terras. Antes de sair secretamente, disse: "O que já aconteceu com você foi justo, e é assim que vai acontecer". Paranzém, sozinha, abre os portões da Artogerassa e deixa os sitiantes entrarem.[1]

Segundo Amiano Marcelino, Cílaces e Arrabanes desertaram os armênios e foram em direção a Ctesifonte, onde são acolhidos por Sapor. O xá os envia à Armênia para destruir Artogerassa.[6] Não foram capazes de capturá-la pela posição da fortaleza e dada as condições climáticas. Cílaces, por ser hábil no bajular como uma mulher, consegue garantias de que suas vidas seriam poupadas e se aproxima dos muros com Arrabanes. Depois, convence os sitiados a deixá-los entrar sob pretexto de que com uma rápida rendição deveriam tentar apaziguar a natureza violenta de Sapor, que era homem de crueldade sem precedentes. Longa discussão inicia e a rainha lamenta o destino de seu marido e os sitiantes se apiedam e mudam de planos. Encorajados pela esperança de maiores recompensam, em segredo.[7]

Cílaces e Arrabanes concordaram que, numa hora determinada à noite, os portões deveriam ser abertos e uma força deveria atacar subitamente o acampamento persa. A promessa foi confirmada por um juramento, eles deixaram a cidade e aguardaram 2 dias, a pedido dos sitiados. Então, os sitiados atacaram quando todos os persas estavam dormindo e mataram muitos. Nesse interim, Papa foi levado ao Império Romano com alguns homens e recebido pelo imperador Valente (r. 364–378).[8] Logo, foi reenviado à Armênia com Terêncio, a pedido de Cílaces e Arrabanes, e Sapor invade o país ao saber disso. Papa, Cílaces e Arrabanes fogem das tropas persas, e Sapor novamente sitia Artogerassa, que consegue capturar após algumas batalhas de resultado variado e a exaustão dos defensores.[9]

Rescaldo editar

 
Dinar de Sapor II (r. 309–379)

Para Moisés, Paranzém foi levada à Assíria com os tesouros reais e a guarnição. Lá, foram massacrados e empalados em postes de vagões.[10] Segundo Fausto, ao entrarem, as tropas persas começaram a capturar os tesouros reais, levando 9 dias para concluir a missão, e levam-os junto da rainha. Artaxata e Valarsapate e muito butim e prisioneiros são capturados e levados. Ao chegarem em Ctesifonte, Sapor agradeceu os esforços de seus generais e esperando humilhar a Armênia e o Império Romano, entrega a rainha a seus soldados que violentamente a estupraram até a morte. Os prisioneiros foram assentados no Assurestão e Cuzestão.[1]

Segundo Amiano Marcelino, Sapor incendiou Artogerassa e levou a rainha e os tesouros reais.[11] Valente enviou o conde Arinteu com um exército para ajudar os armênios em caso dos persas tentarem nova campanha. No meio tempo, Sapor envia mensagens secretas a Papa alegando que estava em perigo por ficar junto de Cílaces e Arrabanes. Papa mata-os e envia suas cabeças para Sapor como sinal de submissão. Em 373/374, Terêncio apresenta acusações contra Papa e incita Valente a nomear outro rei para impedir que o país caísse nas mãos dos persas. Em 374, Terêncio fez parte da conspiração que matou Papa.[12]

Referências

  1. a b c d e Fausto, o Bizantino século V, IV.55.
  2. Lenski 2003, p. 170.
  3. Lenski 2003, p. 170-171.
  4. Lenski 2003, p. 171.
  5. Moisés de Corene 1978, p. 292-293.
  6. Martindale 1971, p. 234.
  7. Amiano Marcelino 397, XXVII.12.5-6.
  8. Amiano Marcelino 397, XXVII.12.7-9.
  9. Amiano Marcelino 397, XXVII.12.9-12.
  10. Moisés de Corene 1978, p. 293.
  11. Amiano Marcelino 397, XXVII.12.12.
  12. Martindale 1971, p. 881-882.

Bibliografia editar

  • Lenski, Noel Emmanuel (2003). Failure of Empire: Valens and the Roman State in the Fourth Century A.D. Berkeley e Los Angeles: California University Press. ISBN 978-0-520-23332-4 
  • Martindale, J. R.; A. H. M. Jones (1971). «Cylaces». The Prosopography of the Later Roman Empire, Vol. I AD 260-395. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press 
  • Moisés de Corene (1978). Thomson, Robert W., ed. History of the Armenians. Cambrígia, Massachusetts; Londres: Harvard University Press