A Chama do Canigó é uma tradição catalã vinculada ao solstício de verão que tem local em vários lugares dos Países Catalães todos os anos, entre 22 e 23 de Junho.[1] Inicia-se com a renovação do fogo na cimeira do Canigó (Catalunha do Norte) e culmina com a acendida das fogueiras da noite de São Joan depois que a chama, levada por voluntários, se reparta por todo o país. Está emparentada de outras festas do fogo do solstício de verão aos Pirenéus, como as falles de Isil, Alins, Durro, Vilaller, Barruera, Pont de Suert e Andorra ou o creme de eth Haro da Val d'Aran, onde o fogo que baixa da montanha também é o protagonista da noite. Mas além desta festa, a Chama do Canigó tem uma simbologia vinculada à persistência e a vitalidade da cultura catalã.

Rotas de distribuição da Chama do Canigó pelos Países Catalães.

A origem editar

 
O Canigó, uma das montanhas de mais simbolismo dos Pirenéus catalães.

Em 1955, Francesc Pujade, de Arles (Vallespir, Catalunha do Norte), trazido pelo seu entusiasmo pelo maciço do Canigó e inspirado pelo poema épico de Jacint Verdaguer (Canigó, 1886) teve a iniciativa, juntamente com Esteve Albert e Josep Deloncle, de acender os fogos da Noite de São Joan à cimeira desta montanha. Em 1963, Pujade e Joan Iglesias, impulsor das fogueiras de São Joan à Catalunha do Norte, iniciaram o costume de baixar o fogo da cimeira e acender as fogueiras da Catalunha do Norte.[1] A chama repartiu-se por todas as aldeias e cidades dos Países Catalães.[2] Iniciava-se assim a tradição da Chama do Canigó, que coincidia com a celebração milenária do solstício de verão vinculada ao fogo e ao seu significado coletivo.

O novo costume tomou força em pouco tempo, de tal forma que, segundo Òmnium Cultural, hoje é praticamente impossível encontrar uma fogueira na Catalunha do Norte que não seja acendida com a Chama do Canigó.[3] Em 1966 o fogo cruzou pela primeira vez a fronteira entre os estados francês e espanhol e chegou a Vic. Apesar da ditadura franquista, a tradição espalhou-se pelo Principado de Catalunha, com frequência na clandestinidade, como símbolo da pervivència da cultura catalã. A rede foi-se estendendo, e o fogo que baixava do Canigó também chegou ao País Valenciano.

Atualmente há dezenas de entidades que celebram a festa repartindo em todas partes a chama que se acende à cimeira do Canigó e que se conserva no Castellet de Perpinhã. Barcelona recebe o lume na praça de São Jaume com a cobla, a àliga e os gigantes da cidade, e desde lá leva-se até os bairros. Nas Terras do Ebro e ao Priorat, todos os anos é um povo diferente quem o acolhe, e se reúne gente dos distritos vizinhos, que vai em caravana de carros à receber a chama que vem dos Pirinéus. Em Alicante conservou-se bem viva a tradição dos fogos de São Joan.[4] Outras cidades, também têm a sua tradição como a de Tarragona no bairro do Serrallo.

Ritual editar

 
O Castellet de Perpinhã, local onde desde 1965 se conserva ininterruptamente a chama que acende as fogueiras da noite de São Joan.

Todos os 22 de Junho, um grupo de excursionistas do Círculo de Jovens de Perpinhã pega o fogo que desde 1965 resta acendido no Castellet de Perpinhã e sobem à cimeira do Canigó, de 2.784 metros, onde acendem uma nova fogueira, depois da leitura de um manifesto. Na alba de 23 de Junho, iniciam o descenso da chama renovada.[2] Juntamente com o grupo de excursionistas do Círculo de Jovens, muitas outras pessoas reúnem-se à cimeira por pegar a chama e iniciar assim o percurso para diferentes pontos dos Países Catalães, fazendo relevos a , em bicicleta, em carro e até em barco para que se espalhe por povos e cidades, e chegue a tempo de acender as fogueiras da noite de São Joan.

Todos os anos, a Chama do Canigó é recebida pelo Parlamento da Catalunha num ato institucional, assim como por câmaras municipais, conselhos distritais e entidades culturais, sociais e desportivas em mais de 350 municípios dos Países Catalães. Graças a centenas de voluntários, a chama que vem da montanha alumia as vésperas populares que se fazem ao redor do fogo. Calcula-se que aquela noite se acendem aproximadamente 3.000 fogueiras do fogo que provém da cimeira do Canigó.

Encontro do Canigó editar

No fim de semana antes de São Joan, centenas de pessoas vindas de todas partes dos Países Catalães e, especialmente, da Catalunha do Norte, encontram-se em Cortalets, ao pé do Canigó. No dia seguinte cumprem o primeiro ritual dos Fogos de São João: subir à cimeira do Canigó e deixar os pequenos ramos que cada qual trouxe da sua cidade, vila, povo ou horto. Os ramos estão ligados de uma fita que traz o nome do lugar de onde provêm e algumas levam desenhos e escritos de desejos por queimar à fogueira de São João. Todos estes ramos se deixam ao redor da cruz de ferro que há à cimeira da montanha até a noite em que se acende a fogueira.

Referências editar