A churinga é um objeto utilizado pelos aborígenes australianos como forma de registro. Feito de madeira ou pedra, é comumente elíptico e possui inscrições. Também pode ser chamado tjuringa ou tjurunga.[1] É um objeto carregado de significado espiritual, considerado sagrado, e que faz a conexão entre o passado e o futuro, está relacionado a lembrança dos ancestrais, a herança dos mitos e a cultura dos indivíduos de um grupo. [2]

Churinga (centro) exposta no Museu do Amanhã.

No Brasil, uma churinga pode ser encontrada no Museu do Amanhã como uma representação do objetivo do museu, que é lembrar o passado e guiar a construção do futuro.[2][3]

Etimologia editar

A palavra tjurunga significa "o segredo que pertence [a alguém]". "Tju" significa "escondido, secreto", e "runga" significa "aquilo que pertence, aquilo que é meu". Pode ser usado como substantivo ou como adjetivo, e pode se referir a outras coisas que não o objeto sagrado.[4]

Significado e uso ritualístico editar

Lévy-Bruhl relata as crenças dos povos Aranda e Loritja de que a churinga pode ter origem do corpo de criaturas místicas, descritas como deuses que podem assumir formato de animais. A churinga une o homem com seu ancestral totêmico e também com o seu totem (que pode ser um animal, uma planta, etc.). A churinga não tem relação com a "alma", mas sim com o corpo. Assim, todo homem tem dois corpos, um de carne e osso, e outro de madeira ou pedra. "Enquanto a churinga - que une o indivíduo com seu ancestral totêmico - estiver em segurança, o indivíduo estará em segurança", relata o antropólogo Carl Strehlow.[4]

Cada grupo de pessoas tem sua própria churinga, com seu próprio estilo e diferentes significados. Segundo Hambly, mulheres, crianças e meninos não iniciados não poderiam visitar os esconderijos das churingas, que eram utilizados em rituais e cerimônias, por exemplo ligadas a atrair chuva ou comida. Esses objetos são adornados com círculos e espirais que possuem significados específicos.[5]

Um tipo específico de churinga, chamado bull-roarer, é perfurado e amarrado em uma corda. Quando girado com velocidade, faz um barulho que dá origem ao nome em inglês. Os meninos não iniciados aprendem que a origem do barulho é algo mais que humano, mas após a iniciação, descobre a verdadeira origem do som. Mulheres e crianças, ao ouvirem o barulho, sabem que devem se manter longe.[5]

Referências

  1. «Churinga». Merriam Webster Dictionary 
  2. a b «O amanhã em nossas mãos». Ciência Hoje. 4 de outubro de 2013. Consultado em 13 de dezembro de 2018 
  3. «Museu do Amanhã - Oca do conhecimento: o amanhã começa hoje». Museu do Amanhã. Consultado em 13 de dezembro de 2018 
  4. a b Lucien Lévy-Bruhl (1922). The Soul Of The Primitive (em inglês). Traduzido por Clare, Lilian A. Tr. [S.l.]: Unwin Brothers Limited. pp. 186–192 
  5. a b Hambly, Wilfrid Dyson (1936). Primitive hunters of Australia (em inglês). [S.l.]: Chicago: Field Museum of Natural History. p. 24