Clípeo (em latim: Clipeus), na Roma Antiga, era um termo utilizado para descrever um grande escudo de formato originalmente circular que era utilizado pelos infantes romanos e que conceitualmente equivalia ao áspide (em grego: ἀσπίς; romaniz.:aspís) grego. Com o tempo, contudo, o termo clípeo adquiriu um sentido artístico e também passou a detonar retratos inscritos em espaços circulares, as imagens em clípeo (imagines clipeatae).

Clípeo com efígie de Júpiter-Amon encontrado no recinto sagrado de Tarraco. Atualmente no Museu de Tarragona
Imagem em clípeo num sarcófago localizado na Villa la Pietra, próximo de Florença

Escudo editar

O primeiro tipo de escudo utilizado pelos combatentes romanos era do tipo argivo, como relatado por Plutarco. Ele chamava-se clípeo e foi instituído ainda durante o reinado de Rômulo, possuindo um forma arredondada.[1] Desde o censo ocorrido no reinado de Sérvio Túlio, os romanos mais ricos lutaram utilizando o clípeo de madeira coberto com couro de touro ou bronze, enquanto os demais soldados utilizavam um escudo plano e oval feito de tábuas de madeira cobertas com couro, o ancestral do escudo dos infantes republicanos e imperiais. O clípeo, por sua vez, teria seu uso descontinuado pela adoção do escudo sabino,[2][3] provavelmente pelo final do século V a.C., quando os soldados passaram a receber salário.[4]

Os clípeos, tal como os áspides gregos, era decorados, havendo exemplos de escudos nos quais Vitória é representada escrevendo sobre um clípeo o nome ou méritos de algum herói morto. Segundo Vegécio, cada soldado romano tinha seu próprio nome inscrito sobre seu escudo, de modo que ele podia rapidamente encontrá-lo quando o comandante desse ordens. Como relatado por Júlio César, as vezes, inclusive, o nome do comandante sob quem o soldado lutou era gravado.[5]

Outros usos editar

Em 27 a.C., ao retornar triunfante para Roma, Augusto (r. 27 a.C.–14 d.C.) seria agraciado com inúmeros presentes pelo senado, dentre eles a coroa cívica e o clípeo da virtude.[6][7] Plínio, o Velho descreve o costume de ter o retrato do busto de um ancestral pintado ou esculpido sobre um clípeo para ser exibido num templo ou outro espaço público. Os retratos feitos sobre os clípeos chamar-se-iam "imagens em clípeo" (imagines clipeatae) e podiam ser baixo-relevos em um medalhão para exposição em sarcófagos ou em outros formas.[8] Além disso, sabe-se mediante o relato de Vitrúvio que os clípeos também era utilizados para medir a temperatura das termas romanas.[9]

Referências

  1. Plutarco século I, 21.1..
  2. Smith 1875, p. 298.
  3. Elton 1996, p. 115.
  4. Tito Lívio século I a.C., V, 59-60; e VIII, 8, 3..
  5. Smith 1875, p. 298-299.
  6. Eck 2003, p. 3.
  7. Eder 2005, p. 24.
  8. Hall 1983, p. 78.
  9. Smith 1875, p. 191-192; 299.

Bibliografia editar

  • Eck, Werner (2003). Deborah Lucas Schneider (tradutora); Sarolta A. Takács (mais conteúdo), ed. The Age of Augustus. Oxford: Blackwell Publishing. ISBN 978-0-631-22957-5 
  • Eder, Walter (2005). «Augustus and the Power of Tradition». In: Karl Galinsky. Cambridge Companion to the Age of Augustus (Cambridge Companions to the Ancient World). Cambridge, MA; Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-80796-8 
  • Elton, Hugh (1996). Warfare in Roman Europe, AD 350–425. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-815241-5 
  • Hall, James (1983). A History of Ideas and Images in Italian Art. Londres: John Murray. ISBN 0-7195-3971-4 
  • Smith, Sir William; Cheetham, Samuel (1875). Dictionary of Greek and Roman Antiquities. [S.l.]: Little, Brown and Company