Corpo-seco (também conhecido como Unhudo ou Raquítico Galopante[1]) é uma lenda que faz parte do folclore brasileiro e do folclore ibérico.[2] É descrito como um cadáver ressequido que é expulso da terra como punição por pecado excepcionalmente grave. Em histórias em que o espírito deixa o corpo-seco, é também chamado de Bradador ou Lameirudo em Portugal.[3]

História oral sobre corpo-seco, contada por morador do interior de São Paulo.

Descrição editar

A convergência dos espíritos-bradadores, almas que gritam e choram, comuns no Folclore europeu, como o Corpo-Seco, é um natural e lógica explicação popular. O cadáver ressequido, expulso da terra, parece rejeitado por ela e só se daria por um pecado excepcionalmente grave. O fantasma gritador (Bradador) deve ser, forçosamente, o espírito que animava o Corpo-Seco. Ambos, espírito e corpo, cumprem uma sina, satisfazendo compromissos morais e religiosos.[3]

Descrito por Basílio de Magalhães como "homem maligno e que agrediu a própria mãe que ao morrer, nem Deus nem o diabo o quiseram e a própria terra o repeliu e, um dia, mirrado, dessecado, com a pele engelhada sobre os ossos, da tumba se levantou, em obediência a seu fado, vagando e assombrando os viventes, na caladas da noite".[4]

Em Ituiutaba, interior de Minas Gerais, há uma variação desta lenda:[5] conta-se que o corpo-seco depois de ser expulso pela terra várias vezes é levado por bombeiros a uma aparente caverna em uma serra que fica ao sul do município. Diz-se que quem passa à noite pela estrada de terra próxima à "Serra do Corpo-Seco" consegue ouvir os gritos da criatura ecoando de dentro da caverna.

No Paraná,[6] Santa Catarina e parte do interior de São Paulo leva o nome de Bradador, Berrador, Barrulheiro e Bicho Barulhento e assombraria povoados, gritando nos campos após a meia-noite. Durante o dia assumiria a forma de corpo-seco e assombraria cemitérios.[7]

Em São Luiz do Paraitinga houve o relato do corpo-seco como um homem mau que negou esmolas e agrediu frades mendicantes e foi amaldiçoado por eles. Após sua morte seu corpo teria se tornado um corpo-seco e levado para fora do cemitério para a região que assombraria.[8]

Em Dois Córregos há na tradição oral o mito do Unhudo de Pedra Branca. O Unhudo é descrito como a alma penada de um antigo proprietário de terras, homem alto, com chapéu de palha e cabelos compridos que atacou alguém que colhia flores e frutas de um pomar e assombra a região por seu corpo não se deteriorar.[6]

Há relatos do corpo-seco no estado de Paraná, Amazonas, Minas Gerais, São Paulo e no Nordeste brasileiro e em alguns países africanos de língua portuguesa[9] como nas aparições do corpo-seco por soldados zimbabuanos durante a missão UNAVEM III em Angola.[carece de fontes?]

Referências

  1. Guaraldo, Tamara de Souza Brandão [UNESP (7 de abril de 2005). «Comunicação, cultura e mídia: o mito do Unhudo da Pedra Branca». Aleph: 215 f. : il. + 1 CD. Consultado em 16 de fevereiro de 2021 
  2. Reis Filho, Lúcio (janeiro de 2013). «Na Trilha do Corpo-Seco» (PDF). Maringá: Associação Nacional de História. Revista Brasileira de História das Religiões. V (15). ISSN 1983-2850 
  3. a b Cascudo 2002, p. 285.
  4. Cascudo 2002, p. 259.
  5. Portuguez, Anderson Pereira; Wolf, Murillo Inojosa (2020). «Serra do corpo-seco, Ituiutaba-MG O lugar, a assombração e o mito popular a partir da geografia das representações». Brazilian Journal of Development (1): 1421–1475. ISSN 2525-8761. doi:10.34117/bjdv6n1-099. Consultado em 16 de fevereiro de 2021 
  6. a b Jardim, Marcelo Rodrigues (14 de junho de 2006). «Além do mal, aquém do bem: moral em narrativas orais referentes ao Corpo Seco». Boitatá (1): 105–115. ISSN 1980-4504. Consultado em 16 de fevereiro de 2021 
  7. Cascudo 2002, p. 251.
  8. Araújo, Alceu Maynard (2007). Cultura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes. p. 52. OCLC 758821152 
  9. «Lenda do 'corpo seco' aterroriza moradores no sul de Minas». R7.com. 14 de dezembro de 2014. Consultado em 16 de fevereiro de 2021 

Bibliografia editar