Crise alimentar de 2011 no Corno de África

A crise alimentar de 2011 no Corno de África (ou Chifre da África) é uma situação de carestia[1] em várias regiões do Corno de África devido a uma seca que afetou a região do leste africano[2]. A seca, a "maior seca há 60 anos",[3][4] levou a uma crise alimentar na Somália, Etiópia e Quénia, ameaçando a vida de mais de 10 milhões de indivíduos[5]. Outros países, dentro e fora do Corno de África, incluindo Djibouti, Sudão, Sudão do Sul e algumas regiões do Uganda, estão também afetados pela crise alimentar[6][7][4].

Mulheres e crianças à espera para entrar num campo de refugiados superpovoado em Dadaab, Quénia.

No início do mês de julho, a Famine Early Warning Systems Network (FEWS-Net) declara o estado de emergência para o sul da Somália, o sudoeste da Etiópia, e para o nordeste do Quénia, sendo que as atuais condições desses países são muito preocupantes[8]. A 20 de julho as Nações Unidas notam, pela primeira vez desde a carestia na Etiópia de 1984, a falta de alimentos em várias regiões da Somália, vitimando um milhão de indivíduos[9][10]. Uma dezena de milhares de indivíduos perderam a vida no sul da Somália antes do evento ter sido mediatizado[9].

Causas editar

 
Carcaças de ovelhas e cabras encontradas após a seca em Waridaad, na região da Somalilândia.

As condições meteorológicas do Oceano Pacífico, que se desenvolveram numa forte e não habitual La Niña, interromperam as chuvas sazonais durante duas estações consecutivas. Nenhuma gota de chuva caiu no Quénia, Etiópia ou Somália (durante dois anos)[2]. Em algumas zonas, o nível de precipitação na estação das chuvas, do fim de março ao início de junho, caiu 30% entre 1995 e 2010[11]. A falta de chuva enfraqueceu o cultivo, diminuindo as hipóteses de obtenção de alimentos. A chuva não deverá voltar antes do mês de setembro[2]. O grupo rebelde Al-Shabaab piora ainda mais a crise[7].

Rajiv Shah, chefe da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, explica que as mudanças climáticas contribuiram para a gravidade da crise[12]. Entretanto dois especialistas, acompanhados do International Livestock Research Institute (ILRI), dizem que ainda é cedo para falar das mudanças climáticas a respeito da seca. É mais certo que um forte fenômeno La Niña tenha contribuído para a intensidade da seca.

A tardia divulgação nos meios de comunicação da crise foi fortemente criticada. Jane Cocking, diretora humanitária de Oxfam, explica que ainda são possíveis várias soluções[13].

Situação humanitária editar

População que necessita de ajuda
População local Refugiados Total
  Djibouti 146 600 17 600 164 200
  Quênia 2 400 000* 514 545** 2 914 545
  Somália 3 700 000 0 3 700 000
  Etiópia 4 567 256 228 014 4 795 270
Total 10 813 856 760.159 11.574.015
Fote: OCHA[14]

* Espera-se agravamento em agosto. ** Registados em 17 de julho de 2011 (UNHCR)

 
Mapa da crise alimentar de 2011 no Corno de África

A carestia teve origem em Shabeellaha Hoose e Bakool, duas regiões do sul da Somália.[9]. De acordo com o coordenador humanitário da ONU para a Somália, esta situação ir-se-á propagar às outras oito províncias se não se agir imediatamente.[15] The Economist informou que a fome pode estender-se a todo o Corno de África, "uma situação... inédita em 25 anos".[13]

Em 3 de agosto, mais três regiões da Somália, incluindo zonas de Mogadíscio, foram declaradas em estado de fome, segundo anunciou a ONU[16].

Mais de 800000 indivíduos fugiram das regiões afetadas pela seca do sul da Somália em direção aos países vizinhos, principalmente para o Quénia e a Etiópia. Os campos de Dadaab (Quénia) acolheram perto de 440000 refugiados, atingindo 300% da sua capacidade máxima de acolhimento[17]. Mais de 1400 refugiados fogem, por dia, do sul da Somália. O porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os refugiados, Melissa Fleming, explica que um bom número desses refugiados morre durante o percurso[18].

Resposta internacional editar

Em 27 de julho de 2011, o Programa Alimentar Mundial da ONU anunciou que começou o transporte aéreo de comida para a Somália. Dez toneladas de comida foram levadas nesse dia para Mogadíscio, com planos para expandir a entrega ao sul da Somália, onde milhões se mantêm inacessíveis, e estão demasiado débeis para cruzar a fronteira com o Quénia. No entanto, entregar a comida na região é complicado, pois o grupo Al-Shabaab não permite que algumas agências estrangeiras de ajuda trabalhem no país.[19][20][21]

Referências

  1. (em inglês) «UN declares first famine in Africa for three decades as US withholds aid». Le Figaro. 19 de julho de 2011. Consultado em 21 de julho de 2011 
  2. a b c (em inglês) OCHA (UN Office for the Coordination of Humanitarian Affairs) (10 de junho de 2011). «Eastern Africa Drought Humanitarian Report No. 3». reliefweb.int. Consultado em 12 de julho de 2011 
  3. (em francês) «La crise alimentaire dans la Corne de l'Afrique en chiffres». Carefrance. 19 de julho de 2011. Consultado em 21 de julho de 2011. Arquivado do original em 25 de julho de 2011 
  4. a b Mike Wooldridge (4 de julho de 2011). «Horn of Africa tested by severe drought». BBC News. Consultado em 12 de julho de 2011 
  5. (em francês) «Crise alimentaire dans la Corne de l'Afrique : l'aide s'organise». RFI. Consultado em 21 de julho de 2011 
  6. (em inglês) OCHA, FEWS-Net (24 de junho de 2011). «East Africa: Famine warning for southern Somalia» (PDF). Consultado em 14 de julho de 2011 
  7. a b (em inglês) Ben Brown (8 de julho de 2011). «Horn of Africa drought: 'A vision of hell'». BBC News. Consultado em 12 de julho de 2011 
  8. (em inglês) Integrated Regional Information Networks (IRIN) (5 de julho de 2011). «East Africa: Famine warning for southern Somalia». reliefweb.int. Consultado em 21 de julho de 2011 
  9. a b c (em inglês) «UN declares first famine in Africa for three decades as US withholds aid». Telegraph. 20 de julho de 2011. Consultado em 20 de julho de 2011 
  10. (em inglês) «Somalia on verge of famine». CBC News. 18 de julho de 2011. Consultado em 18 de julho de 2011 
  11. (em inglês) «Eastern Africa: Humanitarian Snapshot» (pdf). 24 de junho de 2011. Consultado em 21 de julho de 2011 .
  12. (em inglês) Joshua Hersh (13 de julho de 2011). «East Africa Famine Threatens Regional Stability, USAID Chief Says». Huffington Post. Consultado em 13 de julho de 2011 .
  13. a b (em inglês) «Once more unto the abyss». The Economist. 7 de julho de 2011. Consultado em 18 de julho de 2011 
  14. Horn of Africa Drought Crisis Factsheet 25 July 2011. United Nations Office for the Coordination of Humanitarian Affairs (OCHA)
  15. «UN Declares Famine in Two South Somalia Regions as 3.7 Million Need Help». 20 de julho de 2011. Consultado em 20 de julho de 2011 
  16. publico.pt (3 de agosto de 2011). «Fome declarada em três novas regiões da Somália». Consultado em 3 de agosto de 2011 [ligação inativa]
  17. (em francês) «La crise alimentaire dans la Corne de l'Afrique en chiffres». Carefrance. 19 de julho de 2011. Consultado em 21 de julho de 2011. Arquivado do original em 25 de julho de 2011 .
  18. (em inglês) «UNHCR chief urges more help for drought-hit Somalis». Tehran Times. 14 de julho de 2011. Consultado em 22 de julho de 2011 .
  19. Abdulkadir Khalif (22 de julho de 2011). «Somalia's Al-Shabaab Rebels Ban Some Aid Groups From Territories». allAfrica.com. Consultado em 11 de agosto de 2011 
  20. Jackson Mvunganyi (27 de julho de 2011). VOA News, ed. «The UN World Food Program Begins Relief Flights to Somalia». Consultado em 27 de julho de 2011 
  21. Somália, fome e conflito Arquivado em 17 de outubro de 2011, no Wayback Machine.. Médicos sem fronteiras, 13 de setembro de 2011.

Ver também editar

Ligações externas editar