Cristo das Trincheiras

cruz pendurada na sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha

Cristo das Trincheiras é uma estátua, que durante a Primeira Guerra Mundial, se tornou num símbolo de resistência e sobrevivência para os soldados do Corpo Expedicionário Português que estavam sediados em Neuve-Chapelle, França.[1] É considerada uma das peças mais emblemáticas da participação de Portugal na Primeira Grande Guerra. Atualmente encontra-se exposta no Mosteiro da Batalha.

História editar

 
Soldados do Corpo Expedicionário Português diante do cruzeiro com a imagem de Cristo, entre Neuve-Chapelle e Lacouture (1917)

Em 1916, Portugal entrou na Primeira Guerra Mundial, tendo sido formado o Corpo Expedicionário Português (CEP), com 56 500 efetivos. Chegados a França a 2 de Fevereiro de 1917, e logo colocados sob comando britânico, a partir de Maio de 1917, as tropas portuguesas passaram a ocupar uma área perto de Neuve-Chapelle de Saint-Venant (departamento francês de Pas-de-Calais), onde estava situado o estado maior.[2] Sob extremas e fracas condições nas trincheiras, os soldados portugueses, que começavam a sofrer enormes perdas de vidas, encontraram numa intersecção de estradas, entre as localidades de Lacouture e Neuve-Chapelle, um cruzeiro com uma estátua de Cristo, tornando-se o monumento num objeto de veneração e devoção, alvo de preces e pedidos de proteção.[3] Embora as forças portuguesas tenham sido dispensadas na madrugada de 9 de Abril de 1918, durante esse dia sofreram uma derrota estrondosa ao serem surpreendidos pela Ofensiva da Primavera, na Batalha de La Lys, estimando-se que cerca de mil soldados portugueses faleceram, outros mil estavam então em paradeiro desconhecido, quatro mil feridos e mais de seis mil feitos prisioneiros.[4]

 
Cristo das Trincheiras em Neuve-Chapelle após a Batlha de La Lyz (1918)

Durante a violenta batalha, a imagem do Cristo, que havia perdido uma das mãos, parte das pernas, ambos os pés e no peito tinha sido atravessada por uma bala, foi encontrada de pé quando todo o seu envolvente estava em ruínas. Sob o fogo da artilharia alemã, a estátua foi então resgatada por alguns militares portugueses que, pela sua fé, decidiram trazê-la consigo, através da lama e dos perigos da ofensiva, até encontrarem um local seguro, entre as ruínas da localidade mais próxima, no intuito de a proteger.[5] Após o conflito, a história dos militares que salvaram a estátua do Cristo foi relatada em vários periódicos franceses e nacionais, passando a imagem a ser referida como Cristo das Trincheiras.[6]

Anos mais tarde, durante a reconstrução do pós-guerra, a estátua foi colocada no cruzeiro onde originalmente se encontrava.[7]

Transladação para o Mosteiro da Batalha editar

 
Cristo das Trincheiras no Mosteiro da Batalha

Em 1958, numa iniciativa de cooperação entre o governo português e o governo francês, assim como num gesto de homenagem às vítimas portuguesas da Primeira Guerra Mundial, o município de Neuve-Chapelle entregou a estátua do Cristo das Trincheiras a Portugal.[8][9]

Após uma breve romaria por vários pontos do país, a cruz e a imagem do Cristo de Neuve-Chapelle foram colocadas, durante uma cerimónia oficial, militar e religiosa, na Sala do Capítulo do Mosteiro da Batalha, sob os dois Soldados Desconhecidos, cujos corpos foram trazidos, em 1921, de França e de África.[10][11]

Atualmente, é um marco emblemático do Mosteiro da Batalha.[12]

Referências editar

  1. Carvalho, Patrícia (8 de fevereiro de 2014). «O soldado que conheceu de perto o Cristo das Trincheiras». PÚBLICO. Consultado em 27 de maio de 2023 
  2. Meneses, Filipe Ribeiro de (1 de março de 2018). De Lisboa a La Lys – O Corpo Expedicionário Português na Primeira Guerra Mundial. [S.l.]: Leya 
  3. Brun, André (3 de janeiro de 2014). A Malta das Trincheiras. [S.l.]: Ediçoes Vercial 
  4. Costa (General), Gomes da. A grande batalha do C.E.P.: A batalha do Lys : 9 de Abril de 1918 (em inglês). [S.l.]: Francisco Franco 
  5. Army (em inglês). [S.l.]: Association of the United States Army. 1998 
  6. «Cristo das Trincheiras: a história da estátua venerada pelos soldados portugueses | VortexMag». Vortex Mag. 15 de setembro de 2021. Consultado em 27 de maio de 2023 
  7. Tiplady, Thomas (29 de setembro de 2014). «The Cross at Neuve-Chapelle». The Atlantic (em inglês). Consultado em 27 de maio de 2023 
  8. Noticias de Portugal. [S.l.]: Direcção-Geral da Informação, Sec. de Estado da Informação e Turismo. 1959 
  9. Boletím geral do ultramar. [S.l.]: Agência Geral do Ultramar. 1958 
  10. Noticias de Portugal. [S.l.]: Direcção-Geral da Informação, Sec. de Estado da Informação e Turismo. 1959 
  11. «LE SOLDAT INCONNU PORTUGAIS». LUSITANIE (em francês). 2 de setembro de 2017. Consultado em 27 de maio de 2023 
  12. «Santuário de Fátima expõe "Cristo das Trincheiras" do Mosteiro da Batalha». Leiria-Fátima. 13 de novembro de 2014. Consultado em 27 de maio de 2023