Cultura atacamenha

Na região descrita como puna de Atacama, localizada no extremo sul do altiplano andino, ao norte do atual território do Chile, existe uma grande plataforma situada com altura entre 2 500 e 4 000 metros de altitude por onde floresceu por mais de dois milênios a cultura atacamenha

Corpo mumificado atacamenho de Chiu-Chiu em exposição no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fernando Frazão/ABr, 04/08/2013

Sob o ponto de vista ambiental essa região de altiplano caracteriza-se por reunir as condições climáticas mais severas dos Andes no que se refere à aridez. Já que se reflete diretamente sobre a biomassa e a biodiversidade de flora e fauna aí existentes. Em sua parte ocidental a puna é muito seca, com precipitação anual inferior a 100 mm, sendo por isso chamada puna desértica.

Este processo de desertificação iniciou-se durante a etapa final da última glaciação, por volta de 13 mil anos atrás, quando houve uma mudança no clima, tornando o ambiente mais quente e árido. Alguns lagos secaram reduzindo-se a salares, e os rios começaram a definir seus cursos, umedecendo com mais regularidade o solo dos oásis e promovendo o crescimento dos bosques de algarrobos e chanhares.

Povoamento editar

O povoamento da região teria iniciado por volta de 13 mil anos atrás. Durante este período começaram a ingressar na vertente ocidental da puna atacamenha os primeiros caçadores arcaicos, atraídos pela disponibilidade de recursos animais, vegetais e hídricos, iniciando assim um sistema de coleta e de caça de camelídeos selvagens a exemplo das vicunhas e guanacos, roedores e aves.

Sob estas condições teve início um longo processo adaptativo, desenvolvido por mais de 10 mil anos, o qual se permitiu, através de mecanismos biológicos e sócio-culturais, que os grupos pré-históricos ali pudessem instalar-se chegando a constituir uma ocupação permanente e bem sucedida.

Evolução editar

Por volta de 3 000 - 2 000 a.C. a estratégia de vida desses grupos começou a mudar de forma mais significativa em função do crescente aumento de períodos de seca e diminuição dos recursos naturais, intensificando-se os processos de domesticação dos camelídeos, dando origem aos rebanhos de lhama e alpaca ao processo sedentário de cultivo e deslocamento através de regiões mais distantes para o abastecimento de produtos ausentes em troca dos excedentes da nova economia agropastoril e artesanal, atividade essa que caracterizou a cultura atacamenha.

Ocupação editar

A ocupação deste território foi na forma de assentamentos agropastoris com alta densidade demográfica, distribuídos sempre em pequenos oásis em torno de fontes de água e de rios. Iniciou-se por volta de 11 mil anos atrás, através de caçadores-coletores nômades.

Já que em volta destes núcleos restritos de fixação estende-se um vasto território desértico, totalmente despovoado mas intensivamente cruzado por rotas de deslocamento que incluíam trocas entre a região do salar atacamenho e outras áreas produtivas.

Entre elas estavam os vales mais baixos a leste dos Andes e o litoral do Pacífico, cujo intercâmbio de produtos garantiu circulação de recursos e complementação econômica. A disponibilização de determinados elementos forâneos ao ambiente da alta puna, tais como peixe seco, pigmentos, vegetais de valor alimentício, madeiras, fibras, equipamentos e substâncias psicotrópicas, recipientes cerâmicos e matérias primas para a confecção de adornos, foi assegurada pelas viagens das caravanas que cruzavam o deserto de Atacama, as quais se constituíram peças chave para um eficiente complemento de ordem econômica.

Resumo editar

Portanto, parte importante da estratégia desenvolvida pelos grupos atacamenhos caracterizava-se pelo desenvolvimento de um sistema de transportes eficiente, assegurado pelas caravanas de camelídeos domesticados e pelo domínio desse território, cuja geografia e vicissitudes haviam aprendido a conhecer. Tal estratégia assegurou aos atacamenhos, por longo tempo, hegemonia no transporte de cargas e condução das caravanas que cruzavam o deserto, tornando-os especialmente importantes nos processos de expansão territorial desenvolvidos por outras culturas como Tiwanaku e Inca em diferentes períodos, acabaram por estender sua influência política a partir do altiplano ao atual povo chileno.