Deficiência auditiva unilateral

perda auditiva que acomete apenas uma das orelhas parcial ou totalmente.

A Deficiência auditiva unilateral, ou Surdez unilateral, é um tipo de deficiência auditiva onde existe audição normal em um ouvido e a diminuição da audição no ouvido oposto.

O sistema auditivo é dividido anatomicamente em 3 partes:

- Orelha externa: que é constituída pelo pavilhão auricular (orelha) e pelo meato acústico externo (canal auditivo) que auxiliam na captação do som e na sua condução;

- Orelha média: que é composta pela membrana timpânica, tuba auditiva e de três ossículos (martelo, bigorna e estribo). Essa cadeia ossicular é responsável pela transmissão e amplificação do som para a orelha interna;

- Orelha interna: composta por uma série de cavidades que constitui o labirinto ósseo, anterior a ele está a cóclea, medialmente o vestíbulo e posteriormente, os canais semicirculares.[1][2]

Sintomas editar

As consequências da surdez unilateral serão diferentes da surdez bilateral. A função auditiva é consideravelmente afetada, como a localização dos sons, o reconhecimento de fala na presença de ruído e a integração binaural estarão comprometidos e terão implicações no desenvolvimento e manutenção das habilidades auditivas na criança e no adulto.

Outras consequências da perda auditiva unilateral serão:

  • Escutar / compreender a conversa no lado com a perda auditiva
  • Alterações de equilíbrio
  • Alterações de fala e de linguagem
  • A capacidade de segregação figura/fundo auditiva é severamente afetada
  • Compreender falas na presença de ruído de fundo ou reverberação
  • Dificuldades interpessoais e nas relações sociais e emocionais, resultantes das dificuldades de comunicação
  • Emocionais, não sendo capaz de se comunicar como todos outros acaba se sentindo, frustrada, zangada, deprimida e pode apresentar comportamento agressivo.
  • O nível de dependência também um fator que implica em sentimentos negativos, ocasionando o isolamento [3]

A surdez unilateral também afeta negativamente a percepção auditiva de modo à tornar impossível para a pessoa determinar a direção, distância e movimento de fontes de som, o que resulta em maiores riscos de atropelamento ou de acidentes em situações que necessitem sua percepção sonora do movimento. Em uma avaliação com um questionário contendo aspectos relacionados à fala, percepção espacial e escala de qualidade de escuta (SSQ), a SSD foi diagnosticada como tendo maior impacto debilitante do que a perda auditiva de grau severo em ambos os ouvidos.

Em condições ideais de silêncio, a compreensão da fala não é pior do que a de uma pessoa com audição normal; entretanto, em um ambiente relativamente ruidoso a compreensão da fala é severamente afetada de acordo com o grau de perda auditiva do ouvido afetado.

Quando utilizados fones de ouvido estéreo, pessoas com perda auditiva unilateral serão capazes de ouvir apenas um canal, portanto a informação posicional (volume e tempo entre os canais) é perdida. Alguns instrumentos podem ser ouvidos com mais ênfase que outros se estiverem mixados predominantemente em um canal e, em casos extremos de produção musical (como separação estéreo total ou stereo-switching), apenas parte da composição pode ser ouvida; em jogos e filme que utilizem efeitos sonoros 3D, o som parecerá embaralhado e será interpretado incorretamente. A audição de video-conferências também é bastante dificultada, especialmente aquelas com transmissão em estéreo. Vários destes aspectos podem ser contornados selecionando-se a opção de som monoaural existente em alguns aparelhos, ou através do uso de adaptadores estéreo-para-mono externos, entretanto alguma qualidade do som é perdida. Por exemplo, se houver um pequeno atraso no som entre os dois canais, eles serão mixados de estéreo para mono causando ruído reverberativo ao invés da profundidade percebida por alguém com audição estéreo normal.

Crianças em idade escolar com perda auditiva unilateral tendem a ter notas piores e requerer assistência educacional. Este não é o caso de todas. Mas os portadores podem ser percebidos como tendo dificuldades comportamentais.

Causas e Prevalência editar

Perdas auditivas unilaterais podem ser de fator condutivo, mistas e sensorioneurais.

Entre as causas mais comuns nos casos de perda condutiva, encontram-se as más formações na orelha externa e média, rolhas de cera e otites. As perdas condutivas representam de 70 a 85% das perdas auditivas unilaterais, sendo predominantes na orelha direita e em crianças do sexo masculino.[4]

A etiologia das perdas auditivas sensorioneurais unilaterais depende de fatores genéticos, malformações da orelha interna, infecções, uso de ototóxicos, exposição prolongada ao ruído, traumatismos e causas desconhecidas.

A prevalência da perda auditiva unilateral em recém-nascidos varia entre 0,3 e 1 a cada 1000 crianças, já em crianças em idade escolar esse número aumenta para 1 e 5 crianças a cada 1000[5][6], o que indica uma falha nas triagens auditivas e o uso de critérios diferentes em hospitais.[7]

Tratamentos e Intervenções editar

As intervenções fonoaudiológicas vem como um meio de amenizar as queixas, principalmente em crianças com queixas de dificuldades educacionais. Atualmente com a identificação precoce de crianças com perda auditiva unilateral, o fonoaudiólogo pode lidar com as necessidades das crianças com diagnóstico, propondo avaliações e terapias para reduzir os problemas de linguagem ocasionados pela perda auditiva. Crianças com perdas auditivas tem maiores chances de fracassarem no ambiente escolar, pois enfrentam mais desafios que as outras crianças [8][9][10]

Dispositivos Eletrônicos editar

O aprendizado do sistema nervoso central por "plasticidade", ou a maturação biológica com o passar do tempo não são capazes de melhorar o desempenho da audição monoaural. Em adição aos métodos convencionais para melhoria do desempenho no ouvido afetado, existem métodos especificamente adaptados para a perda unilateral que devem ser de acordo com o grau da perda. Os aparelhos auditivos têm como objetivo a amplificação dos sons, melhorando a sensibilidade auditiva, a qualidade auditiva, a percepção da fala, por meio da tecnologia e do processamento de sinal.

  • Aparelho auditivo convencional: há pouca adaptação de aparelhos AASI em bebês até os seis meses de idade, apesar de estarem sendo diagnosticadas precocemente, só começam a adaptação entre 24 e 36 meses[11], o uso e adaptação tardia está ligada diretamente com as dificuldades da confirmação da perda ou por opção dos pais que, não percebem grandes alterações no comportamento da criança e acabam não aderindo o AASI [12]
  • Aparelho auditivo do tipo CROS (Contralateral Routing of Signals): indicado para os indivíduos que apresentam perda auditiva unilateral total, Sendo compostos por um microfone colocado próximo ao ouvido afetado e um receptor próximo ao ouvido normal, as duas unidades são conectadas seja por um fio, ou por conexão wireless, captam o som a partir do ouvido com pior audição e transmitem para o ouvido com melhor audição, desta forma o paciente consegue escutar os sons que ocorrem do lado oposto.[13]
    • CIC CROS transcranial é composto por um aparelho auditivo de condução óssea inserido completamente no canal auditivo. Um dispositivo de condução aérea de alta potência é encaixado profundamente no ouvido do paciente. A vibração das paredes ósseas do canal auditivo e ouvido médio estimula a audição normal por meios de condução óssea pelo crânio
    • Aparelhos CROS do tipo BAHA (Bone Anchored Hearing Aid) são indicados para pacientes com perda auditivas severas e profundas, é utilizada quando os aparelhos convencionais não suprem a necessidade do paciente. Um pino de suporte é implantado cirurgicamente e transmite o som do lado do ouvido surdo através de via óssea para estimular a cóclea do ouvido oposto que tenha audição normal. Um estudo do sistema BAHA mostrou-se benefício dependendo da atenuação transcranial do paciente. Outro estudo mostrou que a localização espacial e a percepção da fala sob ruído não melhoraram, mas o efeito da sombra da cabeça foi reduzido.

Na Alemanha e Canadá, o implante coclear tem sido utilizado com grande efetividade no tratamento da perda auditiva unilateral, recuperando boa parte da audição estereofônica e minimizando os impactos da perda e a qualidade de vida do paciente.

De modo geral, esse tipo de surdez não é reversível e o paciente pode apenas tratar a condição para melhorar sua qualidade de vida, mas não recuperar sua audição.

Evolução editar

Até 2012 haviam apenas estudos de pequena escala comparando os sistemas CROSS.

Referências

  1. Bevilacqua, Maria Cecília; Melo, Tatiana Mendes de; Morettin, Marina; Lopes, Andréa Cintra (2009). «A avaliação de serviços em Audiologia: concepções e perspectivas». Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (3): 421–426. ISSN 1516-8034. doi:10.1590/s1516-80342009000300021. Consultado em 26 de maio de 2023 
  2. «Cadernos I : Círculo fenomenológico da vida e da clínica». 19 de abril de 2018. doi:10.46597/9788586736797. Consultado em 26 de maio de 2023 
  3. Zanini, Gustavo (1 de janeiro de 1974). «O tratado de Itaipu». Revista da Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo (1). 165 páginas. ISSN 2318-8235. doi:10.11606/issn.2318-8235.v69i1p165-179. Consultado em 26 de maio de 2023 
  4. Fetterman, Bruce L.; Luxford, William M. (outubro de 1997). «The Rehabilitation Of Conductive Hearing Impairment». Otolaryngologic Clinics of North America (5): 783–801. ISSN 0030-6665. doi:10.1016/s0030-6665(20)30169-9. Consultado em 24 de maio de 2023 
  5. Prieve, Beth; Dalzell, Larry; Berg, Abbey; Bradley, Mary; Cacace, Anthony; Campbell, Deborah; DeCristofaro, Joseph; Gravel, Judith; Greenberg, Ellen (abril de 2000). «The New York State Universal Newborn Hearing Screening Demonstration Project: Outpatient Outcome Measures». Ear and Hearing (2): 104–117. ISSN 0196-0202. doi:10.1097/00003446-200004000-00005. Consultado em 24 de maio de 2023 
  6. Mehl, Albert L.; Thomson, Vickie (1 de janeiro de 1998). «Newborn Hearing Screening: The Great Omission». Pediatrics (1): e4–e4. ISSN 1098-4275. doi:10.1542/peds.101.1.e4. Consultado em 24 de maio de 2023 
  7. Silva, Luiz Henrique Soares da; Infante, Breno; Queiroz, Aulisângela da Silva; Arouche, Joab de Souza (2021). «UMA ABORDAGEM FONOAUDIOLÓGICA SOBRE OS IMPACTOS DA DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR NA AUDIÇÃO DE PACIENTES IDOSOS». Editora Inovar: 382–392. ISBN 978-65-80476-87-9. Consultado em 24 de maio de 2023 
  8. Bess, Fred H.; Tharpe, Anne Marie (1 de agosto de 1984). «Unilateral Hearing Impairment in Children». Pediatrics (2): 206–216. ISSN 0031-4005. doi:10.1542/peds.74.2.206. Consultado em 25 de maio de 2023 
  9. McCreery, Ryan (junho de 2014). «Approaching Unilateral Hearing Loss from Both Sides». The Hearing Journal (6). 28 páginas. ISSN 0745-7472. doi:10.1097/01.hj.0000451362.78466.7c. Consultado em 25 de maio de 2023 
  10. Oakley, Ed (2007). «Lesión vertebral». Elsevier: 639–648. Consultado em 25 de maio de 2023 
  11. Durieux-Smith, A.; Fitzpatrick, E.; Whittingham, J. (janeiro de 2008). «Universal newborn hearing screening: A question of evidence». International Journal of Audiology (1): 1–10. ISSN 1499-2027. doi:10.1080/14992020701703547. Consultado em 25 de maio de 2023 
  12. McKay, Sarah; Gravel, Judith S.; Tharpe, Anne Marie (março de 2008). «Amplification Considerations for Children With Minimal or Mild Bilateral Hearing Loss and Unilateral Hearing Loss». Trends in Amplification (1): 43–54. ISSN 1084-7138. doi:10.1177/1084713807313570. Consultado em 25 de maio de 2023 
  13. Petroni, Lucas (2 de setembro de 2012). «Os Fundamentos Teóricos do Liberalismo». Leviathan (São Paulo) (5). 102 páginas. ISSN 2237-4485. doi:10.11606/issn.2237-4485.lev.2012.132312. Consultado em 26 de maio de 2023 

Ver também editar

Ligações externas editar

Bibliografia editar

  • TRIGUEIRO, Charles de Sousa. Discriminação por graus de deficiência: as súmulas do STJ para visão monocular e surdez unilateral. 1 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.