Delia Akeley

exploradora, antropologista, primatologista norte americana

Delia Julia Akeley (1869 -1970), conhecida pelo o seu apelido, Mickie, foi uma exploradora americana. Foi pioneira no estudos dos primatas e das tribos que viviam isoladas do mundo, definindo parâmetros para as futuras investigações em zoologia, primatologia e antropologia[1][2][3]

Delia Akeley
Delia Akeley
Nascimento 5 de dezembro de 1869
Beaver Dam
Morte 22 de maio de 1970
Daytona Beach
Cidadania Estados Unidos
Cônjuge Carl Ethan Akeley
Ocupação explorador, fotógrafa
Empregador(a) Museu Field de História Natural
Causa da morte doença

Primeiros anos editar

Delia Julia Akeley nasceu a 5 de Dezembro de 1869 e não em 1875, como aparece em grande parte das biografias publicadas. Era natural de Beaver Dam, no estado de Wisconsin e era filha dos imigrantes irlandeses Patrick e de Margaret Denning.[4][5]

No final da adolescência, Mickie fugiu de casa e foi para Milwaukee, onde se casou com Arthur Reiss, um barbeiro, em 1889.[6][7][5]

Com Carl E. Akeley editar

Em Milwaukee, conheceu o taxidermista, artista e inventor Carl E. Akeley, que trabalhava no Museu Público de Milwaukee. Delia e Reiss divorciaram-se e em 1902 Delia casou-se com Akeley, que havia se tornado taxidermista-chefe no então Field Columbian Museum, em Chicago, mais tarde renomeado de Field Museum of Natural História. É durante este período que ele, ajudado por Delia, cria os seus inovadores dioramas conhecidos como Four Seasons of the Virginia Deer .[8][9][10][11][5]

 
Delia Akeley (1906)

Para além de o ajudar a construir os dioramas, Delia acompanhou-o nas expedições africanas que tinham como objectivo recolher exemplares de animais para as exposições das secções africanas não do museu Field como também do Museu Americano de História Natural de Nova York,  para o qual Carl concebeu o grande Salão da África. É durante estas viagens que o interesse de Delia em estudar os primatas e povos poucos conhecidos surge.[12]

O maior dos elefantes africanos expostos, conhecidos como "Touros de luta", no salão principal do Museu de Field, foi morto por Delia na expedição de 1906; ela também matou um dos membros do grupo de elefantes exposto no Salão Africano no Museu Americano de História Natural numa expedição que entre 1909 e 1911 para esse museu. Apesar de ser uma grande atiradora, ela não acreditava na caça desportiva. Achava que só se devia caçar para comer, legitima defesa ou para arranjar exemplares de animais para exposições.[11][13][1]

No Quénia, enquanto caçava, acompanhado por carregadores e ajudantes, os elefantes que formariam a mais importante de todas as exibições no Salão Africano do Museu Americano de História Natural, Carl Akeley foi atacado por um elefante macho e abandonado pelos que iam com ele que entraram em e fugiram pensando que ele tinha morrido. É encontrado vivo mas gravemente ferido por Delia que fora buscar o seu corpo. Ela levou-o para um hospital e ficou ao lado dele até ficar bom.[14]

Durante este período o interesse Delia em estudar primatas e os seus habitats amplificou-se. Em 1920, o casal regressou a Nova York, acompanhado por um macaco de estimação chamado "JT Jr.", que tinham adquirido numa das suas últimas expedições ao Quénia. Uma vez em Nova York, Carl Akeley dedicou o seu tempo a angariar dinheiro para o museu, a esculpir modelos para seus dioramas, entre outras actividades. Por sua vez, Delia dedicou-se a cuidar e estudar o macaco JT. Ao observar o seu comportamento e o de outros macacos, ela concluiu que eles tinham uma linguagem própria e que muito provavelmente seriam capazes de comunicar com humanos. Estas conclusões pioneiras, seriam a base do trabalho desenvolvido por primatologistas como Dian Fossey e Jane Goodall.[15][12]

Tanto Bodry-Sanders quanto Kirk, seus biógrafos, sugerem que a obsessão de Delia pelo macaco, o seu crescente isolamento do mundo exterior, somado ao facto de Carl ter arranjado uma amante, contribuíram para a deterioração do casamento, que termina em divórcio em 1923. Carl alegou que ela abandonara o lar ao juntar-se ao corpo expedicionário do exército norte-americano em França, durante a primeira grande guerra; ela contra-ataca e acusa-o de crueldade. Seis semanas depois ela deixa todos atónitos ao partir sozinha para África, numa expedição comandada por ela.[10][12]

Após o divórcio editar

Em 1923, após o seu divórcio, Delia  parte novamente para África com o apoio do Museu de Brooklin, tornando-se na primeira mulher a liderar uma expedição a África com o patrocínio de um museu. Foi também a primeira a atravessar África, a explorar o deserto entre o Quénia e a Etiópia e a subir de canoa o rio Tana a partir do Oceano Índico.[2][16]

Rompendo com as convenções, fez-se acompanhar apenas por africanos que treinou para ser serem seus assistentes no terreno. Segundo ela isto facilitaria o contacto com as populações das aldeias por onde passassem, pois seria mais fácil ela aproximar-se das mulheres de maneira a obter informações fidedignas sobre a cultura e costumes das tribos.[2][16][11][3][17]

Viveu vários meses com os pigmeus da Floresta Ituri, no Zaire. Durante o período em que viveu com eles estudou a sua cultura e os seus costumes. Nas suas expedições ela reuniu inúmeros artefactos que estão expostos em vários dos grandes museus dos Estados Unidos.[17][2][3]

Para além disto, filmou as suas expedições e tirou mais de 1000 fotografias que documentam não só o seu trabalho etnográfico como também as novas espécies de pássaros, antílopes e outros que vai descobrindo nas suas viagens. Publicou parte delas no seu livro Jungle Portraits em 1930.[17][16][3]

A 4 de Janeiro de 1939, ela casou-se com o Dr. Warren D. Howe, um empresário que morreu em 1951.[10][5][18]

Delia Akeley morreu em 1970 com 100 anos.[10][5]

Publicou editar

Delia escreveu dois livros: [19]

  • Delia J. Akeley, JT Junior: The Biography of an African Monkey, Macmillan Company, 1929, OCLC 547783
  • Delia Akeley, Jungle Portraits, The Macmillan Company, 1930[20][17]

Escreveu artigos para jornais e revistas, entre eles, o Saturday Evening Post, Collier's, e Century.[2]

Homenagens e reconhecimento editar

Em 1946, o seu nome constava da lista da Who's Who in America desse ano.[21][18][10]

Existe uma cratera em Vénus com o seu nome.[22][23]

A sua vida tem sido contada e mencionada em vários livros, entre eles:

- Women explorers in África, escrito por Margo MacLoone e publicado em 1997.[24]

- As Destemidas (Les Culottées), livro de banda desenhada da ilustradora Pénélope Bagieu que deu origem a uma série televisiva que foi transmitida em vários países, nomeadamente: França e Portugal.[25]

Ligações Externas editar

Episódio da série Destemidas dedicado a Delia (versão portuguesa)

Referências

  1. a b McLoone, Margo (1997). Women Explorers in Africa: Christina Dodwell, Delia Akeley, Mary Kingsley, Florence Von Sass-Baker, Alexandrine Tinne (em inglês). [S.l.]: Capstone 
  2. a b c d e «Delia Julia Akeley | Encyclopedia.com». www.encyclopedia.com. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  3. a b c d Olds, Elizabeth Fagg (1999). Women of the Four Winds (em inglês). [S.l.]: Houghton Mifflin Harcourt 
  4. «U.S. Census, 1880». U.S. National Archives and Records Administration (NARA). Consultado em 8 de maio de 2016 
  5. a b c d e «Delia Julia Denning Howe (1869-1970) – Memorial...». pt.findagrave.com. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  6. «Wisconsin Marriages, 1836-1930». Family Search database. Consultado em 8 de maio de 2016 
  7. «La aventurera solitaria, Delia Akeley (1875-1970) | Ciencia y más». Mujeres con ciencia (em espanhol). 6 de março de 2020. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  8. Kirk, Jay (2010). Kingdom Under Glass. Holt. [S.l.: s.n.] 
  9. Bodry-Sanders, Penelope (1998). African Obsession: The Life and Legacy of Carl Akeley. Batax. [S.l.: s.n.] 
  10. a b c d e «Mrs. Delia Akeley Howe Dead; Explorer and Hunter in Africa». The New York Times Archives. 1970. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  11. a b c Our Amazing Planet Staff (30 de abril de 2012). «8 Unsung Women Explorers». LiveScience.com 
  12. a b c Duncan, Joyce (2002). Ahead of Their Time: A Biographical Dictionary of Risk-taking Women (em inglês). [S.l.]: Greenwood Publishing Group 
  13. Akeley, Carl (1915). «Elephant Hunting on Mt. Kenya: A Woman Wins Record pair of Elephant Tusks for a Sportsman's License in British East Africa». The American Museum Journal. 15: 323–28. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  14. Delia Akeley, "Jungle Rescue", Jungle Portraits, pg. 249 (The MacMillan Company, 1930).
  15. Carl Akeley's Fighting African Elephants (em inglês), consultado em 13 de maio de 2020 
  16. a b c «The Expeditionists | New York Art Resources Consortium». www.nyarc.org. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  17. a b c d Jungle Portraits, pp. 159-229, https://archive.org/details/jungleportraits010095mbp/page/n29/mode/2up
  18. a b «Dr. Warren D. Howe weds Mrs. Delia Akeley, Explorer». Chicago Sunday Tribune. 29 de janeiro de 1939. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  19. «Delia Julia Akeley | Encyclopedia.com». www.encyclopedia.com. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  20. «Jungle Portraits». www.goodreads.com. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  21. «Delia Akeley Howe, Explorer, Dies». Daytona Beach Sunday News-Journal. 24 de maio de 1970. Consultado em 5 de setembro de 2020 
  22. «Akeley». We Name The Stars (em inglês). Consultado em 4 de setembro de 2020 
  23. «Planetary Feature List». ode.rsl.wustl.edu. Consultado em 4 de setembro de 2020 
  24. McLoone, Margo (1997). Women Explorers in Africa: Christina Dodwell, Delia Akeley, Mary Kingsley, Florence Von Sass-Baker, Alexandrine Tinne (em inglês). [S.l.]: Capstone 
  25. «Culottées». www.france.tv (em francês). Consultado em 4 de setembro de 2020