Dependência psicológica

Dependência psicológica é a necessidade de determinado comportamento para viver normalmente e se sentir confortável.[4] Está fortemente associada às drogas, que podem causar dependência tanto psicológica quanto física. A dependência psicológica pode aparecer independentemente e é de tratamento lento e difícil, diferentemente da dependência física.[5]

Síndrome de dependência[1][2]
Dependência psicológica
Ilustração de campanha em combate ao alcoolismo do governo da Eslovénia. O consumo de álcool está associado a 3,2% de todas as mortes no mundo.[3]
Classificação e recursos externos
CID-10 No caso de drogas: (F1X.2)
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Definição e funcionamento editar

A dependência psicológica se caracteriza pela relação entre a pessoa e o objeto de seu vício. Caso abstenha-se do uso daquela atividade, ela passará por stress e mal-estar, então sente que deve utilizar a substância. São frequentemente presentes nas drogas que causam dependência psicológica efeitos como o relaxamento, alegria, euforia e sensação de poder e percepção maiores.[6] A dependência trata-se da troca de prioridades de um indivíduo onde, devido aos bons estímulos conseguidos, comportamentos mais frequentes tornam-se obsoletos e o comportamento vicioso cresce em importância. A dependência define-se, então, como a relação de uma pessoa com uma atividade que traz danos biológicos ou sociais que está fora do controle deste indivíduo.[7]

O funcionamento biológico da dependência psicológica dá-se no sistema de recompensa do cérebro. As atitudes que nos causam a sensação de prazer estão sendo encorajadas com esta sensação pelo sistema. É pela ativação farmacológica do sistema de recompensa que funciona uma droga e é esta a principal razão pela qual são viciantes. Não só operam ativando este sistema, mas algumas drogas o aceleram consideravelmente. A heroína aumenta a frequência de liberação neural de dopamina. A cocaína, por sua vez, aumenta a disponibilidade de dopamina na atividade cerebral.[8] Caracteriza-se como um vício a descontrolada necessidade de usar algo para ativar uma recompensa cerebral, de forma que a busca por aquilo causa consequências sociais e comportamentais maléficas para o indivíduo.[9] É desta forma que, usando uma droga, uma pessoa obtém prazer. Pois o fármaco ative o sistema de recompensa do cérebro. Por este motivo, as drogas que lidam com o humor, sensações e as que afetam o sistema nervoso central são as mais propensas a causar dependência psicológica.[6] Pelo mesmo motivo, o LSD não causa dependência porque apenas produz alucinações, não dando prazer algum.[9][10] É importante compreender que não simplesmente por ser capaz de ativar o sistema de recompensas uma substância está causando dependência psicológica, pois nesta visão o açúcar seria igualmente problemático. A inabilidade de controlar a frequência e a necessidade de satisfação para manter-se confortável com a própria consciência são de fato o que constituem a dependência psicológica.[11]

Sinais e sintomas editar

 
Existem muitas similaridades entre o vício em jogo, em sexo, em comida, ou em musculação e o vício em drogas. Muitos sintomas são os mesmos e o tratamento também é bastante voltado para o desenvolvimento de tolerância a frustrações e auto-controle.

Os sintomas mais comuns:

  • Muita ansiedade;
  • Dificuldade de concentração;
  • Desejo constante e persistente pela fonte do vício;
  • Problemas de sono (dormir muito mais, acordar várias vezes ou ter insônia);
  • Alteração bem significativa na alimentação (comer muito mais ou muito menos);
  • Inquietude;
  • Mau humor;
  • Irritabilidade e impaciência;
  • E agressividade (voltada a outros e/ou a si mesmo).

É difícil diferenciar quais são sintomas de dependência química e quais são de dependência psicológica pois frequentemente elas ocorrem juntas. Porém, mesmo em vícios a estímulos que não causam dependência química (como jogos), esse sinais e sintomas são comuns.

Comorbidades comuns editar

A dependência psicológica se relaciona bastante como comorbidade de algumas patologias como:

Recaídas editar

Sem a presença do estímulo, caso a pessoa não tenha estrutura psicológica para tolerar frustrações e lidar com sensações desagradáveis é altamente provável (mais de 80% dos casos) que ela entre em depressão e eventualmente retorne ao vício. Isso é ainda mais marcante no vício a drogas psicotrópicas (inclusive álcool e cigarro).[5]

Tratamento editar

A terapia analítico-comportamental e terapia cognitivo-comportamental são as mais eficientes no tratamento de dependências, sendo mais eficazes quando associadas a tratamento farmacológico adequado para o transtorno primário (geralmente antidepressivo ou estabilizante de humor). Clínicas de reabilitação são recomendadas para os casos mais graves.

O principal foco do tratamento geralmente é:

  • Desenvolver maior tolerância a frustrações (resiliência);
  • Desenvolver comportamentos mais saudáveis para lidar com a ansiedade;
  • Aumentar o autocontrole diante do estímulo prazeroso;
  • Melhorar as habilidades sociais, para que o indivíduo não dependa do vício para se socializar;
  • Formar e manter uma rede de apoio e proteção.

É comum que instituições religiosas ofereçam apoio para tratamento de vícios, e algumas pessoas preferem e reagem melhor a esse apoio, porém o tratamento não depende de religiões para ser eficiente. Existem hospitais e clínicas especializadas que fornecem tratamento independente de filiação religiosa.

Referências

  1. José Antônio Zago. «Uma teoria sobre a reinstalação da síndrome de dependência de drogas». Academia Brasileira de Psicologia. Consultado em 5 de fevereiro de 2011 
  2. Analice Gigliotti, Marco Antonio Bessa (2004). «Síndrome de Dependência do Álcool: critérios diagnósticos». São Paulo. Revista Brasileira de Psiquiatria. 26. ISSN 1516-4446 
  3. Instituto Nacional de Câncer (2003). «Inquérito Domiciliar sobre Comportamentos de Risco e Morbidade Referida de Doenças e Agravos não Transmissíveis» (PDF). inca.gov.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2012 
  4. Centre for Addiction and Mental Health (Centro para a Dependência e Saúde Mental). «What is addiction?». Addiction: An information guide. Consultado em 5 de fevereiro de 2012 
  5. a b Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. «Dependência». Universidade Federal de São Paulo. Consultado em 5 de fevereiro de 2011  line feed character character in |autor= at position 34 (ajuda)
  6. a b «Dependência e toxicomania - Secção 7 : Perturbações mentais - Manual Merck para a Família». MSD. Merck & Co., Inc. 2002. Consultado em 5 de fevereiro de 2012 
  7. Howard J. Shaffer, Ph.D., C.A.S. «What is Addiction?: A Perspective». Cambridge Health Alliance. Consultado em 5 de fevereiro de 2011 
  8. Addiction Science Network (28 de março de 1998). «The Biological Basis of Addiction». addictionscience.net. Consultado em 5 de fevereiro de 2011 
  9. a b Drauzio Varella. «Dependência química». drauziovarella.com.br. Consultado em 5 de fevereiro de 2012 
  10. Passie T, Halpern JH, Stichtenoth DO, Emrich HM, Hintzen A (2008). «The Pharmacology of Lysergic Acid Diethylamide: a Review» (PDF). CNS Neuroscience & Therapeutics. 14 (4): 295–314. PMID 19040555. doi:10.1111/j.1755-5949.2008.00059.x 
  11. Michael A. Bozarth (1994). «Pleasure Systems in the Brain». Universidade Estadual de Nova Iorque em Buffalo. Consultado em 5 de fevereiro de 2012