Distúrbios no Gabão em 2016

Distúrbios no Gabão em 2016[1] referem-se a violência ocorrida no Gabão após a eleição presidencial de 27 de agosto de 2016, na qual o presidente Ali Bongo Ondimba foi reeleito por estreita margem de votos contra o candidato da oposição Jean Ping; confrontos armados entre partidários de Ping, que reivindicaram vitória, e as forças governamentais eclodiram, resultando em bloqueio da internet pelas autoridades em Libreville.[2][3]

Distúrbios no Gabão em 2016
Data 31 de agosto - 1 de setembro de 2016
Local Gabão
Casus belli Resultados da eleição presidencial
Comandantes
Ali Bongo Ondimba Jean Ping

Eventos editar

A violência eclodiu em pelo menos nove dos bairros de Libreville quando os resultados oficiais da eleição foram anunciados em 31 de agosto de 2016, mostrando uma vitória estreita para o presidente Bongo,[4] e os manifestantes incendiaram o edifício do parlamento nacional.[5] Os tumultos e a violência continuariam em 1 de setembro. A sede de Ping foi cercada e bombardeada por um helicóptero da guarda presidencial, matando duas pessoas.[6][4] Tiros e explosões foram ouvidos no bairro de Nkembo.[4] De acordo com um morador local, as forças do governo atacaram uma estação de rádio e de televisão da oposição.[7] Alguns saques foram relatados.[4] Cerca de 1.100 pessoas teriam sido presas enquanto as forças de segurança lutavam para reprimir os tumultos. Pacôme Moubelet-Boubeya, o ministro do Interior, condenou a violência e acusou Ping e outros líderes da oposição de orquestrá-la; e também afirmou que os amotinados estavam armados com AK-47s e granadas, embora a oposição negasse isso. O presidente Bongo rotulou os líderes da oposição como "um pequeno grupo cujo único objetivo é tomar o poder para si mesmos".[8]

Em 31 de agosto, as principais empresas de telecomunicações do Gabão cortaram o acesso à internet.[9][10]

Também em 1º de setembro, Jean Ping novamente afirmou ter vencido a eleição e declarou que "a única solução é que Bongo reconheça a derrota". Ele declarou que não iria se preocupar em recorrer a Corte Constitucional porque esta era "uma ferramenta da autoridade governante" que apenas seguia ordens; em vez disso, apelou à comunidade internacional para intervir em face da repressão do governo. Rejeitando os clamores para que publicasse os resultados de cada posto de votação, o governo declarou que isso só poderia ser feito se a oposição seguisse o processo legal e apelasse para a Corte Constitucional.[8]

Em 2 de setembro, a situação em Libreville parecia estar começando a voltar ao normal, embora houvesse uma forte presença de forças de segurança que mantinham a ordem. Enquanto isso, Ping realizou uma conferência de imprensa e declarou-se presidente.[11] Ele convocou uma greve geral para 5 de setembro: "Peço-vos que a partir de hoje em diante não usem violência, mas para que resistam, bloqueando a economia do país". No entanto, a atividade comercial em Libreville foi relatada como prosseguindo de forma relativamente normal. O acesso à internet foi restaurado. Também em 5 de setembro, Séraphin Moundounga, o ministro da Justiça, renunciou para protestar contra a falta de vontade do governo em conduzir uma recontagem, o que argumentou estar levando à violência.[12]

Apesar de suas críticas anteriores a Corte Constitucional, Ping recorreu ao Tribunal em 8 de setembro, na esperança de forçar uma recontagem na província de Haut-Ogooué.[13] Ping alertou no dia 9 de setembro que se a Corte não decidisse a favor de uma recontagem, uma "instabilidade profunda e prolongada" poderia ocorrer.[14]

Após a eleição, o governo planejou realizar um "diálogo político inclusivo" para ajudar a resolver a discórdia em curso. Enquanto cerca de 50 partidos políticos e 1.200 organizações fossem esperadas para participar do diálogo, Jean Ping e seus partidários, reunidos na Coalizão para a Nova República, se recusaram a participar. O diálogo estava previsto para começar em 28 de março de 2017.[15]

Referências

  1. Distúrbios no Gabão] - Ministério das Relações Exteriores do Brasil
  2. «Violence After Gabon Elections Leaves One Dead». New York Times. 1 de Setembro de 2016 
  3. «Distúrbios diminuem no Gabão, na África, após disputa eleitoral». Folha de S.Paulo. 3 de setembro de 2016 
  4. a b c d «Three killed, hundreds arrested as postelection riots rage in Gabon». The Globe and Mail. 1 de Setembro de 2016 
  5. «Gabon opposition headquarters 'bombed by presidential guard'». Guardian. 1 de Setembro de 2016 
  6. «Gabon presidential guard 'bombed Jean Ping's party HQ'». BBC. 1 de Setembro de 2016 
  7. «Gabon election 2016: Clashes as Bongo beats Jean Ping». Al Jazeera. 1 de Setembro de 2016 
  8. a b Gerauds Wilfried Obangome, "Over 1,000 arrested as post-election riots rage in Gabon", Reuters, 1 de Setembro de 2016.
  9. John Graham-Cumming, "Unrest in Gabon leads to Internet shutdown", Cloudflare, 1 de Setembro de 2016
  10. Koebler, Jason (9 de Setembro de 2016). «Gabon Is Suffering the 'Worst Communications Suppression Since the Arab Spring'». Motherboard (em inglês). Vice Media 
  11. Gerauds Wilfried Obangome, "Gabon's Ping declares himself president after post-poll riots", Reuters, 2 de Setembro de 2016.
  12. Gerauds Wilfried Obangome, "Gabon opposition leader urges general strike after disputed election", Reuters, 5 de Setembro de 2016.
  13. Gerauds Wilfried Obangome, "Gabon opposition leader challenges vote as mediation mission postponed", Reuters, 8 de Setembro de 2016.
  14. Gerauds Wilfried Obangome, "Gabon faces 'sustained instability' if no presidential vote recount: Ping", Reuters, 9 de Setembro de 2016.
  15. "Bongo lance son « dialogue politique » sans Ping dans un Gabon sous tension", Agence France-Presse, 26 de Março de 2017 (em francês).