A doença/síndrome de Haff ou doença da urina preta se caracteriza pelo desenvolvimento da rabdomiólise (inchaço e destruição do músculo esquelético, com risco de insuficiência renal aguda) nas primeiras 24 horas após a ingestão de peixe.[2]

Doença de Haff
Doença de Haff
Foto de satélite da Lagoa do Vístula, antes conhecida como Frisches Haff. A doença de Haff foi relatada primeiro em Königsberg.[1]
Especialidade medicina de urgência
Classificação e recursos externos
DiseasesDB 33568
A Wikipédia não é um consultório médico. Leia o aviso médico 

Sinais e sintomas editar

Boca seca, dormência nas coxas ou no corpo inteiro, dores nas costas e cólicas estomacais também são relatados, mas vistos com menos frequência.[3]

História editar

Os primeiros relatos da doença aconteceram pela  primeira vez em 1924 na região de Königsberg, Alemanha (agora Kaliningrado, Rússia) na costa do Báltico, em pessoas que ficavam ao redor da parte norte da Lagoa do Vístula (em alemão: Frisches Haff).[4]

Após quinze anos, cerca de 1000 casos foram relatados em pessoas, pássaros e gatos, geralmente no verão e no outono, e uma ligação foi feita com o consumo de peixes (Lota lota, enguia e lúcio ). Desde aquela época, apenas relatórios ocasionais apareceram sobre a doença, principalmente da União Soviética e da Alemanha

Em 1997, seis casos da doença de Haff foram relatados na Califórnia e no Missouri, todos após o consumo de peixe búfalo (Ictiobus cyprinellus).[5]

Em julho e agosto de 2010, dezenas de pessoas contraíram rabdomiólise após comer Procambarus clarkii em Nanjing, China . Um mês depois, as autoridades chinesas alegaram que eles foram vítimas da doença de Haff.[6]

Um surto foi relatado no Brooklyn, Nova York, em 18 de novembro de 2011, quando dois membros da família foram atingidos pela síndrome depois de comer peixe búfalo. Em 4 de fevereiro de 2014, dois casos de doença de Haff foram relatados no Condado de Cook, Illinois, após o consumo de peixe búfalo.[7]

Toxicidade editar

A natureza exata da toxina encontrada no peixe ainda não está esclarecida. Durante o surto ocorrido nos Estados Unidos, uma toxina lipossolúvel foi identificada pelo Centers for Disease Control and Prevention em outros peixes da mesma origem, com produção de sintomas semelhantes em ratos.[8][9]

Casos no Brasil editar

Um surto da doença de Haff aconteceu na Bahia, que durou de dezembro de 2016 a abril de 2017,[10] com 67 casos identificados. Em agosto de 2018, um casal de São Paulo, sudeste do Brasil, adoeceu e precisou ser internada após comer um peixe, conhecido como "arabaiana" ou "olho-de-boi", que haviam comprado na cidade de Fortaleza, Estado do Ceará, e que parecia "perfeito". No dia seguinte à internação, as pacientes já apresentavam alteração na urina, que, segundo a mulher que adoeceu, estava muito escura, parecia mesmo Coca-Cola.[carece de fontes?]

Em 2 de março de 2021, uma mulher de 31 anos de Recife, morreu de doença de Haff consumir o peixe arabaiana.[11] Em setembro de 2021, novos casos foram relatados no estado do Pará com o consumo de peixes em mal acondicionamento, acarretando na morte de um homem na cidade de Santarém.[12][13]

Referências

  1. Haff disease em Dicionário Médico de Dorland
  2. Buchholz U, Mouzin E, Dickey R, Moolenaar R, Sass N, Mascola L (2000). «Haff disease: from the Baltic Sea to the U.S. shore». Emerging Infect. Dis. 6 (2): 192–5. PMC 2640861 . PMID 10756156. doi:10.3201/eid0602.000215 
  3. Linda Herman, Christine Bies. «Haff Disease: Rhabdomyolysis After Eating Buffalo Fish». Western Journal of Emergency Medicine. Consultado em 10 de setembro de 2021 
  4. Lentz O (1925). «Über die Haffkrankheit». Med Klin (em alemão). 1: 4–8 
  5. Centers for Disease Control and Prevention (CDC) (1998). «Haff disease associated with eating buffalo fish--United States, 1997». MMWR Morb. Mortal. Wkly. Rep. 47 (50): 1091–3. PMID 9883771 
  6. 病征确由龙虾引发 与"Haff病"基本一致, consultado em 8 de setembro de 2010, cópia arquivada em 14 de março de 2016 
  7. State of Illinois Department of Public Health (4 de fevereiro de 2014). «Illinois Department of Public Health Warns of Buffalo Fish Causing Illness». Press Release. Consultado em 5 de fevereiro de 2014 
  8. Buchholz U, Mouzin E, Dickey R, Moolenaar R, Sass N, Mascola L (2000). «Haff disease: from the Baltic Sea to the U.S. shore». Emerging Infect. Dis. 6 (2): 192–5. PMC 2640861 . PMID 10756156. doi:10.3201/eid0602.000215 
  9. Kumagai, Michio (2003). Freshwater Management: Global Versus Local Perspectives. Berlin: Springer. 88 páginas. ISBN 978-4-431-00488-2 
  10. FIOCRUZ, Fundação Oswaldo Cruz (in Portuguese), "Estudo descreve surto de enfermidade conhecida como “doença da urina preta” em Salvador"; 28 July 2017, https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-descreve-surto-de-enfermidade-conhecida-como-doenca-da-urina-preta-em-salvador
  11. Aliny Gama (2 de março de 2021). «Veterinária que pegou 'doença da urina preta' morre em hospital de Recife». UOL. Consultado em 3 de março de 2021 
  12. «Doença da urina preta: estados registram casos de síndrome relacionada ao consumo de peixes». G1. 10 de setembro de 2021. Consultado em 10 de setembro de 2021 
  13. «Caso suspeito de 'doença da urina preta' é investigado em Belém». G1. 9 de setembro de 2021. Consultado em 10 de setembro de 2021 

Bibliografia editar

  • H. Assmann; unter Mitarbeit von H. Bielenstein, H. Habs, B. zu Jeddeloh: Beobachtungen und Untersuchungen bei der Haffkrankheit 1932. Deutsche Medizinische Wochenschrift, 59 (1933), S. 122–126. Zusammenfassung Online
  • B. zu Jeddeloh: Haffkrankheit. In: Ergebnisse in der inneren Medizin, 57 (1939), S. 138–182.
  • Georg Lockemann: Über das Vorkommen von Arsen im Frischen Haff. In: Angewandte Chemie, Bd. 39, Nr. 47, S. 1446–1449 vom 25. November 1926.
  • Georg Lockemann: Dritter Bericht über die Erforschung der Haffkrankheit. 1930.
  • Eberhard Neumann-Redlin von Meding: Königsberger Haffkrankheit. In: Königsberger Bürgerbrief, Nr. 76 (2010), S. 57–58.
  • Jürgen W. Schmidt: Die „Haffkrankheit“ in Ostpreussen im Herbst 1932. In: Jahrbuch Preußenland, 47/2 (2009), S. 57–60.
  • Jochen Thümmler: Die Haffkrankheit. Frühes Modell eines Umweltschadens im Spannungsfeld von medizinischen und gesellschaftlichen Interessen. Med. Diss. RWTH Aachen 1995. 230 S. Lit.Verz. [332 Titel], 22 Abb., 5 Tab.
  • Peter Voswinckel: Der Schwarze Urin. Vom Schrecknis zum Laborparameter. Urina nigra. Alkaptonurie; Hämoglobinurie; Myoglobinurie; Porphyrinurie; Melanurie. Blackwell Wissenschaft: Berlin 1992, 282 S., 58 Abb., 16 Farbtaf. ISBN 3-89412-123-8. Hier: Haffkrankkeit S. 178–185.