Emigração italiana

A emigração italiana (ou diáspora italiana) foi um fenômeno social iniciado nas últimas décadas do século XIX e que continuou grande até meados do século XX. A diáspora italiana foi o maior movimento migratório não forçado da história. Entre as décadas de 1880 e 1980, cerca de 15 milhões de italianos deixaram o país permanentemente.[1][2]

Mapa da diáspora italiana no mundo por número.
  Itália
  + 10.000.000
  + 1.000.000
  + 100.000
  + 10.000

Histórico editar

O século XIX e o início do século XX foi um momento marcado por enormes ondas emigratórias na Europa. Entre 1800 e 1930, 40 milhões de europeus deixaram seus países em busca de melhores condições de vida, principalmente nas Américas.

Até meados do século XIX, a Península Itálica era dividida em diversos reinos, com dialetos e aspectos culturais distintos entre si. Em 1848 surgiram os primeiros passos para o processo da Unificação Italiana (Risorgimento), que só foi concluído em 1871. A Itália era um país formado por grandes discrepâncias sociais: o Norte entrava em um âmplo processo de industrialização, enquanto o Sul tinha sua economia baseada na agricultura.

Imigração italiana (1870-1970)[3]
País de destino Número de imigrantes recebidos (em milhões)
Estados Unidos 5,6
França 4,1
Suíça 3,0
Argentina 2,9
Alemanha 2,4
Brasil 1,5
Império Austro-Húngaro 1,1
Canadá 0,6
Bélgica 0,5
Austrália 0,4
Venezuela 0,2
Grã-Bretanha 0,2
Europa 12,5
Américas e Austrália 11,5
Total 24

O início da emigração editar

Antes mesmo da unificação, já existia a emigração de pessoas do que hoje conhecemos como a Itália, porém esse primeiro movimento foi pouco expressivo. Partindo do Norte da Itália, um número considerável de italianos iam em busca de melhores condições de trabalho em outros países europeus, nomeadamente a França, Suíça e Alemanha. Eram em sua maioria pessoas do sexo masculino que partiam por conta própria e, após trabalharem por alguns anos nesses países, retornavam para a Itália.

O fenômeno da emigração editar

Com a unificação italiana em 1871, a emigração tornou-se um fenômeno social na Itália. Entre 1871 e 1875, 126.395 italianos emigraram. No início da década de 1880 a saída de italianos já alcançava cifras notáveis. Os fatores dessa saída foram vários, sendo principalmente por motivos sócio-econômicos, seguido de razões políticas e pessoais. Nos primeiros anos, 80% dos emigrantes partiam do Norte da Itália. O fenômeno emigratório só chegou ao Sul da Itália no início do século XX, quando os sulistas passaram a dominar a fonte de saídas.

A emigração trans-oceânica passou a predominar neste momento, tendo os italianos três destinos principais: os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil e, em menor medida Uruguai, Chile e Venezuela. O Brasil absorveu a maior parte dos imigrantes italianos nos primeiros anos, sendo superado pela Argentina nos últimos anos do século XIX e os EUA tornaram-se o maior receptor de italianos no início do século XX.

O governo italiano nada fazia pelos emigrantes, que partiam à própria sorte e muitas vezes caíam em propagandas enganosas de emprego fácil para onde emigravam. A emigração só foi regulamentada em 1888, quando o governo passou a dar apoio àqueles que quisessem emigrar, porém, não lhes prestava nenhuma assistência se algo desse errado. No Brasil, por exemplo, milhares de italianos foram explorados nas fazendas de café, fato que só foi assistido em 1902, quando o governo italiano proibiu a imigração subsidiada para o Brasil.

O governo percebeu que a emigração era algo lucrativo: os emigrantes vendiam tudo o que tinham na Itália e mandavam dinheiro para os parentes que ficaram. Além disso, o governo estava se livrando de uma grande massa de camponeses e desempregados.

A maciça emigração italiana ocorreu até 1914. Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial, o número de emigrantes italianos sofreu um processo de baixa, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Após as duas guerras, a Itália estava destruída e precisava de braços para reeguer o país, fazendo com que a emigração se tornasse pouco expressiva.


Emigração italiana
 
Década
Nacionalidade 1871-75 1876-80 1881-85 1886-90 1891-95 1896-00 1901-05 1906-10 1911-12 1913
Italianos 126.395 108.796 154.141 221.699 256.510 310.434 554.050 651.288 622.645 872.598

A vida do emigrante italiano editar

Estados Unidos editar

 
Imigrantes italianos em Mulberry Street, Manhattan: hoje a rua faz parte da Little Italy.

Nos Estados Unidos, os italianos começaram a chegar em maior número em 1876 e chegaram aos milhões entre 1910 e 1920. Eram em sua maioria homens camponeses da Sicilia, que viraram trabalhadores urbanos no Nordeste do país, sobretudo na região de Nova Iorque. Vítimas de preconceito, os italianos se aglomeravam em bairros pobres nas periferias das cidades, fazendo trabalhos pouco remunerados, razão da qual muitos retornaram para a Itália. Agarrados às suas origens, os italianos se uniam em grandes comunidades, vivendo em bairros inteiros formados por italianos, como é o caso de Little Italy. A crescente indústria norte-americana precisava de trabalhadores e em pouco tempo a comunidade italiana tornou-se uma das mais prósperas dos Estados Unidos da América.

Argentina editar

 Ver artigo principal: Imigração italiana na Argentina

Atraídos pela promessa de terras e empregos, os emigrantes italianos formaram o grosso da imigração na Argentina, superando inclusive os espanhóis. A maioria era proveniente do Piemonte, da Calábria e da Sicília e se destinou à região urbana de Buenos Aires, enquanto outros tornaram-se agricultores nas províncias de Santa Fé, Cordoba,Mendoza e no interior da provincia de Buenos Aires..[4]


Italianos na Argentina.
Ano População estrangeira População italiana % italianos sobre estrangeiros % italianos sobre população total
1869 210.000 71.000 33,8 4,3
1895 1.007.000 493.000 48,9 12,5
1914 2.391.000 942.000 39,4 11,9
1947 2.436.000 786.000 32,3 4,9
1960 2.604.000 878.000 33,7 4,4
1970 2.193.000 637.000 29,0 2,7
 
Italianos embarcando na Itália com destino ao Brasil, 1910.

Brasil editar

 Ver artigo principal: Imigração italiana no Brasil

Os italianos emigraram em grande número para o Brasil entre o final do século XIX e início do século XX. Eram em sua maioria famílias inteiras de camponeses do Norte da Itália a maioria do Veneto que foram atraídos pelo governo brasileiro para se tornarem agricultores no Sul do país e, posteriormente, trabalharem na colheita de café na região de São Paulo.

Imigração italiana para o Brasil
Fonte: (IBGE)
 
Década
Nacionalidade 1884-1893 1894-1903 1904-1913 1914-1923 1924-1933 1945-1949 1950-1954 1955-1959
Italianos 510.533 537.784 196.521 86.320 70.177 15.312 59.785 31.263

Ver também editar

Referências

  1. Ben-Ghiat & Hom, "Introduction" para Italian Mobilities (Routledge, 2016)
  2. Favero, Luigi; Tassello, Graziano (1978). Cent'anni di emigrazione italiana (1876-1976). Roma: Cser 
  3. http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/18345/000725735.pdf?sequence=1
  4. BAILY, Samuel L. Immigrants in the Lands of Promise: Italians in Buenos Aires and New York City: 1870 to 1914.

Ligações externas editar