Ensopado de turu

prato típico paraense

O ensopado de turu ou caldo de turu é um prato típico paraense, cujo ingrediente principal é o molusco turu (Neoteredo reynei, usualmente), coletado em madeiras e troncos de árvores apodrecidos depositados em mangues.[1]

Ensopado de turu
Categoria prato principal
País Brasil
Região Pará
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Histórico editar

O consumo do turu por populações indígenas residentes próximas a mangues, remonta a tempos pré-históricos. Os turus perfuram e vivem nas raízes das árvores do mangue, bem como em todo tipo de madeira que ali vá parar.[1]

No século XVIII, o padre jesuíta João Daniel, autor de Tesouro descoberto no máximo Rio Amazonas, descreve o consumo do turu por indígenas e europeus como repulsivo, visto que o molusco lembra uma lombriga:[2]

(...) fazem dessas minhocas, ou lombrigas, pratinhos de muita estimação, e apreço, e ainda muitos brancos; para o que vão nas vazantes pelas praias de lodo, abrem os paus podres, de que estão cheios os rios, e em breve espaço de tempo enchem pratos, ou cuias, que levam para casa, guisam, e se regalam.

O consumo entre os caboclos da atualidade não difere muito daquele descrito pelo jesuíta: ele ainda é consumido in natura no próprio lugar onde é apanhado, após ter as tripas removidas com o auxílio de um espinho ou graveto. Numa concessão à modernidade, pode ainda ser temperado com sal, limão e pimenta.[3]

Importância econômica editar

O turu é uma importante fonte de alimento para comunidades tradicionais que vivem da coleta nos manguezais paraenses, notadamente na Ilha de Marajó e demais regiões do Salgado Paraense.[1] É também considerado popularmente um medicamento que combate várias enfermidades, de tuberculose à disfunção erétil, particularmente se utilizado na forma de caldo.[3]

Embora não seja uma iguaria encontrada com facilidade mesmo nos grande centros paraenses, costuma ser vendida pelos catadores para comerciantes, que os revendem para restaurantes em Castanhal e inclusive Belém.[1]

Preparação e apresentação editar

Em cerca de 70% dos casos, o turu é consumido in natura pelos caboclos. Outros 20% o preferem cozido, e 10% não o consome, apenas vende. Dentre as formas de preparação, há o caldo, sopa, turu assado no espeto e até a moqueca de turu, da qual uma pescadora artesanal dá a receita:[1]

Tempera o turu com cebola, pimentinha, cominho e cheiro verde. Mistura com farinha e coloca na folha do anajá ou do guarumã, fecha a folha e amarra. Depois coloca na brasa, e quando a folha estiver tostada é o ponto de tirar

Na preparação do caldo de turu, a receita tradicional não leva água, pois o animal é cozido nos seus próprios fluidos, após ser temperado com sal, limão e salsa. Há também quem o engrosse adicionando farinha de mandioca fina, compondo o chamado "caribé", que é dado como fortificante para enfermos e convalescentes.[3]

Valor alimentício editar

O turu é uma importante fonte de carboidratos (entre 16% e 20% de sua composição centesimal, contra 3,53% do caranguejo-uçá, por exemplo), o que pode ser explicado pelo fato dele se alimentar de madeira, composta por celulose, e que é um polissacarídeo. Daí vem a fama do turu ser um alimento afrodisíaco, pois contribui para restaurar as energias de quem o consome.[1]

Todavia, e contrariando a opinião popular entre pescadores, o turu tem baixo valor protéico se comparado a outros pescados: entre 6,18 e 7,47% do valor centesimal, se comparado a 10,62% do camarão, 13,30% do caranguejo, 21,38% da lagosta, 14,19% da ostra e 12,67% do mexilhão.[1]

Os valores de lipídeos também são baixos, cerca de 0,33% a 0,39% da composição centesimal, contra 0,6% a 1,7% em mexilhões e 0,90% no caranguejo-uçá.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h Malu Amaral Afonso; Tamirys Pereira Correa. «caracterização de Turu (Neoteredo reynei) na reserva extrativista marinha de São João da Ponta-Pará» (pdf). Universidade do Estado do Pará. Consultado em 25 de junho de 2023 
  2. João Daniel. «Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas». Contraponto. Consultado em 25 de junho de 2023 
  3. a b c «Turu». Revista Nosso Pará On Line. Consultado em 25 de junho de 2023 

Ligações externas editar