Escola Carioca

Fase da Arquitetura Moderna Brasileira

Escola Carioca é um termo usado para identificar a arquitetura produzida principalmente entre os anos 1940 e 1950 por um grupo de arquitetos radicados no Rio de Janeiro, como Lúcio Costa e Oscar Niemeyer. O uso do termo não é consensual, com alguns autores lembrando que a produção carioca não era hegemônica e haviam, em diversas cidades brasileiras, produções parecidas e também variedade de estilos, mesmo entre os arquitetos que faziam parte da Escola Carioca.

O Ministério da Educação e Saúde (MES), atual Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro.

A Escola Carioca é considerada moderna, apesar de suas obras terem características regionais, sendo também conhecida como brazilian style — em referência ao international style. Um importante diferencial entre a arquitetura da Escola Carioca em relação a outras correntes modernas é a relação entre modernidade e tradição, criando uma nova linguagem arquitetônica sem desprezar totalmente o passado.

O Ministério da Educação e Saúde (MES) editar

 Ver artigo principal: Edifício Gustavo Capanema

O projeto e execução do Ministério da Educação e Saúde (MES), atual Edifício Gustavo Capanema, entre 1936 e 1943, pode ser considerado como um marco inicial dessa escola. O edifício foi desenhado por uma equipe liderada por Lúcio Costa, composta por Carlos Leão, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Ernani Vasconcelos e Oscar Niemeyer, tendo a consultoria do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. Esse é o primeiro edifício que incorpora em grande escala os cinco pontos da nova arquitetura - o brise-soleil, as janelas em fita, o terraço-jardim, térreo com pilotis e a planta livre, o que mostra o alinhamento do grupo com a produção do international style e da própria arquitetura corbusiana, mas, por outro lado, possui uma plasticidade diferente do modernismo de outros países, recuperando ainda elementos como os painéis de azulejo, identificados com o Brasil - os azulejos são de Cândido Portinari.[1]

A Escola Carioca como o Brazilian Style editar

Em 1943, é realizada uma exposição no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, chamada Brazil Builds, onde estavam expostos exemplares da produção arquitetônica brasileira. No ano seguinte, Mário de Andrade escreve sobre a importância dessa exposição, afirmando que "a primeira escola, o que se pode chamar legitimamente de 'escola' de arquitetura moderna no Brasil, foi a do Rio, com Lucio Costa à frente, e ainda inigualada até hoje". O termo Escola Carioca já era usado internamente, mas em pouco tempo, os termos Escola Carioca e Brazilian Style se tornam quase sinônimos, deixando a sensação de que a produção carioca era a produção brasileira, algo que vem sendo revisto pela historiografia da arquitetura desde os anos 1980.[2]

Obras e arquitetos editar

Apesar do nome, as arquiteturas relacionadas a Escola Carioca não se restringia ao Rio de Janeiro, estando presentes em várias outras cidades. Mesmo o Plano Piloto de Brasília é considerado parte da Escola Carioca, apesar de nessa época seus arquitetos já estarem tomando os rumos próprios que levariam a dissolução da uniformidade do movimento.

O precursor da Escola é Gregori Warchavchik, arquiteto ucraniano que se naturalizou brasileiro, autor do manifesto Futurismo? e da primeira casa modernista do Brasil, em São Paulo. Ele também passa a lecionar na Escola Nacional de Belas Artes mais tarde, a convite de Lúcio Costa.

Lúcio Costa é considerado por autores o líder da Escola Carioca, já que, no comando da Escola Nacional de Belas Artes, modificou a escola implantando um curso de arquitetura moderna, do qual fez parte Oscar Niemeyer — alguns anos depois, ele se juntaria a Lúcio e outros grandes nomes da Escola Carioca — Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Jorge Moreira e Ernani Vasconcelos - no projeto do Ministério da Educação e Saúde. Outros projetos alinhados a Escola Carioca de Lúcio Costa são o Park Hotel São Clemente, em Nova Friburgo, e o Parque Eduardo Guinle, no Rio de Janeiro.[3]

O MMM Roberto, escritório dos irmãos Roberto - Marcelo, Milton e Maurício - projetou o prédio da Associação Brasileira de Imprensa, que ficou pronto antes mesmo do Ministério da Educação e Saúde, sendo um dos primeiros exemplos da arquitetura da Escola Carioca.

Affonso Eduardo Reidy é mais conhecido pelo MAM, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, construído no Aterro do Flamengo - projeto no qual trabalhou também, e pelo Pedregulho, um conjunto habitacional de interesse social. Um projeto semelhante, o Conjunto Habitacional da Gávea, foi parcialmente realizado. Outros projetos foram feitos no Rio de Janeiro, como a sede do extinto Instituto de Previdência do Estado do Rio de Janeiro, que hoje sedia a Secretaria de Estado de Fazenda. Muitos dos seus projetos foram feitos com Carmen Portinho, a terceira mulher a se formar em um curso de engenharia no país, com qual se casou.[4]

Oscar Niemeyer, por sua vez, tem a Escola Carioca como sua primeira fase da carreira. Em 1939, após participar do concurso para o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque e perder para o projeto de Lúcio Costa, este o convida para um projeto conjunto, por ter gostado da sua proposta, e eles, junto com Paul Lester Wiener, executam o novo projeto, que chama atenção na feira. Em 1940, é a vez do Conjunto Arquitetônico da Pampulha,[5] onde já demonstra que as limitações do funcionalismo corbusiano não eram uma regra e não o limitariam. Esses projetos fariam a fama do arquiteto, levando a diversos outros projetos, entre eles a sede do Banco Boavista no Rio, o edifício Niemeyer em Belo Horizonte e a sede da ONU em Nova Iorque.[6][7]

       
Pilotis do Edifício Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projetado por Reidy Grande Hotel de Ouro Preto, projetado por Niemeyer O Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho), no Rio de Janeiro

Dissolução e legado editar

A partir dos anos 1950, a Escola Carioca — assim como a arquitetura moderna em geral — começa a receber críticas. Niemeyer, em particular, foi muito criticado por Max Bill, arquiteto e designer suíço, que atacou o uso de formas livres por Niemeyer como puramente decorativo, seu uso de painéis murais e o caráter individualista de sua arquitetura. O próprio Niemeyer reconhece alguns problemas e realiza uma autocrítica que o leva a uma revisão de seu próprio trabalho, simplificando sua arquitetura. O parque Ibirapuera em São Paulo já sinaliza isso.[8]

A tendência de mudança vai acontecendo durante as décadas de 1950 e de 1960. Reidy — que foi um dos poucos poupados das críticas de Max Bill — tem em obras o uso do concreto armado aparente, como no MAM. Apesar de ser da Escola Carioca, sua arquitetura já trás elementos que remetem a próxima geração, baseada em São Paulo: a Escola Paulista.[9][10]

Ver também editar

Referências

  1. «Escola Carioca». Enciclopédia Itaú Cultural 
  2. «A escola carioca e a arquitetura moderna em Porto Alegre (1)». Vitruvius 
  3. «Lúcio Costa, o arquiteto com um propósito: ordenar o espaço». VivaDecora 
  4. Biografia. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=1663&cd_idioma=28555 [acessado em 29/11/2012]
  5. «FolhaOnline - Igrejinha da Pampulha (MG) será novamente recuperada». 21 de outubro de 2003. Consultado em 29 de novembro de 2008 
  6. Philippou, Styliane. «Oscar Niemeyer: Curves of Irreverence» [Oscar Niemeyer: curvas de irreverência] (em inglês). 129 páginas .
  7. «ABI - A revista de arte e arquitetura de Oscar Niemeyer». 14 de dezembro de 2007. Consultado em 25 de novembro de 2008. Arquivado do original em 2 de fevereiro de 2009 
  8. «Vitruvius - Os concretos e o concreto. A vinda de Max Bill ao Brasil». Consultado em 29 de julho de 2018. Arquivado do original em 30 de maio de 2009 
  9. «The importance of being reidy». Vitruvius 
  10. «Arquiteturas brasileiras: escolas carioca e paulista». Arquitetura paulista brutalista 1953-1973