Povos indígenas do Brasil: diferenças entre revisões

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Já são raras as tribos que podem viver de acordo com suas antigas práticas, até mesmo os povos isolados estão sob crescente pressão.<ref name="Equipe">Equipe de Apoio aos Povos Indígenas Isolados. [http://www.cimi.org.br/pub/viol/viol2012.pdf "Os Povos Indígenas Isolados Continuam Ameaçados"]. In: Conselho Indigenista Missionário [Rangel, Lúcia Helena (coord.)]. ''Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – Dados de 2012'', pp. 128-135</ref> Este problema está diretamente ligado à conflituosa questão de suas terras. Em 2003, mais de 90% das tribos enfocadas em um estudo de Peter Schröder dependiam principalmente da agricultura. A caça e a pesca, antes muito importantes, ainda são praticadas por quase todas as tribos, mas na maioria das vezes em escala limitada.<ref name="Schröder"/> Piora o problema o fato de que muitas reservas são pequenas, seus [[recursos naturais]] estão se exaurindo e já não têm condições de sustentar comunidades em crescimento.<ref name="Alencar, Edna Ferreira 2005. pp. 68-74"/> Cerca de um terço das reservas enfrenta dificuldades no abastecimento de alimentos e nas infraestruturas, tornando a desnutrição e a pobreza problemas recorrentes,<ref name="Caldas"/> e forçando muitos à migração para fazendas da região ou para as cidades, em busca de melhores condições.<ref name="Baines"/><ref name="Baptista">Baptista, Patrick, Leandro. Índios, Índios e Índios: a aldeia Kakané-porã''. TCC em Ciências Sociais. Orientação: Edilene Coffaci de Lima. Universidade Federal do Paraná, 2012, p. 14</ref> Alguns, porém, migram em busca de educação, de reconhecimento, de atendimento médico e outros motivos. Já são muitos os índios que cursam universidades, exercem profissões liberais e técnicas e mesmo ingressam na política partidária — como foi o caso do notório [[Jurunas|Juruna]] —, influenciando a realidade nacional em múltiplos níveis.<ref name="Baines"/><ref>Carvalho, José Jorge de. [http://www.seer.uece.br/?journal=opublicoeoprivado&page=article&op=view&path%5B%5D=265 "Uma Proposta de Cotas para Negros e Índios na Universidade de Brasília"]. In: ''O público e o privado - Revista do PPG em Políticas Públicas da Universidade Estadual do Ceará'', 2004; (3)</ref><ref>Souza, Marcelle. [http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/04/19/precisamos-de-mais-indios-na-universidade-diz-professor-guarani-kaiowa.htm "Precisamos de mais índios na universidade", diz professor kaiowá]. ''UOL Educação'', 19/04/2013</ref><ref>Rattner, Jair. [http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1386126&seccao=CPLP "Índios querem ter participação política"]. ''Diário de Notícias / O Globo'', 10/10/2009</ref><ref>Makuxi, Alex. [http://www.indioeduca.org/?p=703 "O Índio e a Luta na Política Partidária"]. Índio Educa, 03/11/2011</ref>
Muitas comunidades já tomaram conhecimento, através dos colonos, do [[aquecimento global]] e dos prejuízos que o fenômeno vem causando para o meio ambiente em todo o mundo, danos que eles corroboram através de observações diárias, sofrendo com as mudanças nas chuvas, com a redistribuição ou declínio de espécies selvagens, e com as secas mais intensas, que prejudicam suas economias baseadas na terra.<ref>Macedo, Valéria. [http://pib.socioambiental.org/pt/c/downloads "A Cosmopolítica das Mudanças (Climáticas e Outras)"]. In: Ricardo, Beto & Ricardo, Fany (eds.); Ricardo, Fany (coord.). ''Povos indígenas no Brasil: 2006/2010''. Instituto Socioambiental, 2011, p. 18</ref>
 
Constitucionalmente os índios têm direito à participação nos lucros derivados de investimentos e obras em suas terras, mas como a Lei nem sempre é cumprida, em grande número de casos os povos acabam explorados sem compensações adequadas, sofrendo sérios impactos sociais negativos e vendo o ambiente de que precisam para viver ser destruído e poluído. Projetos de mineração, usinas hidrelétricas, exploração madeireira, agropecuária, [[grilagem]] de terras e obras de infraestrutura como estradas e linhas de transmissão energética, são os que geram mais problemas.<ref>Santos, Sílvio Coelho dos & Nacke, Aneliese. [http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_08/rbcs08_05.htm "Povos Indígenas e Desenvolvimento Hidrelétrico na Amazônia"]. In: ''Revista Brasileira de Ciências Sociais'', 1991; 8:71-84.</ref><ref>Lima, Luciana Alves de. [http://www.indigena.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=73 ''Direito Socioambiental - Proteção da diversidade biológica e cultural dos povos Indígenas''] {{Wayback|url=http://www.indigena.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=73 |date=20131112195445 }}. Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Direitos Humanos, Ministério Público do Estado do Paraná, 2009.</ref><ref>Instituto Socioambiental. [http://uc.socioambiental.org/territ%C3%B3rios-de-ocupa%C3%A7%C3%A3o-tradicional/terras-ind%C3%ADgenas-0 "Unidades de Conservação: Terras indígenas"].</ref><ref name="Máximo"/> Muitas comunidades já tomaram conhecimento, através dos civilizados, do [[aquecimento global]] e dos prejuízos que o fenômeno vem causando para o meio ambiente em todo o mundo, danos que eles corroboram através de observações diárias, sofrendo com as mudanças nas chuvas, com a redistribuição ou declínio de espécies selvagens, e com as secas mais intensas, que prejudicam suas economias baseadas na terra.<ref>Macedo, Valéria. [http://pib.socioambiental.org/pt/c/downloads "A Cosmopolítica das Mudanças (Climáticas e Outras)"]. In: Ricardo, Beto & Ricardo, Fany (eds.); Ricardo, Fany (coord.). ''Povos indígenas no Brasil: 2006/2010''. Instituto Socioambiental, 2011, p. 18</ref>
 
Outras dificuldades advêm dos múltiplos modelos produtivos adotados tradicionalmente pelos vários povos, complicando o estabelecimento de políticas consistentes. Em geral suas economias se caracterizam pela ausência de instituições formais de produção e distribuição de produtos, pelo baixo grau de especialização, pelo baixo nível tecnológico, pelos mercados pequenos, por um sistema de trocas não monetárias, pela ênfase (ainda que não exclusiva) na [[economia de subsistência]], e pela complexidade da integração com o sistema capitalista.<ref name="Schröder"/> Contudo, uma expressiva parcela da população autodeclarada como indígena, calculada em 2006 entre 100 e 190 mil pessoas (mas podem ser até 350 mil) já não vive em reservas,<ref name="Baines"/><ref>Araújo, Ana Valéria et alii. ''Povos Indígenas e a Lei dos “Brancos”: o direito à diferença''. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006, p. 23</ref> e está plenamente imersa no sistema econômico [[capitalista]], embora em geral, com muito menos preparo, atua em grande desvantagem em relação aos seus irmãos civilizados e obtém resultados bem mais fracos. A maioria acaba virando mão de obra barata e termina seus dias em [[favela]]s nos grandes centros urbanos, incapaz de conquistar uma vida digna.<ref name="Schröder">Schröder, Peter. ''Economia indígena: situação atual e problemas relacionados a projetos indígenas de comercialização na Amazônia legal''. Editora Universitária UFPE, 2003, pp. 19-29</ref><ref name="Baines">Baines, Stephen G. [https://web.archive.org/web/20131112200415/http://www.funai.gov.br/ultimas/artigos/revista_7.htm "As chamadas 'aldeias urbanas' ou índios na cidade"]. In: ''Revista Brasil Indígena'', 2001; I (7).</ref><ref name="Baptista"/><ref>Araújo et alii, p. 49</ref>