Plano Cohen: diferenças entre revisões

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O Plano Cohen e a conspiração que o envolveu têm sido analisados em um contexto de convergência de teorias conspiratórias antissemitas e anticomunistas no chamado "mito judeu-comunista";{{Sfn|Motta|1998}}{{Sfn|Wiazovski|2008}} da xenofobia no Brasil das primeiras décadas do séc. XX e da sua intersecção com a demonização de movimentos sociais e correntes ideológicas de vanguarda;{{Sfn|Blay|1989}}{{Sfn|Silva|2001}} de uma tradição de falsificações importantes na história política brasileira, envolvendo a participação das Forças Armadas;{{Sfn|Castro|1972|p=3, 6}} e de um conjunto de revoltas e golpes militares a partir da década de 1920.{{Sfn|Schiavon|2009|p=238-239}}
 
=== O mito judeu-comunistaAnticomunismo ===
{{Antissemitismo}}
Como parte de um conjunto de [[Teoria da conspiração|mitos conspiratórios]] baseados em uma visão maniqueísta da realidade – incluindo a crença em "forças diabólicas empenhadas em fazer o mal"{{Sfn|Motta|1998|p=97}} – e possivelmente como em reação à [[modernidade]] e às angústias e medos por ela desencadeados,{{Sfn|Motta|1998|p=95}} desde pelo menos o séc. XIX correntes [[Conservadorismo|conservadoras]] passaram a acusar os [[judeus]] de serem "instigadores de perturbações sociais e de revoluções".{{Sfn|Motta|1998|p=94}} Historicamente, o [[antissemitismo]] havia se concentrado essencialmente em questões religiosas e econômicas e, de forma geral, os judeus vinham sendo tolerados por seu papel como "agentes monetários em uma economia tradicional".{{Sfn|Dantas|2014|p=130}} Contudo, as profundas transformações trazidas pela modernidade (com destaque para a "urbanização, industrialização, surgimento e fortalecimento de novos grupos sociais, reformas liberais e democratizantes, alterações no comportamento, etc.") fizeram brotar tensões muito acentuadas, levando segmentos conservadores a encara-las como mudanças negativas.{{Sfn|Motta|1998|p=95}} Os judeus, por estarem associados às principais características da modernidade, tornaram-se um dos principais alvos do ódio desses grupos reacionários.{{Sfn|Motta|1998|p=96}}
 
Contudo, inicialmente a associação dos judeus com o [[comunismo]] não foi posta de maneira clara e nem era constante.{{Sfn|Motta|1998|p=94}} Documentos da virada do séc. XX, como [[Os Protocolos dos Sábios de Sião]], culpam os judeus por fomentarem o ódio entre as classes e por defenderem formas de [[coletivismo]], mas não os associam claramente ao comunismo.{{Sfn|Motta|1998|p=97}} Foi na esteira de eventos traumáticos do início do séc. XX, incluindo as [[Revolução Russa de 1917|revoluções russas de 1917]] e o caos que se seguiu à [[Primeira Guerra Mundial]], que o discurso conservador veio a associar enfaticamente o comunismo aos judeus.{{Sfn|Motta|1998|p=94}} Em paralelo ao surgimento do [[nazismo]] e do [[fascismo]], e em grande medida por conta da ação desses grupos, esses eventos foram seguidos de uma imensa onda antissemita e [[Anticomunismo|anticomunista]] e do surgimento de um "[[Conspiração judaico-maçônico-comunista internacional|mito da conspiração judaico-comunista]]" que rapidamente se difundiu.{{Sfn|Motta|1998|p=97-98}}{{Sfn|Dantas|2014|p=127, 132-133}}
 
Unidos em torno desse mito, e servindo-se de um processo de demonização da esquerda,{{Sfn|Morais|2013|p=11}} a Alemanha, Itália e Japão estabeleceram o [[Pacto Anticomintern]] em oposição às "ideias internacionais democráticas e marxistas [que davam] demonstrações de ódio e discórdia".{{Sfn|Castro|1972|p=5}} Enquanto isso, no Brasil, a [[Ação Integralista Brasileira]] passou a imaginar que enfim chegaria ao poder, [[Francisco Campos]] redigia a passo acelerado [[Constituição brasileira de 1937|uma nova constituição]] inspirada no modelo [[Prometeísmo|fascista polonês]],{{Sfn|Castro|1972|p=5}} e [[Getúlio Vargas]] rodeava-se de [[Integralismo Brasileiro|integralistas]] e admiradores do fascismo e do nazismo.{{Sfn|Gaspari|2001}}{{Sfn|Seitenfus|2000|p=86}}{{Nota de rodapé|O Brasil mantinha boas relações com o governo da Alemanha Nazista, e muitos militares brasileiros com funções de destaque no alto comando admiravam as doutrinas de guerra alemãs, cujas bases mesclavam a tradição prussiana e a ideologia nazista.{{Sfn|Ramos|2001}} Em particular, os generais [[Eurico Gaspar Dutra]] e [[Pedro Aurélio de Góis Monteiro]] eram simpatizantes fervorosos do nazismo.{{Sfn|Silveira|1979}} Famosamente, Dutra foi visto celebrando a conquista de Paris pelos nazistas, durante a [[Batalha da França]], enquanto o general Góis Monteiro chamava o [[3º Reich]] de "obra gigantesca de ressurreição nacional".{{Sfn|Gaspari|2001}} Góis Monteiro foi, inclusive, condecorado por [[Adolf Hitler]], na pessoa do embaixador da Alemanha no Brasil.{{Sfn|Silveira|1979}} O ministro da Propaganda, [[Lourival Fontes]], era um conhecido difusor de ideias do fascismo no país, e havia fundado uma revista fascista no Brasil com apoio financeiro da Embaixada da Itália.{{Sfn|Silveira|1979}}|grupo=nota}}
 
Como resposta a uma pretensa ameaça à "brasilidade", foi se fortalecendo uma forte corrente antissemita liderada pela Ação Integralista Brasileira, que, por meio de seus múltiplos livros, revistas, jornais e pronunciamentos na imprensa, espalhava pelo país a existência de "um complô capitalista judaico-internacional" ou de "uma aliança judaico-comunista de dominação" em operação no Brasil.{{Sfn|Blay|1989|p=110}}
 
=== Xenofobia e anticomunismo ===
{{Anticomunismo}}
Em paralelo à disseminação do mito da conspiração judaico-comunista, nasNas décadas de 1920 e 1930 o Brasil passava por mudanças estruturais e recebia um grande contingente de imigrantes, por meio dos quais chegavam diferentes correntes ideológicas de vanguarda; dentre eles chegavam trabalhadores europeus com uma experiência sindical antiga e uma cultura partidária mais desenvolvida, dentre os quais militantes comunistas, inclusive alguns de origem judia.{{Sfn|Blay|1989|p=108}} Embora o Brasil já contasse com uma longa história de medo das forças populares,{{Sfn|Morais|2013|p=11}} os estrangeiros eram vistos com particular desconfiança, sobretudo quando ocupavam a liderança de movimentos sociais; nesses casos, muitas vezes eles acabavam presos, torturados e depois deportados.{{Sfn|Blay|1989|p=108}}
 
Com a chegada de Getúlio Vargas ao poder, por meio do [[Revolução de 1930|golpe de Estado de 1930]], a política se radicalizou e um sentimento profundamente anticomunista e xenofóbico foi definitivamente instalado no país.{{Sfn|Blay|1989|p=108}} Para se manter no poder, Vargas forjou alianças com os militares e os integralistas brasileiros, criou mecanismos de [[Culto de personalidade|exaltação da própria imagem]] e buscou demonstrar que o país se encontrava permanentemente exposto a forças externas, sobretudo uma "ameaça vermelha".{{Sfn|Blay|1989|p=109}}
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=== Falsificações recorrentes ===
Para além de suas raízes antissemitas e anticomunistas, oO Plano Cohen também é parte de uma tradição de falsificações importantes na história política brasileira,{{Sfn|Castro|1972|p=3, 6}} que é uma expressão do fanatismo político no país e inclui o caso das [[Artur Bernardes#Eleição para presidente da república e a Revolta dos 18 do forte|cartas falsas atribuídas]] a [[Artur Bernardes]] em 1922, que quase impediram sua eleição e posse, e a chamada ''Carta Brandi'', também falsa, que ameaçou a posse de [[João Goulart]] e de [[Juscelino Kubitschek]] em 1955.{{Sfn|Castro|1972|p=3}} Enquanto a primeira continha ofensas falsamente atribuídas a Bernardes com o fito de acirrar a oposição dos militares a ele, e teve repercussão nas revoltas [[Tenentismo|tenentistas]] que ele enfrentou durante todo o seu mandato,{{Sfn|Abreu|2018}} a segunda consistiu em um documento forjado para que parecesse de autoria do deputado argentino Antônio Jesús Brandi, e que supostamente continha articulações entre Goulart e o governo de [[Juan Domingo Perón]] visando à deflagração de um movimento armado de cunho [[Sindicalismo|sindicalista]] no Brasil.{{Sfn|Lamarão|2001}} Revelada por [[Carlos Lacerda]] a poucos dias das eleições presidenciais, ela foi autenticada pelos militares brasileiros encarregados de sua investigação, mas, por fim, provou-se que ele era obra de dois falsários profissionais.{{Sfn|Lamarão|2001}}
 
=== Revoltas e golpes militares ===