Fazenda Santa Maria do Monjolinho

patrimônio estadual tombado pelo Condephaat

A Fazenda Santa Maria do Monjolinho é uma fazenda histórica localizada no município de São Carlos, interior de São Paulo. Foi tombada pelo CONDEPHAAT em 22 de junho de 2016. Situada às margens do Rio Monjolinho, ela também faz parte do circuito rural de fazendas já tombadas no município de São Carlos, que incluem a Fazenda Conde do Pinhal e a Fazenda Santa Eudóxia.[1]

Fazenda Santa Maria do Monjolinho
Fazenda Santa Maria do Monjolinho
Prédio Principal
Tipo quinta, património histórico, casa
Inauguração 1850
Página oficial (Website)
Geografia
Coordenadas 22° 2' 40.488" S 47° 58' 12.828" O
Mapa
Localidade Rodovia Luís Augusto de Oliveira (SP-215), Saída 157
Localização São Carlos, São Paulo - Brasil
Patrimônio bem tombado pelo CONDEPHAAT

História editar

A fazenda Santa Maria do Monjolinho teve seu início em 1850 com a família do major José Inácio de Camargo,[2] e sua principal atividade era a produção de café, utilizando-se da mão-de-obra escravizada. Nessa época as únicas edificações no local eram a casa do capitão do mato, que ditava o ritmo e a produção dos escravizados e a senzala, compartimento sem janela que mal separava homens e mulheres.

Mesmo com a fortuna produzida a partir do plantio de café o Major José Inácio e Theodoro Leite Camargo começaram a almejar o título de Barão do Pinhal, então fizeram um acordo e ampliaram a fazenda, em 1887, construindo um palacete com a arquitetura e refinamento europeu, para receber D.Pedro II, que na época estaria em São Carlos para inaugurar a estrada ferroviária. No entanto, Dom Pedro II não apareceu na Fazenda, e a mesma foi vendida, devido ao acúmulo de dívidas provindas da construção do sobrado, geradas pela família proprietária anterior.[3]

Além da história da fazenda ser marcada pelo anseio de prestígio social, que é a busca de um título de nobreza, os conflitos familiares que envolviam o casamento de pessoas economicamente e socialmente desiguais, fez com que Cândido Malta de Souza Campos comprasse a propriedade, e a mesma permanece com sua família até hoje.[4] Com o fim da escravidão, a antiga senzala virou casa de imigrantes e o palacete é um museu localizado no primeiro piso, e no segundo andar é a casa do proprietário.

Nas décadas de 1940 e 1950, a Fazenda passou por um processo de industrialização e parte de seu patrimônio e paisagem se perderam. A Estação de Trem, que era utilizada para todos os transportes na época, atualmente, está restaurada e funcionando como um restaurante rural, com comidas típicas.

Mão-de-obra escravizada editar

Em relação à mão-de-obra escravizada que era utilizada por ele e pelos demais produtores de café no Brasil,[5][6][7][8]

Arquitetura editar

O casarão da fazenda, teve sua construção iniciada em 1887 e possui características urbanas europeias, constituído por 34 cômodos. No estilo neoclássico, com dois andares, cerca de 98 janelas e portas, e com quase mil metros quadrados de área construída, o palacete foi feito com materiais trazidos da Europa, e hoje é espaço destina ao Museu, aberto à visitação monitorada.[9] Próximo ao sobrado se encontra a casa do administrador, e a antiga casa das mucamas ao fundo do grande sobrado. Ao lado do terreiro de café se destaca um aqueduto, que conduzia água para movimentar a roda d’água e gerar energia para a máquina de beneficiar café. A senzala, que antes não possuía janelas, foi transformada pós a abolição da escravatura, em moradia para os imigrantes italianos.

No térreo do palacete está o “Museu Vivo”, que possui caráter permanente, com diversos objetos históricos de valores culturais, utensílios e equipamentos, artes, livros, jornais, revistas, cartas, fotografias, discos de cera e móveis. Entre os destaques estão as obras: O Inferno de Dante ilustrado, Lusíadas de 1900, a primeira versão em português de Rei Lear de William Shakespeare de 1905 e a Revista Ilustrada (1876-1898), de Ângelo Agostini.[10]

O construtor editar

Pietro David Cassinelli (Gênova, 1854 – São Carlos, 1898), construtor do palacete, veio para o Brasil aos 28 anos, chegando em São Carlos em 1882. Teve uma fábrica de móveis, uma fábrica de gelo, e foi um dos fundadores da Societá Ginástica Educativa Cristóforo Colombo. Faleceu de febre amarela, aos 43 anos. Foi responsável pela construção dos seguintes edifícios:[11]

Ecletismo em São Carlos editar

O Ecletismo chega à cidade de São Carlos por conta da riqueza advinda do período cafeeiro e pela construção da ferrovia, a partir de 1884. Foi um período de expansão urbana do município. Além disso, grande número de trabalhadores imigrantes traziam consigo conhecimento de métodos construtivos europeus, que foram sendo incorporados às práticas construtivas locais. Construções em estilo Eclético eram símbolo de status social.[15]

Patrimônio Cultural editar

Entre 2002 e 2003, a Fundação Pró-Memória de São Carlos (FPMSC), órgão da prefeitura, fez um primeiro levantamento (não-publicado) dos "imóveis de interesse histórico" (IDIH) da cidade de São Carlos, abrangendo cerca de 160 quarteirões, tendo sido analisados mais de 3 mil imóveis. Destes, 1.410 possuíam arquitetura original do final do século XIX. Entre estes, 150 conservavam suas características originais, 479 tinham alterações significativas, e 817 estavam bastante descaracterizados.[16] O nome das categorias das edificações constantes na lista alterou-se ao longo dos anos.

A edificação de que trata este verbete consta como "Patrimônio Tombado" (categoria 1) no inventário de bens patrimoniais do município de São Carlos, publicado em 2021[17] pela Fundação Pró-Memória de São Carlos (FPMSC), órgão público municipal responsável por "preservar e difundir o patrimônio histórico e cultural do Município de São Carlos".[18] A referida designação de patrimônio foi publicada no Diário Oficial do Município de São Carlos nº 1722, de 09 de março de 2021, nas páginas 10 e 11.[19] De modo que consta da poligonal histórica delimitada pela referida Fundação, que "compreende a malha urbana de São Carlos da década de 40".[20] A poligonal é apresentada em mapa publicado em seu site, onde há a indicação de bens em processo de tombamento ou já tombados pelo Condephaat (órgão estadual), bens tombados na esfera municipal e imóveis protegidos pela municipalidade (FPMSC).[21]

Curiosidades editar

  • Na propriedade existe uma parte da Mata Atlântica, cerrado e matas de recuperação.
  • Os terreiros, o aqueduto, a serraria, a oficina, as cocheiras e a casa do administrador são tombados pelo CONDEPHAAT como Patrimônio Histórico, Cultural e Educacional.[22]
  • Há também cinco hectares com eucaliptos australianos plantados em 1904, considerados um dos mais antigos do País.
  • A fazenda já foi cenário de três curtas–metragens: “O homem que falava Javanês” e “A Caça” e outro filme baseado num livro de Lima Barreto.[23]
  • Havia uma outra "Fazenda do Monjolinho", também chamada Fazenda Velha, que era propriedade de João Alves de Oliveira e sua esposa, Alexandrina Melchiades de Alkimim, que doou parte de suas terras ao patrimônio da cidade em 1867. A fazenda ficava a 5 km do antigo centro da cidade, a nordeste do cemitério Nossa Senhora do Carmo, na margem direita do rio Monjolinho.[24]

Visitação editar

O local é aberto ao público aos sábados e domingos 12h às 15h30, sendo que a visita ao museu começa às 13h. Há opção de almoçar no restaurante local com comidas típicas. Há também opções de passeios focados na produção de cana, leite e café, além de trilhas e ecoturismo, mediante agendamento.

Ver também editar

Referências

  1. «Visite a Fazenda Santa Maria do Monjolinho, patrimônio histórico e turístico do Estado». Governo do Estado de São Paulo. 3 de julho de 2016. Consultado em 31 de outubro de 2022 
  2. «Fazenda Santa Maria, São Carlos, São Paulo - São Carlos, SP - Fazenda | Facebook». www.facebook.com. Consultado em 31 de outubro de 2022 
  3. «História». Fazenda Santa Maria do Monjolinho (em inglês). 31 de março de 2016. Consultado em 31 de outubro de 2022 
  4. https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/resgate/article/download/.../12998
  5. Dornas, Nayara Fernandes. Um estudo enunciativo da palavra escravo e sua designação nas cartas do Conde do Pinhal para sua esposa Naninha. 2017. Dissertação (Mestrado - Programa de Pós-Graduação em Linguística) Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2017. Disponível em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/9587/DORNAS_Nayara_2018.pdf?sequence=8&isAllowed=y Acesso em: 02-11-2022
  6. Brandão, Marco Antonio Leite. A carta do ex-escravo Felício & história de São Carlos (SP). Disponível em: https://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/A-carta-do-ex-escravo-Fel%c3%adcio-Hist%c3%b3ria-de-S%c3%a3o-Carlos.pdf. Acesso em: 02-11-2022
  7. «HISTÓRICA - Revista Eletrônica do Arquivo do Estado». www.historica.arquivoestado.sp.gov.br. Consultado em 2 de novembro de 2022 
  8. Truzzi, Oswaldo; Zuccolotto, Eder Carlos; Follis, Fransergio. Migrações na formação inicial da população no oeste paulista: uma aproximação por meio de registros paroquiais de casamento no pré-abolição em São Carlos, SP. Disponível em: http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/anais/article/viewFile/1918/1876 Acesso em: 02-11-2022
  9. Araraquara, Do G1 São Carlos e (25 de julho de 2016). «Fazenda Santa Maria é tombada pelo Conselho do Patrimônio Histórico». São Carlos e Região. Consultado em 31 de outubro de 2022 
  10. Santos, Ana Paula (26 de outubro de 2017). «Santa Maria apresenta novo roteiro de visitas: Patrimônio histórico tombado, a fazenda conhecida pelo trabalho ambiental, educacional, patrimonial e cultural amplia acervo» (PDF). Revista Kappa: 70-73. Consultado em 31 de outubro de 2022 
  11. MASSARÃO, L. M. Histórico: Palacete Conde do Pinhal. FPMSC, São Carlos, s.d. link
  12. SÃO CARLOS, 1940, Cadastro imobiliário, p. 144.
  13. FPMSC. "Theodoro Fehr" [1906, filho de Germano Fehr]. In: Pesquisa de Fundos. s.d. link.
  14. FPMSC. "1017. Coleção Museu de São Carlos. 2005-1108F". In: Acervo Digital Fotográfico FPMSC [Online]. link.
  15. Divisão de Pesquisa e Divulgação, Fundação Pró-Memória de São Carlos (2006). «RAMOS DE AZEVEDO, ECLETISMO E A POLIGONAL HISTÓRICA» (PDF). Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de outubro de 2022 
  16. ZAMAI, 2008, p. 53.
  17. Fundação Pró-Memória de São Carlos (2021). «Inventário de Bens Patrimoniais do Município de São Carlos» (PDF). Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022  |arquivourl= é mal formado: timestamp (ajuda)
  18. Fundação Pró-Memória de São Carlos. «A Fundação». Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022  |arquivourl= é mal formado: timestamp (ajuda)
  19. Prefeitura Municipal de São Carlos (9 de março de 2021). «Diário Oficial de São Carlos, ano 13, n° 1722» (PDF). Prefeitura Municipal de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de outubro de 2022 
  20. Divisão de Pesquisa e Divulgação, Fundação Pró-Memória de São Carlos (2006). «RAMOS DE AZEVEDO, ECLETISMO E A POLIGONAL HISTÓRICA» (PDF). Fundação Pró-Memória de São Carlos. Consultado em 27 de outubro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de outubro de 2022 
  21. Fundação Pró-Memória de São Carlos (2016). Fundação Pró-Memória de São Carlos (PDF) https://promemoria.saocarlos.sp.gov.br/acervo-files/historias-sc/mapa_poligonal_2016_imoveis_protegidos.pdf. Consultado em 27 de outubro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 27 de outubro de 2022  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  22. «São Carlos – Fazenda Santa Maria do Monjolinho | ipatrimônio». Consultado em 31 de outubro de 2022 
  23. Araraquara, Do G1 São Carlos e (27 de agosto de 2013). «Fazenda histórica é cenário de curta-metragem pela 3ª vez em São Carlos». São Carlos e Região. Consultado em 31 de outubro de 2022 
  24. BRAGA, Cincinato Cezar da Silva. Contribuição ao estudo da história e geografia da cidade e município de São Carlos do Pinhal. In: ALMANACH de São Carlos: 1894. São Carlos do Pinhal: ed. Joaquim Augusto, Typografia de O Popular, 1894. pp. 3-52. [Republicado em: Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, n. 236, p. 163-203, 1957, link; cf. p. 17.]

Ligações externas editar