Filipe de Hesse-Cassel

político alemão

Filipe de Hesse-Cassel (Offenbach, 6 de novembro de 1896Roma, 25 de outubro de 1980), foi um príncipe alemão, terceiro filho do rei Frederico Carlos I da Finlândia e da princesa Margarida da Prússia. O Chefe da Casa de Hesse-Cassel de 1940 a 1980 e depois da Casa Eleitoral de Hesse de 1968 a 1980. Juntou-se ao Partido Nacional Socialista em 1930, quando ganhou poder com a nomeação de Adolf Hitler como Chanceler em 1933, e tornou-se governador de Hesse-Nassau, um posto que ocupou de 1933 até 1944.[1]

Filipe
Príncipe da Finlândia
Conde de Hesse-Cassel
Filipe de Hesse-Cassel
Chefe da Casa de Hesse-Cassel
Período 28 de maio de 1940
a 25 de outubro de 1980
Predecessor Frederico Carlos
Sucessor Maurício
Chefe da Casa de Hesse
Período 6 de junho de 1968
a 25 de outubro de 1980
Predecessor(a) Ele mesmo (Hesse-Cassel)
Luís (Hesse-Darmestádio)
Sucessor(a) Maurício
 
Nascimento 6 de novembro de 1896
  Castelo de Rumpenheim, Offenbach, Império Alemão
Morte 25 de outubro de 1980 (83 anos)
  Roma, Itália
Esposa Mafalda da Itália
Descendência Maurício, Conde de Hesse-Cassel
Henrique de Hesse-Cassel
Otto de Hesse-Cassel
Isabel de Hesse-Cassel
Casa Hesse-Cassel
Pai Frederico Carlos I da Finlândia
Mãe Margarida da Prússia
Religião Luteranismo

Ele era neto de Frederico III, imperador alemão, e bisneto da Rainha Vitória, bem como genro do rei Vítor Emanuel III da Itália. Seu parente o príncipe Filipe, Duque de Edimburgo, marido da rainha da Elizabeth II, foi batizado em homenagem a ele.[2]

Juventude e Primeira Guerra Mundial editar

Filipe nasceu no Castelo de Rumpenheim em Offenbach, sendo o terceiro filho do príncipe Frederico Carlos de Hesse-Cassel e da sua esposa, a princesa Margarida da Prússia (irmã do kaiser Guilherme II). Filipe tinha um irmão gémeo, Wolfgang, bem como dois irmãos mais velhos e outros dois irmãos gémeos mais novos.

Em criança, Filipe tinha uma governanta inglesa. Em 1910 foi mandado para a Inglaterra para ser ensinado numa escola em Bexhill-on-Sea. Depois de regressar à Alemanha, ingressou no Musterschule em Frankfurt e depois no Realgymnasium em Potsdam. Foi o único dos seus irmãos que não entrou na academia militar.

No início da Primeira Guerra Mundial, Filipe insistiu em alistar-se no 24.º Regimento juntamente com o seu irmão Maximiliano. Primeiro prestaram serviço na Bélgica onde Maximiliano foi morto em outubro. Em 1915 e 1916, Filipe prestou serviço na frente oriental no território que hoje pertence à Ucrânia. Tinha a posição de tenente (uma posição extremamente baixa tendo em conta as suas origens nobres) e era maioritariamente responsável pela vigia de munições. Em 1917, prestou serviço na Linha Siegfried, antes de regressar à Ucrânia onde começou a prestar serviço activo e onde foi ferido.

Em 1916, o irmão mais velho de Filipe, o príncipe Frederico Guilherme, morreu e Filipe passou a estar no segundo lugar de sucessão, atrás do seu tio e do seu pai, para a Casa de Hesse-Cassel, enquanto que o seu irmão gémeo mais novo Wolfgang, passaria a ser herdeiro do trono finlandês. Contudo, os planos para a criação de uma monarquia na Finlândia tiveram um final abrupto quando a Alemanha perdeu a guerra. A Finlândia tornou-se uma república em 1919.

A bissexualidade de Filipe era conhecida; ele teria mantido uma relação de anos com o poeta britânico Siegfried Sassoon.[3][4] Após a guerra, o general Karl Wolff membro de alto escalão da SS revelou no alto de seu processo que o príncipe era "considerado homossexual".[5]

Vida depois da guerra e casamento editar

 
Filipe com a esposa, Mafalda, no dia de seu casamento em 1925.

Depois da guerra, Filipe alistou-se no Übergangsheer (o Exército de Transição) no qual teve êxito em defender a Alemanha contra as acções comunistas e socialistas. De 1920 a 1922, ingressou na Universidade Técnica de Darmstadt onde estudou História da Arte e Arquitectura. Fez várias visitas à Grécia onde a sua tia Sofia era rainha-consorte pelo seu casamento com o rei Constantino I da Grécia. Em 1922 deixou a Universidade sem completar o curso e começou a trabalhar no Museu Kaiser Friedrich em Berlim. No ano seguinte mudou-se para Roma onde usou as suas ligações aristocráticas para se estabelecer como um designer de interiores de sucesso.

Seguindo o biógrafo Jonathan Petropoulos, Filipe era provavelmente bissexual.[6] Após uma relação com o poeta Siegfried Sassoon, casou-se com a princesa Mafalda da Itália, filha do rei Vítor Emanuel III da Itália, no dia 23 de setembro de 1925 no Castelo de Racconigi, perto de Turim. O casal teve quatro filhos:

A família vivia principalmente na Villa Polissena (chamada assim em honra da rainha Polissena), que fazia parte da Villa Savoia, a propriedade dos reis italianos nos arredores de Roma, mas também viajavam frequentemente para a Alemanha.[6]

Envolvimento com o Partido Nazi editar

 
Filipe junto de outros membros proiminentes do Partido Nazi, em Cassel, 1933.

Enquanto estava em Itália, Filipe ficou impressionado com o Fascismo. Quando regressou à Alemanha em outubro de 1930, juntou-se ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores (frequentemente abreviado para Partido Nazi). Em 1932 juntou-se aos Sturmabteilung (mais conhecidos por SA ou Camisas Castanhas) e, seguindo o exemplo do seu irmão Cristóvão, também ingressou nos Schutzstaffel (SS). Mais tarde, os seus outros dois irmãos também se juntaram à SA. Através da sua ligação ao partido, Filipe tornou-se muito amigo de Hermann Göring, o futuro chefe da força área alemã.

Após a nomeação de Adolf Hitler como chanceler alemão no dia 30 de janeiro de 1933, Filipe foi nomeado governador de Hesse-Nassau em Junho do mesmo ano. Com o sucesso eleitoral do partido político de Hitler, também se tornou membro do Reichstag e do Staatsrat prussiano. Filipe teve um papel importante na consolidação do governo nacional-socialista na Alemanha. Foi ele que introduziu outros aristocratas no partido e, como genro do rei da Itália, era um mensageiro frequente entre Hitler e Benito Mussolini. Também era um agente das artes para Hitler na Itália.

 
Filipe usando uniforme e insígnia da SA, milícia paramilitar nazista.

Como governador de Hesse-Cassel, Filipe esteve envolvido no Programa de Eutanásia Aktion T4. Em Fevereiro de 1941, Filipe assinou o contracto que colocava o sanatório de Hadamar à disposição do Ministério do Interior do Reich. Mais de 10,000 doentes mentais foram lá mortos. Em 1946, Filipe foi acusado de homicídio, mas a acusação foi retirada.

À medida que a guerra avançava, as atitudes das autoridades nacional-socialistas em relação às casas reais alemãs mudaram. Enquanto no início o partido gostava de usar os nomes de família históricos para obter apoio popular, com o tempo decidiram distanciar-se mesmo dos príncipes que os apoiavam.

Em finais de Abril de 1943, Filipe recebeu ordens de aparecer no quartel-general de Hitler onde ficou preso nos quatro meses seguintes. Em Maio de 1943, Hitler publicou o “Decreto Referente a Homens com Ligações Internacionais”, onde se declarava que os príncipes não podiam ter posições no partido, no estado ou nas forças armadas. A ordem de prisão de Mussolini dada pelo sogro de Filipe, o rei Vítor Emanuel em Julho de 1943 tornou a posição de Filipe ainda mais complicada. Hitler acreditava que Filipe e a sua família eram cúmplices da queda de Mussolini.

No dia 8 de setembro de 1943, Filipe foi preso. Foi expulso do partido e dispensado da força aérea. No dia 25 de janeiro de 1944, a sua discordância política tornou-se pública e ele foi dispensado da sua posição como governador de Hesse-Nassau.

Em Setembro de 1943 Filipe foi enviado para o campo de concentração de Flossenbürg. Foi colocado na solitária e proibido de manter qualquer contacto com o mundo exterior. Contudo, tinha certos privilégios como usar roupas civis e comer as mesmas refeições que os guardas.

A esposa de Filipe, Mafalda, foi presa e colocada sob custódia militar em Roma. Depois foi enviada para Munique e para Berlim, onde foi interrogada. No final foi colocada no campo de concentração de Buchenwald, onde vivia numa casa ao lado de uma fábrica de armamento. Em Agosto de 1944 a fábrica foi bombardeada pelos Aliados. Mafalda ficou gravemente ferida e acabou por morrer vários dias depois, após uma operação realizada pelos médicos do campo.

À medida que os Aliados avançavam na Alemanha, em Abril de 1945, Filipe foi transferido para o campo de concentração de Dachau. Depois de lá passar apenas dez dias, foi transferido para o Tirol juntamente com outros 140 prisioneiros proeminentes, onde foi libertado por tropas americanas no dia 4 de maio de 1945.[7]

Últimos anos editar

Devido a sua antiga posição como governador de Hesse-Nassau, Filipe foi capturado pelos Aliados, primeiro na ilha de Capri e depois numa série de outros centros de detenção.

Em 1940, Filipe tinha sucedido ao seu pai como chefe da Casa Eleitoral de Hesse. Em 1968, após a morte do seu parente distante, o príncipe Luís de Hesse e do Reno, Filipe sucedeu também como chefe da Casa de Hesse-Darmstadt e do Reno. Luís tinha adoptado nominalmente os filhos de Filipe, incluindo Maurício que, nesta altura, herdou as propriedades de Hesse e do Reno, incluindo as suas incríveis colecções culturais.

Filipe morreu em Roma, na Itália em 1980.

Referências

  1. Judd, Denis (1981). Prince Philip : a biography. Internet Archive. [S.l.]: New York : Atheneum 
  2. Kelley, Kitty (1998). Wheeler Pub, ed. The Royals. [S.l.: s.n.] p. 80 
  3. Hoelterhoff, Manuela (8 de janeiro de 2007). «'Royals and the Reich' Reveals Fateful History of Nazi Princes». Bloomberg. Consultado em 12 de agosto de 2007. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2007 
  4. Miller, Neil (1995). Out of the Past: Gay and Lesbian History from 1869 to the Present. p. 96.
  5. Jobst Knigge: Prinz Philipp von HessenHitlers Sonderbotschafter für Italien. Open Access der Humboldt-Universität, Berlin 2009, S. 11–13.
  6. a b Hoelterhoff, Manuela (2007-01-08). "'Royals and the Reich' Reveals Fateful History of Nazi Princes". Bloomberg.com. http://www.bloomberg.com/apps/news?pid=20601088&sid=accwj4EskF_8&refer=muse. Retrieved 2007-08-12.
  7. Peter Koblank: Die Befreiung der Sonder- und Sippenhäftlinge in Südtirol, Online-Edition Mythos Elser 2006 (em alemão)

Bibliografia editar

  • Miller, Michael (2015). Leaders Of The Storm Troops Volume 1. England: Helion & Company. ISBN 978-1-909982-87-1.
  • Whitford, David M. (2015). Reformation Life: The European Reformation through the Eyes of Philipp of Hesse. Santa Barbara: ABC-CLIO. ISBN 978-1-440802-54-6.
  • Jonathan Petropoulos, Royals and the Reich: The Princes von Hessen in Nazi Germany (Oxford University Press, 2006).
  • Jobst Knigge, Prinz Philipp von Hessen. Hitlers Sonerbotschafter für Italien, Humboldt University Berlin (open access) 2009

Ligações externas editar