Flavio Biondo

humanista, historiador, arqueólogo, erudito, enciclopedista, antiquário, filólogo e latinista italiano

Flávio Biondo (ou Flavio Biondo, Flavius Biondus, Flavio Forliviensi; Forlì, c.1388Roma, 4 de junho de 1463) foi um humanista, historiador, arqueólogo, erudito, enciclopedista, antiquário, filólogo e latinista italiano. Foi o primeiro a cunhar o termo Idade Média e um dos primeiros a ocupar-se com o estudo sobre a Antiguidade, sendo considerado precursor da arqueologia. Foi secretário e chanceler dos papas Eugênio IV, Nicolau V, Calisto III e Pio II. Foi autor de três enciclopédias que são a base de todas as obras sucessivas no que se refere à Antiguidade romana.

Flavio Biondo
Flavio Biondo
Nascimento 1388
Forlì
Morte 4 de junho de 1463 (74–75 anos)
Roma
Ocupação historiador, arqueólogo, geógrafo, humanista do Renascimento

Biografia editar

Nascido por volta de 1388 na cidade italiana de Forlì, na época capital da Romagna, desde a infância recebeu refinada educação. Ainda jovem teve aulas de retórica, poética e gramática com o erudito Giovanni Ballistário de Cremona. Durante breve permanência em Milão, descobriu e transcreveu algumas obras de Cícero tais como Brutus e De claris oratoribus. Em 1433, transferiu-se para Roma onde começou a se dedicar à sua carreira de escritor. Foi nomeado secretário da chancelaria do Papa Eugênio IV e em 1444 acompanhou o pontífice para o exílio, em Ferrara e Florença. Depois da morte do seu patrono, Flávio colocou-se a serviço dos seus sucessores Nicolau V, Calixto III e do grande humanista Pio II.

Trabalhos arqueológicos editar

Biondo publicou três compêndios sistemáticos e documentados sobre as ruínas de Roma, que lhe deram a fama de ser considerado um dos primeiros arqueólogos. antiquários e historiadores subsequentes tiveram por base os fundamentos estabelecidos por Flavio e pelo seu contemporâneo mais velho Poggio Bracciolini (1380-1459), numa época em que as ruínas da antiga Roma estavam esquecidas e inexploradas. Quando em 1430 Bracciolini pisou no Capitólio pela primeira vez havia apenas campos desertos e abandonados. O Fórum, sepultado pela erosão do solo, fora roçado pelas vacas - o Campo Vaccino ("Campo das Vacas") - e porcos eram criados em sua vegetação nativa. Flavio e seus companheiros humanistas tal como Leone Batttista Alberti (1404-1472) começaram a explorar e a documentar a arquitetura, a topografia e a história de Roma, e em suas pesquisas reviveu a visão da glória antiga dos tempos de Roma.

A primeira obra de Flavio foi De Roma Instaurata (Roma Restaurada, 3 vols, 1444-1446), que é uma reconstrução da topografia da Roma antiga. Esta obra foi e continua sendo uma visão altamente influente e humanística sobre a restauração de Roma desde a glória dos seus tempos antigos através da recriação do que Roma teria sido baseado nas ruínas que restaram. Esta obra foi o primeiro guia sistemático e bem documentado das ruínas de Roma, ou na verdade das ruínas antigas, e por isso ele é considerado um dos primeiros arqueólogos.

A segunda obra De Roma triumphante (O Triunfo de Roma, 1459) foi muito popular em sua época e trata dos tempos do paganismo de Roma como modelo para as reformas governamentais e militares. O livro foi relevante ao reviver o patriotismo romano e o respeito pela Roma antiga, ao apresentar o papado como uma continuação do Império Romano.

Obras históricas editar

As maiores obras de Biondo foram Italia illustrata (Itália ilustrada, escrita entre 1448 e 1458, e publicada em 1474), e a Historiarum ab inclinatione Romanorum imperii decades (Décadas de História desde o Declínio do Império Romano, escrita entre 1439 e 1453, e publicada em 1483).

A Italia illustrata (1474) trata-se de um livro de geografia, com base nas viagens pessoais do autor, e conta a história das dezoito províncias italianas. Ao contrário dos geógrafos medievais, cujo foco era apenas regional, Biondo, que tinha Estrabão como modelo, criou a idéia da Itália com inclusão de toda a península. Através da topografia, ele visava associar a Antiguidade com os tempos modernos, fazendo descrições de todas as localidades, a etimologia do seu topônimo e suas modificações através do tempo, e adicionou uma sinopse dos eventos importantes que diziam respeito a cada localização. Primeiro livro histórico de geografia, ele começa desde o Império e a República Romana, passando por 400 anos de invasões bárbaras além de fazer uma análise sobre Carlos Magno e os Imperadores do Sacro Império Romano posteriores. Ele forneceu uma excelente descrição do renascimento e da restauração humanística dos clássicos durante a primeira metade do século XV.

A maior obra de Flavio, Historiarum ab inclinatione Romanorum imperii decades,[1][2][3] (Veneza, 1483), trata da História da Europa em 32 livros, desde o saque de Roma do ano 410 pelos visigodos, até 1442. Usando apenas as fontes primárias e mais fidedignas, ele se baseou num quadro constituído por três períodos, com o ressurgimento da Itália da época em que ele viveu e se libertando das tendências anteriores. Leonardo Bruni também utilizou o conceito de história em três períodos em sua obra História do Povo Florentino, escrita por volta da mesma época que o abra de Biondo.

Muitos autores mencionam Biondus em suas obras: Gerardus Vossius (1577-1649) se refere a ele baseado na Descrição de Roma de Georgius Fabricius (1516-1571).[4] O Padre Philippe Labbe (1607-1667),[5] em sua obra Trésor d'Épitaphes, e Laurentius Schraderus (1538-1606),[6] em sua obra Monumentos da Itália também lhe fazem menção. Segundo Paulus Giovius (1483-1552), Biondus morreu com setenta anos de idade. Jean Gobelin e Christopher Sandius (1644-1680)[7] também fizeram considerações sobre a época em que Biondus teria vivido. Tobias Magirus (1586-1652)[8] fala sobre o seu epitáfio e diz que ele morreu em 1463. Ludovico Antonio Muratori (1672-1750),[9] Francesco Filelfo (1398-1481)[10] e Leandro Alberti (1479-1552) também citaram fatos sobre a biografia de Biondus além de Apostolo Zeno (1669-1750) e Girolamo Tiraboschi (1731-1794).[11]

Obras editar

Sobre arqueologia
História
  • Historiarum ab inclinatione Romanorum imperii decades (História das décadas do Declínio do Império Romano, escrita entre 1439 e 1453, reimpressa em 1483)
  • De Origine et Gestis Venetorum (sobre a Origem e a história de Veneza)
  • Italia illustrata (Itália ilustrada, livro de geografia baseado nas viagens do autor, escrita entre 1448 e 1458, publicada em 1474.)
  • Historiarum, obra de maior relevância do autor em 32 volumes, uma história da Europa desde a primeira tomada de Roma até 1442.
  • Historiae Romanae - The Popular Encyclopaedia by A. Whitelaw.

Referências editar

Notas

  1. História da Queda do Império Romano - Gallica, Historiarum ab inclinatione romanorum imperii. (tradução em italiano de Lucio Fanno).
  2. Lucio Fanno - As obras históricas de Blondus foram traduzidas por Lucio Fanno e impressas em Veneza por Michele Tramezzino.
  3. Uma coletânea geral das suas obras foi também impressa em Basileia, por Hieronymus Frobenius entre 1531 e 1539.
  4. Georgius Fabricus (1516-1571) (* Chemnitz, 23 de Abril de 1516 - † Meißen, 17 de Julho de 1571), foi historiador, arqueólogo, filólogo clássico e humanista italiano.
  5. Philippe Labbe (1607-1667) (* Bourges, 10 de Julho de 1607 - Paris, 25 de Março de 1667), editor, compilador e polígrafo francês.
  6. Lorenz Schrader (1538-1606) foi um historiador alemão e autor da obra Monumentos da Itália.
  7. Christopher Sandius (1644-1680) (* Königsberg, 12 de Outubro de 1644 - † Amsterdam, 30 de Novembro de 1680), foi um escritor ariano e publicador das obras de Faustus Sozzinus (1539-1604), embora não tivesse sido, ele mesmo, um sociniano.
  8. Tobias Magirus (1586-1652) (* Angermünde, 25 de Maio de 1586 - Frankfurt, 6 de Janeiro de 1652), foi filósofo, teólogo e historiador alemão. Autor da obra: Eponymologium Criticum (1687).
  9. Ludovico Antonio Muratori (1672-1750) (* Vignola, 21 de Outubro de 1672 - † Módena, 23 de Janeiro de 1750), foi sacerdote, historiador, bibliotecário e filólogo italiano.
  10. Francesco Filelfo (1398-1481) (* Tolentino, 25 de Julho de 1398 - † Florença, 31 de Julho de 1481), foi humanista e filósofo italiano.
  11. Girolamo Tiraboschi (1731-1794) (* Bérgamo, 18 de Dezembro de 1731 - † Módena, 9 de Junho de 1794), erudito e historiador italiano.

Ligações externas editar