Futurismo em Portugal

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O futurismo em Portugal denomina-se pela passagem desse estilo em Portugal.

"Cabeça", Santa-Rita Pintor

Primeiras manifestações editar

Em 1908, poucas semanas depois do Manifesto Futurista de Marinetti ser publicado no Le Figaro, o jornal Diário dos Açores anuncia a eclosão do movimento Futurista, publicando o manifesto de Marinetti e uma entrevista do poeta, publicação que passou totalmente despercebida.

Em Março de 1912 Aquilino Ribeiro, numa crónica parisiense anuncia na revista Illustração Portugueza o sucesso obtido pelos pintores italianos em Paris. O texto foi ilustrado com oito reproduções de Boccioni, Severini e Russolo.

Estes primeiros anúncios nenhuma repercussão tiveram nos pintores de então.

No domínio da literatura Sá-Carneiro, em Paris e Fernando Pessoa - Álvaro de Campos, em Lisboa, compuseram textos com influências marcadamente futuristas.

Guilherme de Santa-Rita editar

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Santa-Rita Pintor, revista "Portugal Futurista", 1917

Guilherme de Santa-Rita, em 1912 era bolseiro de Belas-Artes em Paris (posição que perdeu em Setembro de 1912, devido às suas ideias monárquicas, em conflito com o embaixador republicano João Chagas), com apenas 23 anos de idade, viu a exposição dos futuristas italianos e aderiu ao movimento.

Sá-Carneiro escrevia sobre o pintor de Paris de 1912 a 1915, a Fernando Pessoa, classificando-o como "imperialista", "ultramonárquico" e "vaidoso". Na narrativa A Confissão de Lúcio, publicada em 1914, Sá-Carneiro inspirou-se no pintor para criar a personagem Gervásio Vila-Nova.

Em Setembro de 1914, Santa-Rita regressa a Lisboa, propondo-se editar, com procuração do autor, os manifestos de Marinetti.

Talvez por isso tenha proposto a Fernando Pessoa, em setembro de 1915, publicar o terceiro número da revista Orpheu, o que o escritor recusou.[1] A recusa de Pessoa e Sá-Carneiro em ceder o título a Santa-Rita resultou na publicação, dois anos mais tarde, da revista Portugal Futurista.

Em Lisboa Santa-Rita foi o iniciador do incerto movimento futurista.[2]

Revista Orpheu editar

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No segundo número (e último publicado) da Revista Orpheu, publicado em Junho de 1915, aparecem vários trabalhos futuristas de artistas portugueses.

O poema "Ode Marítima" de Fernando Pessoa, publicado na revista, mereceu de Sá-Carneiro a apreciação de "Obra Prima do Futurismo".

Na revista aparecem também reproduções de quatro trabalhos de Santa-Rita Pintor.

I Conferência Futurista editar

Em Abril de 1917, foi a apresentação do futurismo ao povo português, numa sessão realizada às cinco da tarde no Teatro República (hoje São Luiz). Intitulada "I Conferência Futurista", sob a responsabilidade de Almada Negreiros.[3]

A sessão foi constituída por três partes ou três leituras: O "Ultimatum Futurista às Gerações Portuguesas do Século XX", de Almada,[4] o "Manifesto Futurista da Luxúria" da belga Valentine de Saint-Point, texto de 1913,[5] e "Music-Hall" e "Tuons le Clair de Lune", dois textos de Marinetti, de 1913 e 1909.[6]

A sala esteve meio vazia, destacando-se Santa-Rita numa frisa, animando e ordenando o espectáculo.[6]

Revista "Portugal Futurista" editar

 Ver artigo principal: Portugal Futurista

Em Novembro de 1917 foi lançada a revista Portugal Futurista, da qual só saiu um número, que foi apreendido à porta da tipografia por ordem do governo interinamente chefiado pelo ministro da Guerra, general Norton de Matos, nas vésperas da revolução que instauraria a ditadura de Sidónio Pais.[7]

A revista foi da responsabilidade de Santa-Rita Pintor, que não escreveu directamente, mas aparecia logo na abertura num grande retrato fotográfico seu com a legenda "Santa Rita Pintor, o grande inciador do Movimento Futurista em Portugal",[2] acompanhado de quatro reproduções de obras suas e artigos a elogiar o seu trabalho de José Rebelo de Bettencourt e Raul Leal (este escrito em francês).

Ver também editar

Referências

  1. «Arquivo Pessoa: Obra Édita - [Carta a Santa-Rita - 21 Set. 1915] -». arquivopessoa.net. Consultado em 27 de julho de 2020 
  2. a b Nogueira, Isabel (1 de novembro de 2015). Artes plásticas e crítica de arte em Portugal. 2.ª edição. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra 
  3. «Conferência Internacional: No centenário da 1ª Conferência Futurista de Almada Negreiros». Wort.lu. 8 de abril de 2017. Consultado em 27 de julho de 2020 
  4. «Fundação Mário Soares | Aeb | Crono | Id». www.fmsoares.pt. Consultado em 27 de julho de 2020 
  5. Bettini, Clelia (2009). «[Recensão a] V. de Saint-Point, Manifesto da mulher futurista. Manifesto futurista da luxúria, trad. de Célia Henriques». Estudos Italianos em Portugal (4): 277–280. ISSN 0870-8584. doi:10.14195/0870-8584_4_20 
  6. a b França, José Augusto (1974). A arte em Portugal no século XX: [1911-1961 (em Portuguese). Lisboa: Livraria Bertrand. p. 55, 64, 65. OCLC 6486734 
  7. «Portugal Futurista». Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Arquivado do original em 1 de dezembro de 2017 

Ligações externas editar

 
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