Gambito do rei

Essa abertura se caracteriza pelo sacrificio de peão em troca de desenvolvimento

Gambito do Rei é uma abertura de xadrez que se caracteriza pelos movimentos (em notação algébrica):

abcdefgh
8
a8 preto torre
b8 preto cavalo
c8 preto bispo
d8 preto rainha
e8 preto rei
f8 preto bispo
g8 preto cavalo
h8 preto torre
a7 preto peão
b7 preto peão
c7 preto peão
d7 preto peão
f7 preto peão
g7 preto peão
h7 preto peão
e5 preto peão
e4 branco peão
f4 branco peão
a2 branco peão
b2 branco peão
c2 branco peão
d2 branco peão
g2 branco peão
h2 branco peão
a1 branco torre
b1 branco cavalo
c1 branco bispo
d1 branco rainha
e1 branco rei
f1 branco bispo
g1 branco cavalo
h1 branco torre
8
77
66
55
44
33
22
11
abcdefgh

1.e4 e5 2.f4

Na realidade, no seguimento destes movimentos existe uma multitude de aberturas e variantes, mas historicamente se englobam sob a denominação comum de gambito de rei.

O movimento caracteriza-se pela oferta do peão em f4 ao adversário. As brancas oferecem esse peão em troca do domínio e da iniciativa de jogo.

História editar

O gambito do rei é uma abertura extremamente antiga. Apareceu em um dos primeiros livros de xadrez do mundo, o livro Repetición de Amores y Arte de Ajedrez, de Luiz Ramirez de Lucena, escrito em 1497. O gambito foi amado por vários séculos, tendo sido adotado principalmente pela escola romântica de xadrez, jogadores como Paul Morphy, Adolf Anderssen, Lionel Kieseritzsky. A popularidade desse gambito, porém, vem declinando desde o início do século vinte, por causa da vitória de Steinitz sobre Anderssen, que levou o mundo inteiro do xadrez a uma visão mais técnica e científica do jogo, relegando aberturas tal como o gambito do rei ao esquecimento e ao desuso. Várias pessoas ao longo da história tentaram "ressusscitar" o Gambito do Rei, tal como Akiba Rubenstein, que o adaptou aos princípios posicionais do jogo, e Boris Spassky, ex-campeão mundial, que venceu o lendário Bobby Fischer com o gambito. Robert, após essa derrota, em 1961, escreveu um artigo chamado "A Bust to the King's Gambit", em que ele defendeu que o gambito era errado e que poderia ser refutado, visão não compartilhada com os especialistas nos dias de hoje. O gambito da dama é o gambito mais utilizado em partidas de xadrez oficiais, enquanto o gambito do rei virou uma relíquia, tendo sido usado por jogadores ocasionalmente para surpreender o oponente, tal qual fez Garry Kasparov, ex-campeão mundial, contra Sergey Karjakin no campeonato 2017 Saint Louis Rapid & Blitz com a rara variante do cavalo da dama, e Ivanchuk contra Anish Giri, usando o gambito do bispo, no campeonato SportAccord World Mind Games (Men, Rapid) (2013).

Variantes editar

O gambito do rei possui duas variantes principais: O gambito do rei aceito e o recusado.

Gambito do rei aceito editar

O gambito do rei aceito segue com 2...exf4. Nele, ocorre a captura do peão F oferecido pelas brancas. O gambito do rei aceito possui várias variantes em si, mas as duas mais utilizadas pelos mestres são:


3. Cf3 - O gambito do cavalo; é a variante mais posicional e de estilo mais moderno do gambito do rei aceito. Nela, as brancas desenvolvem uma peça da ala do rei, para preparar o roque, e protegem o perigoso cheque da dama negra em H4. Paul Morphy a utilizou extensivamente em seus jogos, mais inclusive que o gambito do bispo. O plano de jogo envolve um rápido desenvolvimento das peças, controle do centro e roque, em um jogo não tão centrado no ataque quanto outras variantes. Fischer advogou pela defesa 3... d6, porém outras defesas podem ser usadas, como a mais popular 3... g5, que pode levar ao Gambito Muzio, super agressivo: 4. Bc4 g4 5. O-O gxf3 6. Dxf3, em que as brancas sacrificam um cavalo; pode também ser a variante mais calma, a linha: 3... g5, 4. h4 g4 5. Ce5, chamado Gambito Kieseritzsky.


3. Bc4 - O gambito do bispo; é a variante mais agressiva e romântica do gambito do rei aceito. Enquanto no gambito do cavalo havia um foco em impedir o cheque 3... Dh4+, aqui ele é convidado; para que, quando haja o cheque, mova as brancas o rei com 4. Kf1. Embora pareça uma jogada absurda, há uma ideia, que é a de atacar a dama com Cf3 posteriormente e, consequentemente, ganhar tempo quando a dama move. Seu expoente mais conhecido é Adolf Anderssen, que o usou no seu Jogo Imortal.


Outras variantes menos utilizadas são:


3. Cc3 - O gambito do cavalo da dama; convidando também o cheque, porém como o bispo não se moveu, assim como fez no gambito do bispo, há de se jogar 4. Ke2 se houver cheque.


3. h4 - O gambito do peão, ou Gambito Stamma; envolve bloquear o cheque com o peão protegido pela torre, e os planos geralmente envolvem a dama branca em g4 atacando a posição inimiga.


3. d4 - Envolve o rápido controle do centro e convida o cheque da dama, sendo obrigatório prosseguir da mesma maneira que com o gambito do cavalo da dama.


O teor do jogo é de agressividade e desenvolvimento rápido, logo haverão de ter sacrifícios caso as brancas não queiram estar na pior. O jogo geralmente envolve a fraqueza da coluna F negra, com a torre branca em F atacando a coluna conjuntamente ao cavalo e ao bispo. O cheque-mate é geralmente rápido, letal e brusco. Sendo uma abertura arriscada, as pretas tem que saber se defender de forma calma e cirúrgica.

Gambito do rei recusado editar

O gambito do rei recusado pode seguir de diversas maneiras:


2... d6, protegendo o peão E e não tomando o peão branco, as brancas podem seguir com Cf3 e as pretas com Cc6, e o jogo tomará uma forma posicional e moderna.


2... d5, o chamado contragambito Falkbeer, em que as pretas oferecem dois peões às brancas. A melhor continuação é 3. exd5 dxf4, onde as brancas podem continuar com Cf3 e seguir o jogo.


2... f6, uma defesa errônea que pode facilmente levar a um jogo vencido às brancas com a simples troca dos peões e o cheque da dama branca em H5.


As brancas tem que jogar um jogo mais calmo para que as pretas não levem a vantagem, uma vez que o gambito do rei recusado é terreno fértil para ciladas das brancas. Logo, o jogo deve ser tomado de forma cuidadosa de ambos os lados.