Geoffrey Stephen Hull (6 de setembro de 1955) é um linguista, etnólogo e historiador australiano, que fez contribuições para o estudo das línguas românicas, célticas, eslavas, semitas, austronésias (como o tétum de Timor-Leste) e papuásias, em particular no que se refere à relação entre linguagem e cultura.

Geoffrey Hull
Geoffrey Hull
Geoffrey Hull
Nascimento 6 de setembro de 1955 (68 anos)
Cidadania Austrália
Alma mater
Ocupação linguista, professor universitário, escritor
Empregador(a) Universidade de Sydney, Universidade de Melbourne, Universidade Macquarie, Universidade de Wollongong

Biografia editar

De ascendência inglesa e escocesa do lado paterno, a sua família materna pertencia à comunidade latina do Egipto (de origem mista maltesa, veneziana, triestina e francesa), que deixou o país durante o período de nacionalização do pós-guerra (1946-1957). Ele cresceu familiarizado com a grande variedade de línguas faladas na sua família alargada (francês, maltês, vários dialetos italianos da Itália, occitano, esloveno, grego e árabe).

Educação e carreira académica editar

Estudou Letras na Universidade de Sydney (1974-1982), completando um doutoramento em linguística histórica, após pesquisas dialectológicas na Itália e na Suíça. A sua tese de doutoramento [1] foi uma reconstrução da língua padana subjacente aos dialetos galo-italianos, vênetos e reto-românicos modernos. Antes de completar o doutoramento, realizou também estudos de filosofia e teologia na Aquinas Academy de Sydney. Na sua carreira académica Hull tem ensinado nas áreas da linguística e das línguas europeias modernas e clássicas em várias universidades australianas: Sydney University, Melbourne University, University of Wollongong e noutras instituições de ensino superior australianas; é também um lexicógrafo profissional e um tradutor que trabalha em mais de uma dúzia de línguas. Atualmente é professor adjunto da Macquarie University, em Sydney. [2].

Realizações em Timor-Leste e trabalho a favor da língua tétum editar

O tétum é uma língua que partilha muitas palavras com o português. Não era na origem uma língua crioula de base lexical portuguesa, como o crioulo cabo-verdiano, mais com a chegada dos portugueses à ilha, o tétum apodera-se de vocábulos portugueses (tal como já tinha feito em certo grau com termos malaios) e integra-os no seu léxico, tornando-se uma língua crioula simplificada ao nível da morfossintaxe -- nasce o tétum-praça (em tétum: tetun-prasa). Nos anos 1990 Geoffrey Hull ajudou a Liderança de Timor-Leste no exílio na tarefa de padronização do tétum e na criação de uma gama de recursos linguísticos e literários para esta e outras línguas de Timor-Leste, então sob ocupação indonésia.[3] [4] [5]. Também foi membro de uma delegação pro direitos humanos organizada pelo Australian Catholic Social Justice Council, que visitou o país em 1997, em meio a uma escalada de violência, e que fez um relatório apresentado às Nações Unidas, à Comissão de Direitos Humanos da Indonésia, ao Governo da Austrália e ao Vaticano. Em setembro de 1999, Hull depôs perante o Senado australiano sobre os abusos que tinha presenciado em Timor-Leste durante as visitas anteriores [6]. De 2001 a 2007 foi director de pesquisas e publicações do Instituto Nacional de Linguística, a autoridade linguística nacional do Estado independente de Timor-Leste. Foi também o organizador, principal autor e editor do dicionário nacional de tétum [7] e foi fundador e co-editor da revista académica Estudos de Línguas e Culturas de Timor-Leste. Os seus serviços para as línguas de Timor Leste são da maior importância e foram valorizados pela Administração Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste UNTAET, liderada de dezembro de 1999 a maio de 2002 pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello.

Pelo seu trabalho fundamental a favor do tétum, Geoffrey Hull é comparável a personalidades como Koldo Mitxelena para o idioma basco (euskera) (em Espanha), Eliezer Ben Yehuda para o hebraico em (Israel), Ivar Aasen e Knud Knudsen para a língua da Noruega, Johannes Aavik para a Estônia, e Taras Shevchenko para a Ucrânia, entre outros.

Outras áreas de interesse editar

Fora do campo da linguística, Geoffrey Hull é conhecido pelos seus trabalhos sobre questões religiosas, principalmente as causas históricas e o impacto sócio-cultural das reformas da igreja na década de 1960 sobre a Igreja Católica Latina e as tradições orientais católicas [8].

Obras publicadas editar

  • 1982 The Linguistic Unity of Northern Italy and Rhaetia, tese, Western Sydney University, Macarthur.
  • 1987 “La lingua ‘padanese’: Corollario dell’unità dei dialetti reto-cisalpini”. Etnie: Scienze politica e cultura dei popoli minoritari, 13.
  • 1988 “Franco-Maltese”. In James Jupp, ed., The Australian People: An Encyclopedia of the Nation, its People and their Origins. Sydney: Angus and Robertson.
  • 1989 Polyglot Italy: Languages, Dialects, Peoples, Melbourne,CIS Educational.
  • 1989 “Parallels and Convergences in Celtic and Romance Philology”. Australian Celtic Journal, 1.
  • “Vocabulary Renewal Trends in the Modern Celtic Languages.” Origins and Revivals: Proceedings of the First Australian Conference of Celtic Studies, pp. 69-90.
  • 1990 “Idealist Nationalism and Linguistic Dogma in Italy”. In The Shared Horizon. Dublin: The Academic Press.
  • 1992 Timor Oriental: n’est-ce qu’il qu’une question politique? Églises d’Asia: Agence d’Information des Missions Etrangères de Paris, Dossiers et documents No. 9/92.
  • 1993 The Malta Language Question: A Case Study in Cultural Imperialism. Malta: Said International.
  • 1994 Building the Kingdom: Mary MacKillop and Social Justice. Melbourne: Collins Dove.
  • 1994 Instituto de Estudos Timorenses “Maria Mackillop” - Orientação para a Padronização da Língua Tetum. Baulkham Hills (Sydney).
  • 1998 Mai Kolia Tetun. A Course in Tetum-Praça, Sydney, Australian Catholic Relief and the Australian Catholic Social Justice Council.
  • 2001 Timór-Lorosa’e: Identidade, lian no polítika edukasionál (Timor-Leste: Identidade, Língua e Política Educacional). Lisboa: Ministério dos Negócios Estrangeiros/Instituto Camões.
  • 2002 The Languages of East Timor. Some Basic Facts, Instituto Nacional de Linguística, Universidade Nacional de Timor Lorosa'e. The Languages of East Timor
  • 2002 Standard Tetum-English Dictionary, 2nd Ed, Allen & Unwin Publishers ISBN 978-1-86508-599-9
  • 2005 (com Lance Eccles). Gramática da Língua Tétum. Lisboa: Lidel
  • 2006 (com Halyna Koscharsky) Contours and consequences of the lexical divide in Ukrainian. Australian Slavonic and East European Studies, Vol 20, Nos 1-2
  • 2010 The Banished Heart: Origins of Heteropraxis in the Catholic Church. London: T&T Clark.

Referências

  1. Hull, Dr. Geoffrey (1982) A unidade lingüística do norte da Itália e da Récia, tese de doutoramento, Western Sydney University, MacArthur
  2. «Cópia arquivada». Consultado em 30 de abril de 2010. Arquivado do original em 4 de maio de 2010 
  3. Timor Oriental: n’est-ce qu’il qu’une question politique?. Églises d'Asie: Agence d’Information des Missions Etrangères de Paris, Dossiers et documents n º 9 / 92, de 1992.
  4. Timor-Leste: Identidade, Língua e Política Educacional. Lisboa: Ministério dos Negócios Estrangeiros/Instituto Camões, 2001
  5. (Geoffrey Hull, Lance Eccles). Gramática da Língua Tétum. Lisboa: Lidel, 2005.
  6. http://www.aph.gov.au/senate/committee/FADT_CTTE/completed_inquiries/1999-02/east_timor/report/c05.htm
  7. Disionáriu Nasional ba Tetun Ofisiál
  8. The Banished Heart: Origins of Heteropraxis in the Catholic Church. London: T&T Clark, 2010

Bibliografia editar

Ligações externas editar