Giulio Cesare in Egitto

ópera em três atos composta por Georg Friedrich Händel

Giulio Cesare in Egitto (HWV 17) é uma ópera em três atos do compositor alemão naturalizado britânico Georg Friedrich Händel (1685-1759), completada em dezembro de 1723 e que teve sua estreia em 20 de fevereiro de 1724 no King's Theatre em Londres, quando a carreira lírica do compositor estava no auge. A primeira montagem da ópera contou com vários cantores de renome na época como a soprano Francesca Cuzzoni (1696-1778) e os castrati Senesino (1686-1758) e Gaetano Berenstadt (1687-1734).

Händel em 1726-1728

A ópera foi reapresentada cerca de dez vezes entre janeiro e fevereiro de 1725. Na ocasião, o autor fez diversas modificações, reduzindo alguns recitativos e diminuindo ainda mais a importância dos papéis de Cúrio e Nirenus, que se tornou um personagem silencioso. Mas Nirenus acabou ganhando mais destaque em novas mudanças na mesma temporada. No mesmo ano, a ópera foi levada para Brunswick e Hamburgo sendo encenada nesta última cidade sucessivas vezes até 1737. Após o fracasso de Lotário (HWV 26) no final de 1729, Giulio Cesare voltou a ser encenada em Londres por nove vezes entre janeiro e março de 1730, incluindo novas modificações do autor como árias adicionais para Cleópatra. Outras quatro apresentações ocorreram em fevereiro de 1732.[1]

O libreto é de Nicola Francesco Haym (1678-1729) a partir de um texto de mesmo nome de Giacomo Bussani musicado por Antonio Sartorio (1630-1680) em 1676. Haym dedicou o libreto à princesa de Gales, Caroline, esposa do rei Jorge II. Em relação ao texto de Bussani, Haym apliou os papéis de Cornélia e de seu filho Sexto Pompeu. Em sentido contrário, reduziu grandemente a importância de personagens secundários como Cúrio e Nirenus. Um personagem cômico, Rodisbe, foi completamente eliminado.

O enredo retrata alguns personagens como indivíduos fortes e complexos, o que permitiu a Händel jogar com um amplo leque emocional. César é mostrado na ópera como o típico grande herói, comparado a Hércules (ou Alcide, no libreto italiano). Cleópatra tem uma personalidade multifacetada, revelando astúcia política, capacidade de sedução, força e emotividade. Ptolomeu (ou Tolomeo, no libreto italiano), irmão de Cleópatra é o grande vilão, traiçoeiro, lascivo e usurpador. Cornélia e Sexto, seu filho com Pompeu, mostram personalidades bem mais estáticas e seus papéis giram continuamente em torno do sofrimento com a morte do esposo (no caso de Cornélia) e o desejo de vingança contra Ptolomeu (no caso de Sexto).

Personagens e intérpretes originais editar

Personagem Tipo Vocal Elenco da estreia, 20 de fevereiro de 1724[2]
Cleopatra Soprano Francesca Cuzzoni
Sesto Soprano Margherita Durastanti
Giulio Cesare Alto Castrato Senesino
Tolomeo Alto Castrato Gaetano Berenstadt
Nireno Alto Castrato Giuseppe Bigonzi
Cornelia Contralto Anastasia Robinson
Achilla Baixo Giuseppe Maria Boschi
Curio Baixo John Lagarde

Sinopse editar

A trama ocorre em Alexandria em 48 a.C., quando o cônsul romano Pompeu, derrotado na batalha de Farsália, procura refugiar-se no Egito, país com o qual mantivera relações importantes, políticas e militares. O país encontra-se sob o governo de um casal de irmãos: Cleópatra e Ptolomeu, os quais mantêm uma disputa de poder. Sabendo da vitória de Júlio César em Farsália, Ptolomeu manda assassinar Pompeu, oferecendo sua cabeça de presente a César. O restante do libreto é bem menos fiel à história real. Entre outros detalhes, mostra Cleópatra e Ptolomeu praticamente com a mesma idade. Na verdade, ele era bem mais jovem que a irmã. O envolvimento amoroso entre Júlio César e Cleópatra é sabidamente verídico.

Ato I editar

 
César horrorizado ao ver a cabeça de Pompeu, por Louis-François Lagrenee.

César desembarca com suas tropas vitoriosas às margens do Nilo após a vitória na batalha de Farsália. Cornélia e seu filho Sexto pedem misericórdia para Pompeu. Os dois ignoram que o cônsul já está morto. César concorda em fazer as pazes com seu velho amigo. Achillas, líder das tropas egípcias de Ptolomeu, entra em cena e apresenta a cabeça de Pompeu como presente a César, levando Cornélia e Sexto ao desespero. Mas César fica enfurecido e rejeita a proposta, acusa Achilla e Ptolomeu de crueldade e promete se encontrar com o monarca egípcio no mesmo dia, antes do pôr-do-Sol. Cornélia lamenta sua dor e Sexto jura vingar o pai. Cleópatra fica sabendo do ocorrido por Nirenus e decide apresentar-se a César com a falsa identidade de Lídia na tentativa de seduzi-lo para ganhar sua confiança e unir-se a ele contra o irmão rival. Achilla revela a Ptolomeu o desprezo de César com relação à sua oferta. O co-regente egípcio se enfurece e conspira com Achilla, planejando a morte de César. Achilla, em troca, pede que Ptolomeu lhe conceda Cornélia como prêmio. Cleópatra, disfarçada como Lídia, se apresenta a César que se mostra bastante atraído por ela. Ao final do dia, César e Ptolomeu se encontram no palácio real egípcio e mostram-se pouco confiantes um no outro. Sexto e sua mãe Cornélia também encontram Ptolomeu que se sente atraído por ela. Sexto tenta desafiar Ptolomeu para um duelo, mas não tem sucesso. Cornélia rejeita Achilla, que ordena a prisão de seu filho Sexto.

Ato II editar

Cleópatra prepara uma recepção sedutora para César nos terraços do palácio real e o romano se mostra completamente encantado com a beleza de Lídia/Cleópatra. Achilla insiste em conquistar o amor de Cornélia que o rejeita continuamente. Quando ele sai para dar andamento à conspiração contra César, Ptolomeu também tenta conquistar o afeto de Cornélia, mas é igualmente rejeitado. Cleópatra evoca Vênus e Eros para ajudá-la a conquistar César quando se ouve o rumor de armas. A conspiração está em andamento e a guarda egípcia está à procura de César. Confusa e aflita, Cleópatra acaba revelando sua verdadeira identidade e César é obrigado a fugir com Cúrio, líder das legiões romanas, para organizar a resistência. Ptolomeu decide colocar Cornélia em seu próprio harém, mas Achilla entra e anuncia que, na fuga, César e Cúrio morreram no mar e que Cleópatra está reunindo tropas contra o irmão. Achilla cobra a promessa de Ptolomeu de lhe entregar Cornélia, mas o monarca descumpre a palavra, afirmando que saberá premiá-lo de outra forma. Achilla, sentindo-se traído, passa para o partido de Cleópatra. Cornélia pensa em se matar, mas é impedida por seu filho, Sexto.

Ato III editar

As forças de Ptolomeu vencem as de Cleópatra e ela é presa. Mas César sobrevive e aparece nas praias de Alexandria só e desolado. Sexto surge à procura de Ptolomeu e se depara com Achilla, gravemente ferido em batalha. Antes de morrer, desejando vingança contra Ptolomeu, Achilla entrega a Sexto um selo que servirá como um código para um exército que está aquartelado e que poderá ser mobilizado contra o monarca egípcio. César, ouvindo de longe o diálogo, surge, toma o selo de Sexto e se dispõe a liderar aquelas forças contra Ptolomeu para salvar Cleópatra e Cornélia. Cleópatra reencontra César e é libertada por ele para sua grande alegria. Sexto encontra Ptolomeu no palácio e, finalmente, tem seu duelo. O monarca é morto por Sexto e Cornélia é libertada. Vitoriosos, César e Cleópatra comemoram a vitória. O romano a proclama rainha do Egito e ela jura lealdade a Roma. Eles cantam seu amor um pelo outro e são saudados por todos por terem restabelecido a paz no reino.

Referências

Libreto editar