Golpe de Julho, também conhecido como Putsch de Julho (em alemão: Juliputsch) foi um golpe de Estado fracassado perpetrado pelo Partido Nacional-Socialista Austríaco em 25 de julho de 1934. Embora os conspiradores conseguissem tomar a sede do governo e assassinar o chanceler Engelbert Dollfuss, foram cercados e, na falta de apoio externo, tiveram que se render. A rebelião se espalharia para o restante do país nos dias seguintes, porém seria esmagada pelas forças do governo. Após o fracasso, o movimento nacional-socialista austríaco ficaria temporariamente muito debilitado.

Putsch de Julho
Parte do Período entreguerras

Carro de polícia na Ballhausplatz, em frente ao prédio da Chancelaria, 25 de julho de 1934
Data 2530 de julho de 1934
Local Viena, Áustria
Desfecho Vitória Austrofascista
Beligerantes
Schutzstaffel (SS)

Alemanha Nazista Partido Nazista Austríaco
Apoiados por:

 Alemanha Nazista
Estado Federal da Áustria

Apoiados por:

Reino de Itália (1861–1946) Reino da Itália
Comandantes
Fridolin Glass
Otto Wächter
Anton Rintelen (WIA)
Engelbert Dollfuss 
Wilhelm Miklas
Kurt Schuschnigg
Ernst Rüdiger Starhemberg
Emil Fey
Forças
154 SS (Viena)
Milhares (em outros lugares)
Todo o Exército Federal, polícia, gendarmaria e forças paramilitares do Heimwehr
Baixas
98[1]–140[2] mortos
13 executados[2]
4,000 detidos[2]
101[1]–104[2] mortos
11[1]–13[2] civis mortos

Os primeiros planos contra Dollfuss haviam surgido no início do verão de 1933, quando o chanceler austríaco havia proibido o partido nazista, porém não haviam sido concluídos.[3] A crise do nacional-socialismo austríaco, perseguido com crescente rigor pelo governo, desanimado pela ausência de acesso ao poder, desunido e repleto de extremistas que reivindicavam ação contra Dollfuss conduziria à organização do golpe de julho de 1934.[4] O que deveria ter sido uma sublevação nacional abrangente com apoio militar para derrubar o governo Dollfuss e implantar outro que solicitasse a intervenção alemã foi na realidade um ataque surpresa mal organizado protagonizado por cento e cinquenta e quatro nacionais-socialistas que logo permaneceriam isolados na capital austríaca.[5]

Os conjurados aproveitaram a mudança da guarda da chancelaria para adentrar no recinto às 12:53 em 25 de julho.[6] Um deles, o ex-sargento Otto Planetta, disparou dois tiros contra o chanceler, enquanto este tentava fugir do edifício.[7] Dollfuss sangrou até morrer duas horas e meia mais tarde.[8] Ao mesmo tempo que ocupavam a chancelaria, os rebeldes também tomaram a estação de rádio RAVAG.[9] Seguindo o plano previsto, a partir daí, anunciaram a destituição de Dollfuss e a formação de um novo gabinete presidido por Anton Rintelen.[9] O anúncio deveria ter desencadeado um levante nacional em favor do novo governo, porém isso não ocorreu.[10] Ademais, o grupo que havia marchado para capturar o presidente Wilhelm Miklas em seu retiro de verão, falhou nesta tarefa.[11]

O governo e a liderança militar se reuniram no Ministério da Defesa.[12][13] Miklas, que rechaçou qualquer acordo com os rebeldes, nomeou o ministro Kurt von Schuschnigg chanceler interino e ordenou-lhe que esmagasse o golpe pela força.[14] Finalmente, às 17:30, Von Schuschnigg apresentou um ultimato aos rebeldes para se que rendessem em quinze minutos.[15] Na verdade, as negociações entre os rebeldes e o governo se estenderiam por mais duas horas.[15] As forças governamentais conseguiram recuperar o edifício pacificamente por volta das oito horas da noite.[16]

Confirmado finalmente o fracasso do golpe pelo embaixador alemão na noite do dia 25, Adolf Hitler ordenou de imediato que fosse negado qualquer envolvimento alemão no plano falhado.[17] O governo alemão se viu em apuros, apesar da negação governista pela posterior deflagração das rebeliões de seus partidários nas províncias austríacas, as forças governamentais não conseguiriam reprimir totalmente até o dia 28.[18] No dia 26, Hitler nomeou o vice-chanceler Franz von Papen novamente embaixador em Viena.[18] Este visava alcançar o objetivo de anexar o país sem ter de recorrer novamente à violência.[19] Na tarde do dia 25, quando Benito Mussolini, que esperava a visita poucos dias depois de Dollfuss, recebeu a confirmação do golpe de Estado que estava ocorrendo na capital austríaca, ordenou imediatamente o avanço das forças italianas a fronteira austro-italiana.[20] O fracasso do golpe de Estado permitiu que a independência austríaca se mantivesse por mais quatro anos, até a anexação alemã do país na primavera de 1938.[21]

Ver também editar

Referências

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  3. Brook-Shepherd 1961, p. 233.
  4. Pauley 1981, p. 127-128.
  5. Brook-Shepherd 1961, p. 232.
  6. Brook-Shepherd 1961, p. 253.
  7. Brook-Shepherd 1961, p. 255.
  8. Gedye 1939, p. 121.
  9. a b Brook-Shepherd 1961, p. 261.
  10. Pauley 1981, p. 131.
  11. Brook-Shepherd 1961, p. 240.
  12. Brook-Shepherd 1961, p. 262.
  13. Gehl 1963, p. 98.
  14. Brook-Shepherd 1961, p. 263.
  15. a b Brook-Shepherd 1961, p. 272.
  16. Brook-Shepherd 1961, p. 275.
  17. Brook-Shepherd 1961, p. 279.
  18. a b Brook-Shepherd 1961, p. 281.
  19. Pauley 1981, p. 135.
  20. Brook-Shepherd 1961, p. 282.
  21. Pauley 1981, p. 136.

Bibliografia editar

  • Brook-Shepherd, Gordon (1961). Dollfuss (em inglês). [S.l.]: Macmillan. 295 páginas. OCLC 1690703 
  • Gedye, G. E. R. (1939). Betrayal in Central Europe (em inglês). [S.l.]: Harper & Bros. 499 páginas. OCLC 1101763 
  • Gehl, Jurgen (1963). Austria, Germany, and the Anschluss, 1931-1938 (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  • Gulick, Charles Adams (1948). Austria from Habsburg to Hitler, volume 2 (em inglês). [S.l.]: University of California Press. 1906 páginas. OCLC 312557122 
  • Pauley, Bruce F. (1981). Hitler and the Forgotten Nazis: A History of Austrian National Socialism (em inglês). [S.l.]: University of North Carolina Press. 292 páginas. ISBN 9780807814567