Gregor von Heimburg (Gregório de Heimburg; em tcheco: Řehoř z Heimburka) (1399-1472) foi humanista, jurista e chefe de estado alemão. É autor da obra Scripta nervosa justiaque plena ex manuscriptis nunc primum eruta, publicada em 1608.

Gregor Heimburg
Gregor Heimburg
Nascimento 1400
Schweinfurt
Morte 1472 (71–72 anos)
Tharandt
Cidadania Alemanha
Ocupação estadista, jurista, diplomata, humanista, político

Biografia editar

Por volta de 1430 recebe o diploma de doutorado em direito civil e canônico na Universidade de Pádua. Influenciado pelas ideias predominantes da reforma, este ardoroso e eloquente jurista foi naturalmente atraído para o Concílio de Basileia, convocado, de acordo com os prelados da assembleia, para a extirpação da heresia e do cisma grego [...] e para a reforma da Igreja desde seus altos dignitários até seus membros. Durante o concílio ele atuou como secretário de Eneias Sílvio.

Ele deixou Basileia em 1433, e foi eleito síndico/administrador de Nuremberga, cuja função ele exerceu até 1461. Em Nuremberga ele foi mediador do conflito entre o marquês Alberto Aquiles durante a primeira guerra dos marqueses (1449-1450)[1]. Após a eleição de Alberto VI da Áustria, ele foi enviado, com João de Lisura[2], para o concílio de Basileia para exigir a suspensão do processo contra o papa, e depois foi até Ferrara junto a Eugênio IV para propor que as negociações com os gregos fossem realizadas numa cidade alemã.

Em 1446, foi novamente colocado como responsável por uma representação junto a Eugênio IV. O papa havia deposto os arcebispos de Colônia e Tréveris, ambos príncipes eleitores, que eram favoráveis ao antipapa Félix V. Os outros eleitores agora exigiam que Eugênio aprovasse (1) determinados decretos de Basileia; (2) a convocação de um concílio geral em uma cidade da Alemanha no prazo de três meses; (3) a aceitação do artigo sobre a superioridade do concílio acima do papa; e (4) o restabelecimento dos dois arcebispos depostos. Porém, a missão de Gregório não foi bem sucedida.

Seguindo o conselho de Frederico III, o papa enviou os cardeais Tomás Parentucelli e Juan Carvajal, juntos com Nicolau de Cusa, como delegados para a Dieta de Frankfurt em 14 de Setembro de 1446. Junto com eles, Eneias Sílvio, agora como secretário particular do imperador Frederico III. Alguns eleitores foram convencidos da causa do papa; um novo grupo de embaixadores foi organizado; e em fevereiro de 1447, pouco depois da morte de Eugênio, eram promulgadas as quatro bulas que compunham a Concordata dos Príncipes[3]. Em fevereiro de 1448 um acordo integral havia sido aprovado durante a Concordata de Viena, sendo concluído entre Frederico III e Nicolau V.

Gregório, que então considerava a declaração de neutralidade uma atitude ignóbil, ficou desapontado com o rumo dos acontecimentos e decidiu abandonar a política eclesiástica. Durante as negociações entre o papa e os eleitores, Heimburg publicou a obra "Admonitio de injustis usurpationibus paparum" (Advertências contra a injusta usurpação do papa), ou como Matthias Flacius[4] a intitulou: Confutatio primatus papæ (Refutação sobre a primazia do papa).

Em 1458, Gregório entrou a serviço de Alberto da Áustria e sua oposição à autoridade papal foi novamente despertada. Eneias Sílvio ascendera ao trono papal como Pio II nesse mesmo ano, e logo depois (1459) ele convocara os príncipes cristãos à Mântua para o planejamento de uma cruzada contra os turcos. Gregório estava presente como representante do Ducado da Bavária, o Eleitorado de Mogúncia, e do arquiduque Alberto da Áustria. O fracasso do projeto foi em parte causado por influência dele.

Sigismundo da Áustria[5] (1427-1496), ao retornar do Congresso de Mântua, mandou prender Nicolau de Cusa, Bispo de Brixen, com o qual ele estava discutindo a respeito de alguns feudos. Então ele decidiu mais uma vez representar as posições dos príncipes contra o papa e o imperador, e em 1 de Junho de 1460, foi excomungado e ordenou que o Concílio de Nuremberga confiscasse os seus bens (18 de Outubro de 1460). Gregório deu uma resposta ao papa em janeiro de 1461 e fez um apelo para um novo concílio. O papa Pio II confirmou a excomunhão e encarregou o bispo Lélio de Feltre [6] (1427-1466) para atender o apelo de Gregório. A Replica Theodori Lælii episcopi Feltrensis pro Pio Papa II et sede Romanâ fez com que Gregório respondesse com a Apologia contra detractationes et blasphemias Theodori Lælii (Apologia contra as detrações e blasfêmias contra Teodoro Lélio) junto com a sua Depotestate ecclesiæ Romanæ (Deposição da Igreja Romana), na qual ele defendia as teorias de Basileia.

A sua importante obra Invectiva in Nicolaum de Cusa apareceu em 1461. Pouco antes da morte do papa Pio II em 1464, Sigismundo fez as pazes com a Igreja, mas Gregório não foi absolvido. Em 1466, ele se colocou a serviço do rei da Boêmia, Jiří z Poděbrad, e exerceu grande influência sobre a política antirromana do rei da Boêmia. Em duas apologias escritas para o rei da Boêmia, Gregório atacou violentamente o papa Paulo II, a quem ele acusou de imoralidade. Foi novamente excomungado e sua propriedade em Dettlebach confiscada.

Depois da morte de Jorge de Poděbrady em 22 de Março de 1471 Gregório se refugiou na Saxônia, junto a Alberto, O Corajoso em Dresda. O clero da cidade recusou os serviços de Gregório para fazer com que Alberto voltasse para o seu castelo. O duque o levou para Tharandt com segurança e pediu a seu irmão Ernesto da Saxônia[7] (1441-1486) que também o protegesse. Ao escrever para o Concílio de Würzburg por volta de 22 de Janeiro de 1471, ele afirmava que jamais havia sido acusado de qualquer equívoco com relação à fé cristã. Por meio de uma carta ele apelou a Sisto IV, que deu ao Bispo de Meissen[8] amplos poderes para absolvê-lo. Foi sepultado na Igreja da Cruz (Kreuzkirche) em Dresda.

Obras editar

Referências e Bibliografia editar

Notas editar

  1. Primeira Guerra dos Marqueses (1449-1450), foi um conflito entre a cidade imperial de Nuremberga e Alberto III Aquiles. Inúmeras cidades da Francônia, que pertencem à atual Alemanha, foram seriamente afetadas pela guerra. A guerra terminou com um tratado de Paz em Bamberga no dia 22 de Junho de 1450. Alberto teve de devolver todas as terras capturadas para a cidade de Nuremberga.
  2. Johann von Lysura (Johann von Lieser, † 27 de Agosto de 1459), conselheiro confidencial do arcebispo de Tréveris.
  3. Fürsten Konkordat ou Concordata dos Príncipes, foi um acordo, concluído em janeiro de 1447 entre o papa Eugênio IV e os príncipes eleitores do Sacro Império Romano. Nesse acordo, o papa concordava reconhecer o Concílio Geral como superior à pessoa do papa em assuntos religiosos, e a restauração dos arcebispos de Tréveris e de Mogúncia, que haviam sido depostos anteriormente por terem apoiado o antipapa Félix V.
  4. Matthias Flacius Illiricus (1520-1575) (* Albona, Ístria, 3 de Março de 1520 - † Frankfurt, 11 de Março de 1575), foi um teólogo e reformador croata.
  5. Sigismundo, Arquiduque da Áustria (* Insbruque, 26 de Outubro de 1427 † Insbruque, 4 de Março de 1496), foi governante de Tirol de 1446 a 1490.
  6. Teodoro Lélio (1427-1466), Bispo de Feltre e de Treviso.
  7. Ernesto da Saxônia (1441-1486) (* Meissen, 24 de Março de 1441 † Colditz, 26 de Agosto de 1486), foi Príncipe eleitor da Saxônia de 1464 até sua morte.
  8. Dietrich III. von Schönberg (1400-1476) (* c1400 † Stolpen, 12 de Abril de 1476), foi Bispo de Meissen de 1463 a 1476.