Hidroclorotiazida

composto químico
Estrutura química de Hidroclorotiazida
Hidroclorotiazida
Aviso médico
Nome IUPAC (sistemática)
9-cloro-5,5-dioxo-5^6-tia-2,4-
diazabiciclo[4.4.0]deca-6,8,10-triene-8-

sulfonamida

Identificadores
CAS 58-93-5
ATC C03AA03
PubChem 3639
DrugBank APRD00092
Informação química
Fórmula molecular C7H8N3ClO4S2 
Massa molar 297,741 g/mol
Farmacocinética
Biodisponibilidade 50-60%
Ligação a proteínas 67.9%
Metabolismo Não metabolizado
Meia-vida 5,6 a 14,8 horas
Excreção Renal
Considerações terapêuticas
Administração Oral
DL50 ?

Hidroclorotiazida (abreviado HCTZ, HCT, ou HZT), é uma medicação diurética normalmente utilizada para o tratamento da hipertensão arterial e inchaço devido à acumulação de fluidos.[1] Entre outras utilizações também destina-se ao tratamento da diabetes insípida, acidose tubular renal e a reduzir o risco de pedras nos rins em pessoas com elevada concentração de cálcio na urina.[1] Associado ao seu baixo custo, factor importante numa terapia que se pode prolongar para o resto da vida, faz dele um fármaco de primeira linha no controlo da hipertensão.[1][2] A HCTZ é tomada via oral e pode ser combinada com outros medicamentos para a tensão arterial num único comprimido para aumentar a sua eficácia.[1]

Os efeitos colaterais incluem a pobre função renal, distúrbios eletrolíticos especialmente baixo nível de potássio no sangue e, embora menos frequentemente, baixo nível de sódio no sangue, gota, níveis elevados de açúcar, e sensação de desmaio imediatamente depois de se levantar.[1] Apesar de as alergias a HCTZ normalmente serem descritas em pessoas com alergias a sulfonamidas, esta associação não é cientificamente bem suportada.[1] Pode ser utilizada durante a gravidez, mas não é uma medicação de primeira linha neste grupo.[1]

Encontra-se na classe dos tiazídicos e o seu mecanismo de acção reduz a capacidade dos rins em reter água.[1] Inicialmente, a hidroclorotiazida reduz o volume do sangue, levando a uma diminuição do retorno venoso e consequentemente à redução do débito cardíaco.[3] Não obstante, acredita-se que a utilização a longo prazo baixe a resistência vascular periférica.[3]

Duas companhias, a Merck e a Ciba, declararam ter descoberto a medicação, a qual viria a tornar-se comercialmente disponível em 1959.[4] Consta na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial de Saúde, os medicamentos mais importantes necessários num sistema básico de saúde.[5] Em 2008, foi o segundo medicamento mais comum utilizado para tratamento da tensão arterial nos Estados Unidos.[3] Encontra-se disponível como medicamento genérico[1] e é relativamente acessível.[6]

Usos médicos editar

A hidroclorotiazida é freqüentemente utilizada para o tratamento da hipertensão, insuficiência cardíaca congestiva, edema sintomático, diabetes insipidus e acidose tubular renal.[1] Também é utilizada para a prevenção de pedras nos rins em pessoas com concentração elevada de cálcio na urina.[1]

A maior parte da pesquisa que apoia o uso de diuréticos tiazídicos na hipertensão foi realizada utilizando clortalidona, um medicamento diferente na mesma classe. Alguns estudos mais recentes têm sugerido que a clortalidona pode ser o diurético tiazídico mais eficiente.[7]

Este fármaco é também por vezes utilizado para o tratamento de hipoparatireoidismo,[8] hipercalciúria, doença de Dent e doença de Ménière. Para a diabetes insípida, o efeito dos diuréticos tiazídicos é presumidamente mediado com uma hipovolemia induzida pelo aumento da reabsorção proximal de sódio e água, diminuindo assim o fornecimento de água para os pontos sensíveis do ADH na colecta de túbulos e aumentando a osmolaridade da urina.

As tiazidas são também utilizadas no tratamento da osteoporose. As tiazidas desaceleram a perda mineral óssea, promovendo a retenção de cálcio nos rins e estimulando directamente a diferenciação osteoblástica e a formação mineral óssea.[9]

Antigamente era utilizado em altas doses (>50 mg) provocava complicações como hipocaliémia, hiperuricemia e outros distúrbios metabólicos. Hoje é utilizado em doses menores, (12,5 e 25 mg), graças em parte ao surgimento de outros fármacos que podem ser usados conjuntamente, permitindo assim um melhor controle com doses menores de cada um dos medicamentos individualmente. Poderá ser administrado em conjunto com outros anti-hipertensivos com preparação de combinações em dose fixa, tal como losartan/hidroclorotiazida (ver abaixo).

Efeitos adversos editar

Estes efeitos aumentam com a dose de medicação e são mais comuns em doses superiores a 25 mg por dia.

As bulas, com base nos relatórios de casos e estudos observacionais sugerem que a alergia a um sulfonamida predispõe o paciente a níveis de sensibilidade com interferência cruzada a um diurético tiazídico. Em 2005, após uma revisão literária dos folhetos informativos não encontraram apoio para esta sensibilidade cruzada.[10]

Farmacodinâmica editar

 
Co-Diovan (valsartan e HCTZ)
 
Dois benazepril HCl genéricos de 20 mg e comprimidos HCTZ 25 mg, de via oral.

A hidroclorotiazida pertence à classe de diuréticos tiazídicos. A medicação reduz o volume do sangue, agindo sobre os rins para reduzir a reabsorção de sódio (Na+) no túbulo contorcido distal. A hidroclorotiazida atua no túbulo distal do nefron a nível do cotransportador sensível das tiazidas (TSC) que é um canal de simporte Na+/Cl-. Deste modo há uma maior excreção de NaCl e de água (por efeito osmótico). Esta perda de água aumenta a diurese e diminuí o volume líquido extracelular e consequentemente baixa a pressão sanguínea. As tiazidas aumentam a reabsorção de cálcio neste segmento de forma não relacionada com o transporte de sódio.[11] Inicialmente as tiazidas foram sintetizadas com o objetivo de serem inibidoras da anidrase carbónica (outra classe de diuréticos que diminui a reabsorção de HCO3- e, indirectamente, de Na+). Contudo as tiazidas (incluindo a hidroclorotiazida) são inibidores muito fracos da anidrase carbónica, não sendo este o alvo terapêutico. Além disso, através doutros mecanismos, acredita-se que a HCTZ reduz a resistência vascular periférica.[12]

Farmacocinética editar

A concentração máxima de hidroclorotiazida é atingida após 1,5-2 horas de sua administração oral em associação à olmesartana medoxomila. A ligação de hidroclorotiazida às proteínas plasmáticas é de 68% e o seu volume aparente de distribuição é 0,83-1,14 l/kg. Quando os níveis plasmáticos de hidroclorotiazida foram acompanhados por, no mínimo, 24 horas, a meia-vida variou entre 5,6 e 14,8 horas. Não é metabolizada, mas é eliminada rapidamente pelo rim. No mínimo, 60% da dose oral é eliminada inalterada dentro de 48 horas. O clearance renal está entre 250-300 ml/min e a meia-vida de eliminação é de 10-15 horas.

Sociedade e cultura editar

Nomes comerciais editar

A hidroclorotiazida encontra-se disponível como medicamento genérico numa grande variedade marcas, incluindo Apo-Hydro, Aquazide, BPZide, Dichlotride, Esidrex, Hydrochlorot, Hydrodiuril, HydroSaluric, Hypothiazid, Microzide, Oretic e muitos outros.

Por forma a reduzir a carga do comprimido, a hidroclorotiazida é frequentemente utilizada em combinações de dose fixa com muitas outras classes de medicamentos anti-hipertensivos, tais como:

Desporto editar

A hidroclorotiazida foi detectada na urina do ciclista russo Alexandr Kolobnev durante o Tour de France de 2011.[13] Kolobnev foi o único ciclista a abandonar a competição de 2011 devido aos efeitos adversos apresentados num controle de doping.[14] Enquanto que a hidroclorotiazida não é por si só uma droga que reforça o desempenho desportivo, pode ser utilizada para disfarçar o uso de drogas que melhoram o desempenho do atleta, e é classificada pela Agência Mundial Antidoping como uma "substância específica". Kolobnev foi posteriormente inocentado de todas as acusações de dopagem intencional.[15][16]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k «Hydrochlorothiazide». The American Society of Health-System Pharmacists. Consultado em 1 de Janeiro de 2015 
  2. Wright, JM; Musini, VM (8 de Julho de 2009). «First-line drugs for hypertension.». The Cochrane database of systematic reviews (3): CD001841. PMID 19588327. doi:10.1002/14651858.CD001841.pub2 
  3. a b c Duarte JD, Cooper-DeHoff RM (Junho de 2010). «Mechanisms for blood pressure lowering and metabolic effects of thiazide and thiazide-like diuretics». Expert Rev Cardiovasc Ther. 8 (6): 793–802. PMC 2904515 . PMID 20528637. doi:10.1586/erc.10.27 
  4. Ravina, Enrique (2011). The evolution of drug discovery: from traditional medicines to modern drugs 1 ed. Weinheim: Wiley-VCH. p. 74. ISBN 9783527326693 
  5. «WHO Model List of EssentialMedicines» (PDF). World Health Organization. Outubro de 2013. Consultado em 22 de Abril de 2014 
  6. «Best drugs to treat high blood pressure The least expensive medications may be the best for many people». Novembro de 2014. Consultado em 10 de Janeiro de 2015 
  7. Messerli, Franz; Makani,Harikrishna; Benjo,Alexandre; Romero,Jorge; Alviar,Carlos; Bangalore,Sripal (2011). «Antihypertensive Efficacy of Hydrochlorothiazide as Evaluated by Ambulatory Blood Pressure Monitoring: A Meta-Analysis of Randomized Trials». J.Am.Coll.Cardiol. 57 (5): 590–600. doi:10.1016/j.jacc.2010.07.053 
  8. Mitchell, Deborah. «Long-Term Follow-Up of Patients with Hypoparathyroidism». J Clin Endocrin Metab. Endocrine Society. Consultado em 19 de Junho de 2013 
  9. Dvorak MM, De Joussineau C, Carter DH, et al. (2007). «Thiazide diuretics directly induce osteoblast differentiation and mineralized nodule formation by targeting a NaCl cotransporter in bone». J. Am. Soc. Nephrol. 18 (9): 2509–16. PMC 2216427 . PMID 17656470. doi:10.1681/ASN.2007030348 
  10. Johnson, KK; Green, DL; Rife, JP; Limon, L (Fevereiro de 2005). «Sulfonamide cross-reactivity: fact or fiction?». The Annals of pharmacotherapy. 39 (2): 290–301. PMID 15644481. doi:10.1345/aph.1E350 
  11. Uniformed Services University Pharmacology Note Set #3 2010, Lectures #39 & #40, Eric Marks
  12. Duarte, JD; Cooper-Dehoff, RM (2010). «Mechanisms for blood pressure lowering and metabolic effects of thiazide and thiazide-like diuretics». Expert review of cardiovascular therapy. 8 (6): 793–802. PMC 2904515 . PMID 20528637. doi:10.1586/erc.10.27  NIHMSID: NIHMS215063
  13. «Tour de France: Alexandr Kolobnev positive for banned diuretic». Velonation. 11 de julho de 2011. Consultado em 12 de julho de 2011. Cópia arquivada em 12 de julho de 2011 
  14. «Kolobnev denies knowledge of doping product, says not fired by Katusha». Velonation. 12 de julho de 2011. Consultado em 12 de julho de 2011. Cópia arquivada em 12 de julho de 2011 
  15. «Press release: Adverse Analytical Finding for Kolobnev». Union Cycliste Internationale. 11 de julho de 2011. Consultado em 12 de julho de 2011. Cópia arquivada em 12 de julho de 2011 
  16. «Kolobnev Tour de France's first doping case». Cycling News. Bath, UK: Future Publishing Limited. 11 de julho de 2011. Consultado em 12 de julho de 2011. Cópia arquivada em 12 de julho de 2011