O Hotel La Perla é o hotel mais famoso de Pamplona, a capital da Comunidade Foral de Navarra, Espanha. Depois de muitos anos de decadência, foi completamente renovado em 2007, tornando-se numa das mais luxuosas unidades hoteleiras da cidade.

Fachada do Hotel La Perla na Praça do Castelo

O hotel situa-se na Praça do Castelo, no coração da centro histórico e um dos lados dá para a Rua Estafeta, uma das artérias percorridas pelos mundialmente famosos encierros (largadas de touros) dos Sanfermines (Festas de São Firmino). Esta sua localização seria provavelmente razão suficiente para a sua popularidade, nomeadamente durante os Sanfermines, período em as janelas ou varandas da Rua Estafeta são os locais mais cobiçados para assistir aos encierros.[1]

É o segundo hotel mais antigo ainda em funcionamento em Espanha, tendo aberto em 5 de junho de 1881. Ao longo da sua história teve alguns hóspedes célebres, como Orson Welles, Charles Chaplin ou Pablo Sarasate.[1][2] A história, muito divulgada, de que foi também o hotel preferido de Ernest Hemingway nas suas visitas a Pamplona, parece ser afinal uma invenção ou confusão.[3]

História editar

 
Vista da Praça do Castelo, com o Hotel La Perla na esquina ao fundo, à esquerda da árvore em primeiro plano

O hotel foi fundado em 1881 com o nome de Fonda[a] La Perla no nº 9 da Praça do Castelo pelo casal Miguel Erro e Teresa Graz, ambos ligados há hotelaria e restauração — ele era cozinheiro e ela provinha de uma família de Burguete, uma aldeia nos Pirenéus, que aí tinha uma fonda e restaurante. Passados uns meses mudaram-se para o nº 1, onde aí se encontra o hotel. O estabelecimento só foi oficialmente reconhecido como hotel em 1 de janeiro de 1888, embora em alguns impressos de 1884 e 1885 já se auto-denominasse como hotel.

Desde os primeiros anos que o restaurante da Fonda La Perla ficou conhecido pela qualidade da sua comida, para o que contribuiu o facto da família da co-proprietária ter facilidade em obter produtos franceses muito apreciados, devido à proximidade de Burguete da fronteira e das relações estreitas que mantinham com Saint-Jean-Pied-de-Port. O restaurante fornecia o bufete do Teatro Gayarre e o balneário de Betelu, frequentado pelo rei espanhol. O hotel era também notícia frequente nos jornais que anunciavam a chegada de Paris desta ou daquela mademoiselle que iria mostrar no hotel a última moda em chapéus, faixas, corpetes...[4]

Durante a epidemia de cólera que assolou Pamplona no verão de 1885 a Fonda La Perla foi o único estabelecimento que se atreveu continuar aberto e a fornecer comida ao lazareto (hospital de doenças infecciosas). O fundador Miguel Erro faleceria 31 de julho vítima de cólera, poucos dias depois de ter partido para Betelu, para explorar a época estival, como era habitual. A sua morte fez com que o rei Afonso XII suspendesse a sua viagem a Betelu, onde todos os verões costumava passar alguns dias. Falou-se então que a morte de Miguel Erro teria servido oportunamente para evitar a morte do rei, mas por ironia do destino, este morreria menos de dois meses depois.[4]

O negócio prosseguiu sob a direção da viúva Teresa Graz, com o apoio da sua cunhada Micaela Erro, isto numa altura em que ainda não se tinha inventado o conceito de mulher empresária.[4]

Hemingway — hóspede ou não editar

Segundo muitos guias turísticos, o escritor norte-americano Ernest Hemingway teria sido um hóspede fiel nas diversas visitas que fez à cidade e o Hotel La Perla aparece no seu romance The Sun Also Rises (publicado em Portugal com o título Fiesta), de 1927, como "Hotel Montoya". O suposto quarto favorito do escritor, o antigo nº 217 e atual 201, ainda se conserva, tendo sido reservado para todos os dias dos Sanfermines durante 40 anos por um editor suíço.[5][1]

Esta história parece não ter qualquer consistência factual, pois é desmentida por escritos do pŕoprio escritor. Por exemplo em “Pamplona in July” Hemingway conta que em 1923, a primeira vez que foi aos Sanfermines, ele e a sua esposa reservaram um quarto no La Perla, mas quando lá chegaram deram-se conta de que era muito caro e a dona do hotel teve a amabilidade de lhes arranjar um quarto mais barato numa pensão no nº 5 da Rua Eslava. Nos anos seguintes hospedar-se-ia num no nº 18 da Praça do Castelo, cujo dono, Juanito Quintana, era um aficionado de touros que se tornou grande amigo do escritor e que, ele sim, inspirou a figura de Juanito Montoya que aparece em “The Sun Also Rises”.[3]

Notas e referências editar

[a] ^ Fonda é um termo espanhol equivalente a pensão em Portugal ou a pousada no Brasil.
  1. a b c Mariani, John (16 de janeiro de 2008). «Pamplona, Without the Bullsh--». www.esquire.com (em inglês). Esquire. Consultado em 19 de junho de 2011. Cópia arquivada em 19 de junho de 2011 
  2. «Gran Hotel La Perla». www.prestigehw.com (em inglês). Prestige Hotels of the World by Keytel. Consultado em 19 de junho de 2011. Arquivado do original em 26 de abril de 2012 
  3. a b Izu, Miguel (8 de julho de 2014). «La habitación de Hemingway» (em espanhol). www.noticiasdenavarra.com. Consultado em 4 de outubro de 2014. Arquivado do original em 14 de julho de 2014 
  4. a b c Hualde, Fernando (5 de junho de 1930). «Hotel La Perla: Hoy cumple 130 años». www.noticiasdenavarra.com (em espanhol). Diario de Noticias. Consultado em 19 de junho de 2011. Arquivado do original em 19 de junho de 2011 
  5. «Running for your life in Pamplona». www.pilotguides.com (em inglês). Pilot Guides. Consultado em 19 de junho de 2011. Cópia arquivada em 6 de outubro de 2008 

Ligações externas editar