Igreja de Nossa Senhora das Mercês (Mariana)

A Igreja de Nossa Senhora das Mercês localiza-se no centro historico de Mariana, Minas Gerais.

Igreja de Nossa Senhora das Mercês, localizada na Rua das Mercês, centro histórico de Mariana

História editar

A igreja foi construida a partir de iniciativa da Irmandade de Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos, que foi instituida em 16 de maio de 1787.[1] Cônego Raimundo Trindade, todavia, afirma que a provisão seria de 1769, e que a Igreja começou a ser construida nessa data. Já Salomão de Vasconcellos aponta o ano de 1787 para o início das obras. Provavelmente, a exemplo do ocorrido com outras igrejas mineiras do período, tenha existido anteriormente uma capela primitiva da Irmandade, tendo a edificação da igreja definitiva sido construida depois.[2]

A inexistência de elementos documentais, impossibilita também o devido esclarecimento sobre a autoria do projeto e das obras de construção. Embora dada como construída em fins do século XVIII, o que parece ser justificado pela solução adotada em seu frontispício, é constituída, entretanto, na sua parte principal, por estrutura em madeira e taipa, recursos construtivos já abandonados nas construções religiosas daquele período.[2]

Possivelmente, em 1871, o edifício se encontrava em obras, uma vez que naquele ano a Irmandade solicitou à Câmara Municipal a doação de degraus de pedra do antigo Pelourinho da cidade, então demolido, para a construção de uma escada para o Presbitério da Capela. Esta hipótese encontra sustentação na ampliação do telhado, indicando aumento ou reforma do corpo principal e da sacristia. No século XX, novas restaurações e alterações ocorreriam, algumas delas descaracterizantes como a de 1936, quando foram realizados os seguintes serviços: substituição dos velhos muros de pedra do jardim por balaustrada; entijolamento do átrio, em lugar das lajes antigas; colocação de aldrabas cimentadas nos beirais.[2]

Em seu cemitério anexo está enterrado o Monsenhor José Silvério Horta, pároco em processo de beatificação.[3][4]

Combate a escravidão editar

As Irmandades de Nossa Senhora das Mercês tem sua origem na Espanha medieval, no contexto de reconquista da Peninsula Ibérica, naquele momento dominada por árabes muçulmanos, do Califado Omíada. A Ordem Real e Militar de Nossa Senhora das Mercês da Redenção dos Cativos surgiu através dos investimentos de São Pedro Nolasco e São Raimundo da Penaforte, com o rei Jaime I, sendo ao mesmo tempo uma força militar e religiosa.[5]

A Ordem tinha por principio a castidade, obediência e o voto de pobreza, e aos poucos foi se espalhando por toda a Europa. Chegando ao Brasil, por volta de 1639, aqui sobressaiu o cárater assistencialista do grupo. Nas Minas Gerais, a irmandade ligou-se aos escravizados, dedicando-se a luta de combate a escravidão. A partir da busca de apoio material, anualmente a Irmandade comprava a alforria de escravizados, libertando-os do cativeiro.[5]

Rituais editar

A Irmandade ainda existe, e até os dias atuais segue os mesmos rituais tradicionais do contexto setecentista.[6] Destaca-se a esse respeito a celebração de sua padroeira, Nossa Senhora das Mercês, em setembro.[4]

Descrição editar

 
Igreja de Nossa Senhora das Mercês

A Igreja de Nossa Senhora das Mercês se assemelha, tanto na arquitetura como na decoração da talha, com a capela da Arquiconfraria de São Francisco, construída pela mesma época. Sua fachada é encimada por um campanário, como a maioria das capelas de fins do século XVIII, resguardando, entretanto, a feição das construções do início do século, especialmente por se tratar de uma construção de madeira e taipa.[2]

Internamente caracteriza-se pela simplicidade do conjunto das talhas e despojamento decorativo dos altares laterais. As colunas são retas e lisas, assim como os captéis. O altar do lado do Evangelho pertence, desde a sua origem, ao grupo da Sagrada Família. As imagens são em madeira, decoradas em ouro. O altar do lado da Epístola, é consagrado a Nossa Senhora do Parto, obra também rara, talhada em madeira e dourada, parecendo da mesma procedência.[2]

Destacam-se no conjunto, as grades do coro e a balaustrada da nave, em madeira torneada, de jacarandá preto. Além das imagens de boa qualidade, a igreja conserva na sacristia painéis, objetos de cunho religioso, uma mesa artística que pertenceu ao Frei Cipriano e poltronas em estilo Luís XV, que foram de D. Manuel da Cruz, primeiro bispo de Mariana.[2]

Referências editar

  1. https://hpip.org/pt/Heritage/Details/745  Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  2. a b c d e f «Mariana – Igreja de Nossa Senhora das Mercês | ipatrimônio». Consultado em 22 de janeiro de 2024 
  3. «Portal do Turismo de Mariana :: Portal do Turismo de Mariana :: Atrativos - Igreja Nossa Senhora das Mercês». turismo.mariana.mg.gov.br. Consultado em 22 de janeiro de 2024 
  4. a b Parábola, Agência. «Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, de Mariana, celebra a festa de sua padroeira». Arquidiocese de Mariana - MG. Consultado em 22 de janeiro de 2024 
  5. a b Teixeira, Vanessa Cerqueira (1 de julho de 2017). «A celebração entre o sagrado e o profano: os rituais festivos da irmandade de Nossa Senhora das Mercês de Mariana (Minas Gerais, séculos XVIII-XIX)». Métis história e cultura (32): 135–154. ISSN 2236-2762. doi:10.18226/22362762.v16.n.32.08. Consultado em 22 de janeiro de 2024 
  6. «O LEGADO DAS IRMANDADES». compat-mariana (em inglês). Consultado em 22 de janeiro de 2024