Inguchétia

república da Federação Russa

A República da Inguchétia[2] ou da Inguxétia[3] (russo: Респу́блика Ингуше́тия, tr. Respúblika Ingushétia; em inguche: ГӀалгӀай Мохк, tr. Ğalğaj Moxk), Ingúchia ou Ingúxia[3] é uma divisão federal da Federação da Rússia (uma república), localizada na região do Cáucaso do Norte. Seus idiomas oficiais são o inguche e o russo, e sua capital é Magas, pequena cidade situada nos arredores sudeste de Nazran, até recentemente capital da república.

Rússia República da Inguchétia / Inguxétia

Республика Ингушетия (russo)
ГӀалгӀай Мохк (inguche)

 
  República  
Símbolos
Bandeira de República da Inguchétia / Inguxétia
Bandeira
Brasão de armas de República da Inguchétia / Inguxétia
Brasão de armas
Hino Hino da República da Inguchétia
Gentílico inguche
Localização
Localização da Inguchétia (em vermelho) na Rússia.
Localização da Inguchétia (em vermelho) na Rússia.
Localização da Inguchétia (em vermelho) na Rússia.
País  Rússia
Distrito federal Norte do Cáucaso
Região econômica Norte do Cáucaso
História
Estabelecido em 4 de junho de 1992
Administração
Capital Magas
Líder Mahmud-Ali Kalimatov
Características geográficas
 • Área total 3 000 km²
 • População total 412 529 hab.
Informações
Fuso horário UTC+3
Outras informações
Língua oficial Russo e inguche
IDH (2010) 0,790 (71.º) – alto[1]
Código ISO 3166-2 RU-IN
Sítio www.ingushetia.ru

É a menor divisão federal da Rússia, com a exceção das três cidades federais, Moscovo, São Petersburgo e Sebastopol, e foi fundada em 4 de junho de 1992, após a República Socialista Soviética Autônoma Checheno-Inguche se dividir em duas outras repúblicas.[4] A Inguchétia é lar dos inguches, um povo de ascendência vainaque.

O nome "Inguchétia" deriva do nome da antiga aldeia de Ongusht (renomeada em 1859 como Tarskaia, e transferida em 1944 para a Ossétia do Norte) e do sufixo georgiano -eti, que significa "(terra) onde vivem" (neste caso, os inguches).

A Inguchétia continua a ser uma das mais pobres e conturbadas regiões russas. O atual conflito militar na vizinha Chechênia chega ocasionalmente à Inguchétia, e a república tem sido desestabilizada pela corrupção, por vários crimes de extrema gravidade (como o sequestro e assassínio de civis por forças de segurança governamentais[5]), protestos contra o governo, ataques a funcionários e soldados, excessos militares das tropas russas e uma situação dos direitos humanos que se deteriora.[6]

Geografia editar

Geografia física editar

A Inguchétia fica situada na Ciscaucásia, na vertente norte da cadeia do Cáucaso.

Geografia humana editar

De acordo com o recenseamento de 2002, os inguches constituem o grupo mais numeroso, com cerca de 77% da população total, seguidos dos chechenos com 20,4%, russos com 1,2% e turcos 0,2%.

Tanto inguches como chechenos são de tradição muçulmana sunita.

História editar

Os inguches viveram nas montanhas entre os séculos XVI–XVII, quando alguns deles começaram a descer para a planície. Na época do Reino Dzurdzukêtia (correspondente aos territórios atuais da Chechênia e Inguchétia), a região foi invadida pelo Império Mongol. A resistência aos mongóis tornou-se tema de contos folclóricos para inguches e chechenos. Em 1770 foi selado um acordo entre a Inguchétia e o Império Russo para que a Inguchétia fizesse parte do império, protegendo-se de invasores. Em 1810, o Império Russo anexa a Inguchétia. Os russos construíram fortificações na região e mudaram-se um grande número de inguches para a base militar em Nazran. O mandato russo foi repressivo, devido à resistência desenvolvida entre os inguches, culminando com a revolta de Nazran em 1858. Os inguches foram, no entanto, menos bélicos em enfrentar os russos que o povo checheno, pelo que a sua presença na rebelião Shamil em meados do século XIX, na qual vários povos do Cáucaso levantaram-se contra o domínio russo, era inferior aos dos últimos.

Durante a Revolução Russa de 1917 e a subsequente guerra civil, ocorreram combates no território da Inguchétia entre tropas bolcheviques do Exército Vermelho e as anti-soviéticas do Exército Branco. Em 1920, o poder soviético foi estabelecido no território da Inguchétia, e em 1924 criou-se o oblast (então visto como distrito), dentro do Inguchétia Autónoma na Rússia Soviética, com a cidade de Vladikavkaz (atualmente na Ossétia do Norte-Alânia) como seu centro administrativo. Em 1934, a Chechênia e a Inguchétia foram unidas para formar o Oblast Autónomo checheno-inguche, tornando-se república autónoma em 1936. Em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, Stalin acusou os inguches de colaborar com os nazistas, por isso foram deportados para a Ásia Central, naquilo que posteriormente foi chamado de Operação Lentilha em referência às numerosas plantações de lentinha existentes no Cazaquistão, para onde foram deportados. A deportação tornou-se um ponto crítico na história da região, que até hoje causa danos e se repercute no desenvolvimento dos eventos. Durante a Segunda Guerra, Hitler tentou tomar o petróleo em Baku, Azerbaijão, mas suas tropas foram detidas exatamente na Inguchétia durante a Operação Defensiva Mozdok-Malgobek.[7]

Os inguches voltariam para sua terra natal em 1957 e passariam a exigir a devolução de Prigorodni Oriental, um distrito que se estende ao longo do rio Terek, que havia sido transferido para a Ossétia durante a deportação. O conflito iniciou-se em 1992 de acordo com o Helsinki Human Rights Watch.[8] Grupos militares ossetas orquestraram uma limpeza étnica durante outubro e novembro de 1992, resultando na morte de mais de 600 inguches e na expulsão de 60 000 inguches, habitantes do distrito. Centenas foram feitos reféns por uma combinação de forças armadas russas e ossetas na escola de Beslan, privados de água e comida; no mínimo um bebê recém nascido e quase 100 homens foram mortos.[9] Este evento levou à vingança no mesmo local, o Massacre de Beslan, cometido por um grupo armado composto de chechenos e inguches. Em setembro de 2004, Alexander Litvinenko especulou que o Serviço Federal de Segurança (FSB) estava ciente do atentado, de antemão; e que eles próprios deveriam ter organizado o ataque para incriminar os povos dominados do Cáucaso. Os responsáveis pelo incidente estariam sob custódia da FSB e foram liberados muito pouco antes dos ataques.

 
Atalaias da aldeia de Erzi, Inguchétia

Quando a Chechênia declarou a sua independência da Rússia em novembro de 1991, pouco antes da dissolução da União Soviética, os inguches se separaram da Chechênia para formar a sua própria república. Em Dezembro de 1992, o Congresso dos Deputados do Povo da Rússia reconheceu a Inguchétia como uma república soberana na Rússia. A nova entidade continuou a exigir a devolução do distrito nas mãos da Ossétia do Norte-Alânia, o que começou em 1992, hostilidades entre as regiões vizinhas. Os líderes russos e inguches apressaram-se para mediar o conflito. Desde essa altura, quase todos os mais de 50 000 inguches que viviam na Ossétia do Norte foram forçados a fugir. A maioria dos refugiados vive hoje na Inguchétia, mas existem populações significativas na Bélgica, Cazaquistão, Ucrânia, Turquia, Síria, Noruega, Finlândia, Jordânia e Iraque.

Atualmente, inguches são sequestrados pela FSB. Desde 2002, mais de 180 homens desapareceram para nunca mais ser vistos.[10] Inguches vivendo no exterior também não estão seguros, e podem ser perseguidos por agentes russos. O desemprego na Inguchétia é extremamente elevado, atingindo metade da população.[11]

Muitos inguches morrem em incidentes envolvendo grupos terroristas em embates com as autoridades. De acordo com o presidente Yevkurov, mais de 700 policiais foram mortos na Inguchétia desde 2007.

Ver também editar

Referências

  1. National Human Development Report, Russian Federation, 2013 Arquivado em 27 de janeiro de 2018, no Wayback Machine., P. 150.
  2. Correia, Paulo (Outono de 2008). «Geografia do Cáucaso» (PDF). Sítio web da Direcção-Geral da Tradução da Comissão Europeia no portal da União Europeia. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias (n.º 28): 11, 13. ISSN 1830-7809. Consultado em 7 de outubro de 2012 
  3. a b Correia, Paulo (Primavera de 2019). «Duxambé, Chechénia e os estados Xã e Chim» (PDF). Sítio web da Direcção-Geral da Tradução da Comissão Europeia no portal da União Europeia. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias (n.º 59): 5-14. ISSN 1830-7809. Consultado em 8 de julho de 2019 
  4. Supremo Soviete da RFSSR (Lei) (4 de junho de 1992). Об образовании Республики Ингушетия в составе РСФСР ("Sobre a fundação da República da Inguchética dentro da RFSSR") (em russo). [S.l.: s.n.] 
  5. Ingushetia's cycle of violence, BBC Radio 4, 3 de outubro de 2009
  6. Urgent Need for Vigorous Monitoring in the North Caucasus. Human Rights Watch/Reuters, 15 de abril de 2008.
  7. «Caucasus Campaign». WW2DB. Consultado em 9 de junho de 2023 
  8. «Russia». www.hrw.org. Consultado em 9 de junho de 2023 
  9. «Cópia arquivada». Consultado em 10 de maio de 2014. Arquivado do original em 18 de maio de 2013 
  10. HUMAN RIGHTS ORGANIZATION eng.mashr.org
  11. «Cópia arquivada». Consultado em 10 de maio de 2014. Arquivado do original em 13 de maio de 2014 

Ligações externas editar

 
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