João, o Anão (Grego: Ἰωάννης Κολοβός; Árabe: ابو يحنّس القصير (Abū) Yuḥannis al-Qaṣīr c. 339 – c. 405), também chamado de João Colobos, João Kolobos ou Abade João, o Anão, foi um Padre do Deserto Copta da Igreja Cristã Primitiva.

João, o Anão
João, o Anão
Mosaico de João, o Anão no Mosteiro de São Lucas.
Nascimento c. 339
Tebas, Egito[1]
Morte c. 405
Monte Colzim, Egito
Veneração por Igreja Católica

Igreja Ortodoxa Igrejas Ortodoxas Orientais

Festa litúrgica 20 de Paopi (Igreja Ortodoxa Copta)

17 de Outubro (Igreja Católica Romana) 9 de Novembro (Igreja Ortodoxa)

Atribuições Cruz, monge de estatura baixa regando um graveto seco, no deserto.
Portal dos Santos

Vida editar

São João, o Anão nasceu na cidade de Tebas, no Egito,[1] de pais pobres, mas cristãos piedosos. Seu desejo pela vida monástica o levou desde cedo a lugares remotos onde treinou a si mesmo para a ascese. Não demorou muito para que ele fosse levado pela inspiração divina a deixar sua cidade e, aos dezoito anos, ele e um irmão mais velho mudaram-se para o deserto de Scetes.[2] Ele foi para se tornar um discípulo do velho eremita santo, Abade Pambo, o qual era professor de Bishoi, do qual viria a se tornar um bom amigo. No entanto, Pambo tentou impedí-lo de adotar essa dura vida monástica, mas, segundo a hagiografia, à noite, um anjo apareceu a ele pedindo-lhe que aceitasse o jovem João como monge. Após três dias inteiros de jejum e orações, o mestre e o discípulo testemunharam um anjo abençoando as roupas novas que o jovem vestiria, João se tornou, então, discípulo de Pambo.

São João Colobos pôs-se de todo o coração a revestir-se do espírito de Cristo e viveu uma vida de austeridade, ensinado a vários outros monges seu modo de vida, entre eles Arsênio, o Grande. O Santo anão se alimentava apenas de pão ázimo e vegetais a sua vida inteira e conseguia comer apenas uma refeição por dia.

Após a partida de Pambo, João foi ordenado sacerdote pelo Papa Teófilo e tornou-se abade do mosteiro que fundou em torno da bendita Árvore da Obediência. Quando os Mazices invadiram Scetes em 395, João fugiu do Deserto da Nítria e foi morar no Monte Colzim, perto da atual cidade de Suez, onde veio a morrer.

Quando se aproximava de seu fim, seus discípulos suplicaram-lhe que lhes deixasse alguma lição final de perfeição cristã. Ele suspirou, e para evitar o ar de um professor alegando sua própria doutrina e prática, ele disse, “Eu nunca segui minha própria vontade; nem nunca ensinei a outro o que eu mesmo não havia praticado primeiro''. Quando ele entregou sua alma ao Senhor, seu servo que voltava da aldeia viu os anjos levando sua alma para o Céu acompanhado pelos espíritos dos santos. Ele, então, tratou o corpo de seu mestre com honra e o carregou para a aldeia. Mais tarde, em 515, seu corpo foi levado para o deserto de Scetes.[3]

A Árvore da Obediência editar

 
Ícone de São João Colobos em que ele é representado regando o graveto que viria a se tornar a Árvore da Obediência.

São João renunciou a toda e distração e entretenimento e, como os mosteiros ainda não haviam sido construídos naquela época, apenas os eremitas povoavam o deserto. Ele suportou todos os difíceis testes como um mestre experiente em vez de um discípulo brilhante. O Abade Pambo levou-o à perfeita vigilância, humildade, solidão, subjugação do corpo, mansidão, silêncio, simplicidade e, principalmente, obediência.

Assim, na mais famosa história de São João, o Anão conta-se que, no deserto de Scetes, seu pai espiritual, Pambo, pegando um pedaço seco de madeira plantou-o e disse a ele: “Molhe-o todos os dias com uma garrafa de água, até que dê fruto”. João, de grande obediência, seguiu as ordens do abade e continuou a regar o graveto duas vezes ao dia, embora a água ficasse a cerca de 20 quilômetros de onde eles moravam. Ao final de três anos a madeira reviveu e deu fruto. Então o ancião pegou alguns frutos e levou-os à igreja, dizendo aos irmãos: “Peguem e comam do fruto da obediência”. Postumiano, senador romano que esteve no Egito em 402, garantiu que lhe mostraram esta árvore que crescia no pátio do mosteiro e que ele viu coberta de brotos e folhas verdes.[4][3]

Sobre o silêncio, São Pambo o ensinou dizendo: "Meu filho, fique em silêncio para que os maus pensamentos não dominem sua mente e façam de sua alma perdida. Particularmente na igreja, devemos ser mais cuidadosos para sermos dignos da presença dos Santos Mistérios."[3]

Outras histórias e ensinamentos atribuídos a São João Colobos editar

João e seu irmão editar

Em uma história, dizia-se de Pai João, o Anão, que um dia ele disse ao seu irmão mais velho: “Gostaria de ser livre de todos os cuidados, como os anjos, que não trabalham, mas prestam culto a Deus incessantemente”. Então, ele retirou seu manto e foi para o deserto. Depois de uma semana ele voltou ao seu irmão. Quando bateu à porta ouviu seu irmão dizer, antes de abrir: “Quem é você?” Ele disse: “Sou João, seu irmão”. Ao que o outro retrucou: “João se tornou um anjo e dessa maneira não mais se encontra entre os homens”. O outro pediu para entrar, dizendo: “Sou eu”. Contudo, seu irmão não o deixou entrar, mas o deixou lá fora, aflito, até de manhã. Então, abrindo a porta, disse-lhe: “Você é um homem e deve novamente trabalhar para poder comer”. Então João se prostrou diante dele, dizendo: “Perdoe-me”.[4]

Os testes de seus irmãos editar

Alguns irmãos vieram um dia para testá-lo, para ver se ele deixaria seus pensamentos se dissiparem e falasse das coisas desse mundo. Disseram-lhe então: “Damos graças a Deus, pois este ano tem chovido muito e as palmeiras puderam beber e suas folhas cresceram e os irmãos encontraram trabalho manual”. Pai João disse-lhes: “Então, é quando o Espírito Santo desce aos corações dos homens, eles se renovam e produzem folhas por temor a Deus”.

Também, que m dia, quando ele estava sentado em frente à igreja, os irmãos foram consultá-lo sobre seus pensamentos. Um dos anciãos viu e tornando-se presa do ciúme disse a ele: “João, seu vaso está cheio de veneno”. Pai João respondeu-lhe: “Isto é bem verdade, Pai; e você disse isso vendo apenas o lado de fora, mas se fosse capaz de ver o interior também, o que diria, então?”.[4]

Pai João e o Nepsis editar

Pai João disse: “Sou como um homem sentado debaixo de uma grande árvore, que vê bestas selvagens e serpentes, vindo contra ele em grande número. Quando não pode mais, ele corre e sobe na árvore e se salva. É a mesma coisa comigo; sento-me em minha cela e estou consciente de pensamentos maus vindo contra mim e quando não tenho mais forças contra eles, busco refúgio em Deus pela oração e sou salvo do inimigo”.

Ademais, deu este conselho: “Vigiar significa sentar-se na cela e estar sempre presente a Deus. Isto é o que significa o dizer: ‘eu vigiava e Deus veio até mim'”.[4]

João sobre o chamado do Cristo editar

Disse o abade João: “Esta palavra está escrita no Evangelho: Quando Jesus chamou Lázaro para fora do sepulcro, suas mãos e pés estavam amarrados e seu rosto envolvido num pano; Jesus o desatou e o despediu. Nós, portanto, temos as mãos e os pés amarrados e nosso rosto está coberto com um pano, obra das mãos do inimigo. Se, portanto, escutamos Jesus, ele nos livrará de tudo isso e nos libertará da escravidão de todos esses maus pensamentos. Então seremos filhos do Senhor, receberemos em herança as promessas e seremos filhos do Reino Eterno”.[5]

Referências

  1. a b «القديس يوأنس القصير | الأنبا يحنس القصير | أنبا يوحنا القصير | St-Takla.org». st-takla.org. Consultado em 11 de maio de 2023 
  2. ajeyaseelan (12 de janeiro de 2023). «St. John the Dwarf, Anchoret of Sceté». Collection at Bartleby.com (em inglês). Consultado em 11 de maio de 2023 
  3. a b c «St. John The Short - CopticChurch.net». www.copticchurch.net. Consultado em 11 de maio de 2023 
  4. a b c d Cadu (31 de janeiro de 2012). «Padres do Deserto: Sentenças do Pai João, o anão I». Dominus Vobiscum. Consultado em 11 de maio de 2023 
  5. Cadu (2 de fevereiro de 2012). «Padres do Deserto: Sentenças do Pai João, o anão II». Dominus Vobiscum. Consultado em 11 de maio de 2023