José Agostinho de Macedo

padre e escritor português

José Agostinho de Macedo (Beja, 11 de Setembro de 1761Lisboa, 2 de Outubro de 1831) foi um padre e escritor português, e importante crítico do liberalismo em seu tempo.

José Agostinho de Macedo
José Agostinho de Macedo
O escritor, em representação do século XIX.
Nascimento 11 de setembro de 1761
Beja, Reino de Portugal
Morte 2 de outubro de 1831 (70 anos)
Lisboa, Reino de Portugal
Nacionalidade Portuguesa
Ocupação Escritor, padre, poeta
Magnum opus O Oriente (1814)

Carreira editar

 
Casa onde nasceu José Agostinho de Macedo, na Rua Dr. Manuel d'Arriaga (antiga Rua da Capelinha), em Beja

Iniciou a sua carreira como frade da Ordem dos Gracianos (1778), de onde foi expulso (1792), e terminou-a como “mercenário da palavra”, um autêntico líder de opinião ao serviço da Igreja.[1]

Foi um escritor de estilo polémico e agressivo. Contra a maçonaria escreveu o livro Morais dos pedreiros livres e iluminados (1816). Era adepto fervoroso do miguelismo. Foi diretor do jornal A tripa virada[2] (1823).

Tentou suplantar Os Lusíadas de Luís de Camões, que criticou duramente na sua Censura das Lusíadas, com o seu próprio poema épico: O Oriente, publicado em 1814 (corrigido e aumentado em edições posteriores); considerava que esta sua Epopeia "vale mais que Os Lusíadas,"[3] e que era "a menos defeituosa possível".[4]

Teve algumas queixas na Inquisição. Numa foi denunciado por alegadamente ter dito a uma mulher (que se encontrava "triste e pensativa" com "medo da morte e contas que devia dar a Deus") que "não havia Inferno", que "a gente em morrendo era como os animais que não tinham nada que sentir", e que "com a morte acabava o espírito";[5] a testemunha alega ainda que José Agostinho de Macedo "ameaçou matá-la, se tal denúncia fizesse".[5]

Foi este o juízo de Inocêncio Francisco da Silva sobre ele: "Homem de inegável talento, e de vasta erudição, escritor fecundíssimo, como bem se deixa ver de tantas e tão variadas produções, seria talvez mais querido dos contemporâneos, e a sua memória melhor apreciada da posteridade, se o temperamento atrabiliário que nele predominava, um amor próprio excessivo, ainda que justificável até certo ponto pela reconhecida inferioridade dos seus competidores, e mais que tudo os ódios suscitados pelas querelas políticas, em que tomou com a pena tão activa parte nos seus últimos anos, lhe não alienassem as simpatias de muitos, impossibilitando-os de assentarem a seu respeito um juízo recto e imparcial."[6]

Críticas a Camões editar

Já em criança José Agostinho causava indignação aos professores pelas suas respostas desafiantes, e críticas a Camões; um dia, durante uma leitura do poeta, foi castigado pelo seu mestre por afirmar: "Camões não presta!"[7]

Eis uma selecção das suas críticas a Camões, e contra Os Lusíadas em particular:[8]

  • "Nenhum poeta interpretou mais amplamente as leis da liberdade poética."
  • "A primeira palavra que lhe lembra para fechar um verso ou para rimar um verso, é logo empregada sem escolha venha ou não venha para ali."
  • "Escreve à toa, diz o que lhe lembra e onde lhe lembra."
  • "Faz o que quer e não lhe importam as regras da boa razão."
  • "O Poema dos Lusíadas parece escrito à toa, não se correspondem entre si as partes, os caracteres, as situações."
  • "Parece um problema irresolvível o motivo porque se tem lido e traduzido este poema."
  • "O seu maquinismo é absurdo e perfeitamente monstruoso."
  • "Há nele uma certa disposição para insultar os monarcas portugueses."
  • "As Divinas Lusíadas são muito injuriosas aos reis e às rainhas de Portugal."
  • "O que mais custa a encontrar é o estilo poético, neste tão celebrado poema."
  • "São impróprios, deslocados e impertinentes os sermões com que vai entressachado o poema."
  • "As incorrecções são tão frequentes, que parece que o poeta não só não impusera a última, mas nem a primeira lima ao seu poema."
  • "Tem versos errados e aleijados e disparatados."
  • "Cansa o entendimento em notar tantas impropriedades."
  • "Tiradas do poema as oitavas inúteis, ficava reduzido a cousa nenhuma."

Nuno Álvares Pereira Pato Moniz responde a estas e outras críticas (apelidadas por José Feliciano de Castilho Barreto e Noronha de "injustíssimas"), em numerosas obras. Mesmo o inglês Richard Francis Burton, no seu comentário aos Lusíadas, frequentemente refuta Macedo, concluindo que o padre é um "falso poeta" que "mostra a sua total ignorância ao lado do conhecimento de Camões".[9]

Obras editar

“Cantas, ó génio, como os deuses falam!”

Manuel Maria Barbosa du Bocage, num soneto de homenagem a José Agostinho de Macedo.[10]

O Catálogo das obras de José Agostinho não é possível ser publicado completo,[11] já que o autor "foi quantitativamente o mais prolífico dos escritores portugueses do tempo: a sua bibliografia é interminável." [12]

Ensaios/Crítica editar

  • Cartas Filosóficas a Attico (1815)
  • Refutação dos Principios Metafísicos e Morais dos pedreiros livres e iluminados (1816)
  • Os Frades, ou reflexões filosoficas sobre as corporações regulares (1830)
  • O Homem, ou os Limites da Razão; Tentativa filosófica
  • A Verdade, ou Pensamentos filosóficos

Poesia editar

  • A Natureza (1806)
  • Gama, poema narrativo (1811)
  • Meditações, Poema Filosófico
  • O Argonauta, poemeto
  • O Novo Argonauta (1809)
  • Newton, poema filosofico (1813)(eBook)
  • Branca de Rossi. Tragédia
  • A Meditação, Poema filosofico em quatro cantos (1813)
  • O Oriente, poema épico (1814)

Odes editar

  • Ode a Lord Wellington
  • 1.ª Ode a Sua Magestade Imperial Alexandre I, o Triunfador (1813)
  • 2.ª Ode a Sua Magestade Imperial Alexandre I, o Triunfador (1813)
  • Ode ao Príncipe Kutusow pela Batalha de Borodino (1813)
  • Ode à Ambição de Bonaparte
  • Ode ao General Kutusow

Epístolas editar

  • Epístola a Lord Wellington
  • Epístola às Nações Aliadas na Passagem do Reno
  • Epístola de Manoel Mendes Fogaça (eBook)
  • Epístola em resposta a outra de Maio e Lima

Outros editar

  • Besta Esfolada
  • D. Luiz d'Ataide, ou, A tomada de Dabul: drama heroico. Lisboa, Imprensa Nacional, 1823.[13]
  • Os Sebastianistas
  • O Segredo Revelado, ou, manifestação do systema dos Pedreiros livres, e illuminados, e sua influencia na fatal revolução franceza (1809)[14][15]
  • Justa defesa do livro intitulado "Os Sebastianistas"
  • Inventário de Sandices
  • Exame examinado, Resposta a Rocha e Pato
  • Mais Lógica
  • O Voto, elogio dramatico
  • O Couto, Resposta ao Folheto "Regras da Oratória da Cadeira"
  • Sermão contra o filosofismo do século XIX (1811) (eBook)
  • Sermão de Acção de Gaças, prégado em S. Paulo em occasião da Paz Geral de 1801
  • Sermão das Dores de N. Senhora, prégado de tarde na Real Capella dos Paços de Queluz, na Festividade que mandava fazer a Sereníssima Senhora Princesa do Brazil, Viuva, no ano de 1803
  • Sermão de Acção de Graças pela Restauração, prégado na Igreja de N. S. dos Martyres
  • Sermão sobre a Seita dominante no Século XIX
  • Sermão de Preces, prégado na Igreja de N. S. dos Martyres
  • Sermão de Quarta feira de Cinzas, prégado na Santa igreja da Misericóridia de Lisboa a 3 de março de 1813
  • Sermão de Acção de Graças pela Paz Geral, prégado em S. julião
  • Sermão sobre a verdade da Religião Catholica prégado na Igreja de N. S. dos Martyres 1817
  • Sermão na Festividade da Istituição da Real ordem de Santa Izabel, celbrada na Igreja de S. Roque, 1819
  • Sermão da magdalena, prégado na igreja da mesma Santa. 1820
  • Exorcismos, contra periódicos, e outros malefícios [16]. (1821)
  • Tripa por uma vez[17] (1823)
  • Oração fúnebre recitada nas Exéquias do Barão de Quintella. 1818
  • Panegyrico de S. Francisco Xavier, recitado na Real Capella dos Paços de Qualuz a 3 de Dezembro de 1804, estando presente S. A. R. o Príncie Regente N. S., que por seu voto particular mandou festejar o mesmo Santo
  • Demonstração da Existência de Deus
  • A Verdade, ou Pensamentos filosóficos
  • A Análise Analisada, resposta a A. M. do Couto (1815)
  • Branca de Rossis: tragédia (1819)
  • Collecção de varios, e interessantes escriptos do P. José Agostinho de Macedo (1838, obra póstuma)

Ver também editar

Referências

  1. MACEDO, José Agostinho de (11/09/1761-02/10/1831), Hemeroteca Digital
  2. A tripa virada : periodico semanal (1823) [cópia digital, Hemeroteca Digital]
  3. Obras inéditas de José Agostinho de Macedo (Lisboa, 1900)
  4. José Agostinho de Macedo, O Oriente: poema, Vol. I (Impressão Regia, 1814), p. 99.
  5. a b Memórias para a vida íntima de José Agostinho de Macedo (1899) por Inocêncio Francisco da Silva, p. 185.
  6. Innocencio Francisco da Silva, Diccionario Bibliographico Portuguez: J (na Imprensa Nacional, 1860), p. 183.
  7. Biographia do Padre Jose Agostinho de Macedo, Mello (1854), p. iv.
  8. Citados em Memorias para a vida intima de José Agostinho de Macedo (Lisboa, 1899), p. 110 e ss.
  9. Camoens: his life and his Lusiads, a commentary (1881), p. 592.
  10. Obras, I, Soneto 340. Vide Leituras de Bocage, "Macedo e Bocage: um duelo de Vaidades", p. 19.
  11. Biographia do Padre Jose Agostinho de Macedo (1854), por Joaquim Lopes Carreira de Mello, p. xiv.
  12. Saraiva, António José & Lopes, Óscar, História da Literatura Portuguesa (6ª edição), 5ª Época: O Século das Luzes, "José Agostinho de Macedo e a poesia cientista", p. 654.
  13. Macedo, José Agostinho de (1823). D. Luiz d'Ataide, ou, A tomada de Dabul: drama heroico: o assumpto he tirado da Asia Portugueza de Manoel de Faria e Sousa, tom. II. parte III. &c. Col: Tomada de Dabul. Lisboa: Na Imprensa Nacional 
  14. Barruel, abbé; Macedo, José Agostinho de (1809). O segredo revelado, ou, Manifestação do systema dos pedreiros livres, e illuminados, e sua influencia na fatal revolução franceza. [S.l.]: Lisboa : Na impressão Regia 
  15. «O CAÇADOR DE PEDREIROS-LIVRES: JOSÉ ANASTÁCIO LOPES CARDOSO E SUA AÇÃO CONTRA A MAÇONARIA LUSO-BRASÍLICA (1799-1804)». webcache.googleusercontent.com. Consultado em 12 de outubro de 2017 [ligação inativa]
  16. Catálogo BLX. «Exorcismos, contra periódicos, e outros malefícios: fugite partes adversae (1821) – registo bibliográfico.». Consultado em 7 de maio de 2020 
  17. Catálogo BLX. «Tripa por uma vez (1823) – registo bibliográfico.». Consultado em 8 de maio de 2020 

Ligações externas editar

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