José Joaquim da Silva Machado

José Joaquim da Silva Machado (Vilela, 4-1-1864/ Gandra, 9-12-1952) foi abade de São Miguel de Gandra entre 1905 até aos anos 30, tendo sido um dos mais críticos abades perante a implantação da república e das suas reformas. Foi Vigário da Vara de Valongo e uma das figuras mais relevantes da história de Gandra (Paredes).[1]

José Joaquim da Silva Machado
Nascimento 04|01|1864
Vilela, Paredes
Morte 09|12|1952
Gandra, Paredes
Nacionalidade Portugal Portugal
Ocupação Padre católico


Biografia editar

José Joaquim nasceu às 3 horas da manhã de 4 de janeiro de 1864 em Vilela, tendo sido batizado três dias depois. Era filho de Albino da Silva Machado e de Rachel Sophia de Figueiredo (ambos de Vilela) sendo neto paterno de António Joaquim da Silva Machado e materno de Dom Bernardo D´Avemaria.[1]

Foi pároco de Castelões de Cepeda até 1905, quando o Príncipe Regente D. Luís Filipe o nomeou como Abade de São Miguel de Gandra.[1]

O abade José Joaquim paroquiou Gandra num dos momentos mais difíceis e controversos da história de Portugal: o fim da monarquia e a consequente implantação da república, que se traduziu num período revolucionário que se principiou em 1908 e atravessa as primeiras duas décadas do século XX, terminando com a revolução de 1926 e a instauração da ditadura militar. Durante este período a igreja católica foi perseguida, tendo o abade José Joaquim ficado sem a administração do templo local, sem a residência paroquial e até foi enviado para o cárcere na Trafaria.[2]

Sobre a sua conduta revolucionária e anti-republicana, existe um relatório do administrador municipal republicano de Paredes que aborda a prisão deste padre e a tentativa por parte do povo de o libertar à força das mãos das autoridades militares. Dessa tentativa resultaram a morte de duas pessoas. No entanto é percetível a consideração e fidelidade do povo de Gandra para com o seu pároco.[1]

João Paulo Freire (Mario) na sua publicação Terra Lusa- Impressões de Viagem: Minho e Douro de Relance, publicada em 1917 refere a sua passagem por terras de Paredes e um encontro com o Padre José Joaquim abordando o caracter e espirito deste abade e mencionando o seguinte: “Padre José Joaquim da Silva Machado, boníssimo pastor d´almas, lhano e affável, cujos braços hospitaleiros se abrem promptamente para nos receber.” (…) Era um “sacerdote exemplar, uma das primeiras victimas do jacobinismo pintado à pressa de vermelho e verde, que é o peior de todos elles, em Gandra como em Lisboa, como em toda a parte.” Numa conversa que incluía a situação da paróquia de Gandra depois da proclamação da república em 1910, o autor comenta o seguinte: “E no rosto do exemplaríssimo e virtuoso abbade de Gandra como que passou uma nuvem de tristeza. Quem sabe! Talvez no breve minuto de uma recordação maguante o bom pastor de Gandra sentisse ainda a regelhar-lhe a alma o frio húmido das masmorras da Trafaria…” O seu legado é extenso. Corajoso e resoluto teve que proteger a sua paróquia das influências maçónicas, apoiou a reconstrução da capela de S. Sebastião de Vilarinho e incentivou Sílvia Cardoso no seu trabalho missionário que tinha como sede a Casa do Retiro da Granja (casa essa onde terá vivido, pagando renda, nas duas primeiras décadas do século XX).[3]

Nos anos 30 deixou de ser pároco de Gandra, cedendo lugar ao Padre Porto, contudo ter-se-á mantido por Gandra, desconhecendo-se se terá paroquiado outra paróquia. Foi vigário da Vara de Valongo por mais de duas décadas, mantendo-se em funções até à sua morte que ocorreu a 9 de dezembro de 1952 no lugar da igreja, em Gandra, contando 88 anos.[1]


Legado editar

O Padre Luís Pinto Carneiro pediu colaboração à Junta de Freguesia de Gandra para a construção de um jazigo no cemitério de Gandra para o padre José Joaquim da Silva Machado em 1955, estando mencionado este pedido na ata da mesma junta de 5 de junho de 1955 e referindo o seguinte: “interpretando o sentir de todos os paroquianos solicita a esta junta a cedência graciosa de terrenos para jazigo no cemitério paroquial desta freguesia, destinado aos restos mortais do Rev. Padre José Joaquim Machado, sacerdote que (…) longos anos paroquiou a freguesia.” A Junta de Freguesia respondeu da seguinte forma a este pedido: “Considerando que aquele sacerdote pela sua competência e exemplo durante o seu largo exercício pastoral nesta freguesia é digno de todas as homenagens do povo desta freguesia acha esta junta, deve associar-se a esse fruto fazendo a cedência voluntária e graciosa do terreno pedido.” [1]

Existe ainda uma lápide que deambula pela sacristia da Igreja Matriz e que terá estado na antiga residência paroquial com as seguintes inscrições: “Ao Padre José Joaquim da Silva Machado Pároco de Gandra desde 1906 a freguesia agradecida 11/7/1937”.[1]

Estas palavras só provam o apreço de toda a freguesia por esta figura que deverá ser uma das maiores e mais ilustres de que há memória nesta terra, tendo-a defendido dos males jacobitas republicanos bem como a fé e alicerces morais de todo este povo de Gandra. No que concerne a Vilarinho, esta estará para sempre grata por todo o seu empenho na reconstrução da sua capela entre 1919 e 1928.[1]

Referências

  1. a b c d e f g h Ferreira, Nuno Alexandre (2019). Capela de São Sebastião: Gandra- Vilarinho. Valongo: Edição de autor. pp. 58–60 
  2. Santos, Miguel António (2009). Antiliberalismo e contra-revolução na I República (1910-1919). Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. pp. 74–75  line feed character character in |título= at position 50 (ajuda);
  3. Freire (Mario), João Paulo (1917). Terra Lusa: Impressões de Viagem- Minho e Douro de relance. Braga: Raul Guimarães & Cta. Editores. pp. 31–33; 72–77