Juiz Holden é uma suposta figura histórica que associou-se com John Joel Glanton como um caçador de escalpos profissional no México e sudoeste americano em meados do século XIX.[1] Até o momento, a única fonte para a existência de Holden é o livro de Samuel Chamberlain, My Confession: Recollections of a Rogue, um relato autobiográfico sobre seu tempo como soldado durante a Guerra Mexicano-Americana. Chamberlain descreveu Holden como o mais desumano do errante bando de mercenários liderados por Glanton com quem Chamberlain viajou brevemente após a guerra: "[Ele] tinha uma estrutura carnuda, [e] um rosto opaco da cor de sebo, sem pelos ou qualquer expressão;"[2]. "um homem de tamanho gigantesco"; "de longe o homem mais instruído do norte do México"; "em suma, outro Admirável Crichton (sc., o prodígio e polímata escocês do século XVI James Crichton) e, acima de tudo, um flagrante covarde".

Chamberlain tinha aversão a Holden: "Eu o odiei assim que o vi, e ele sabia disso," escreveu Chamberlain. "No entanto, nada poderia ser mais gentil e amável do que seu comportamento em relação a mim; frequentemente ele buscava conversar comigo."[3]

Holden ficou popularmente conhecido como o principal antagonista do romance de Cormac McCarthy Blood Meridian (1985), onde é descrito como "um homem albino, maciço, sem pelos que se destaca em tiro, idiomas, equitação, dança, música, desenho, diplomacia, ciência e qualquer outra coisa que pareça interessar-lhe. A despeito de seu conhecimento quase infinito, que pode ser usado para conseguir o que for de seu desejo, Holden prefere uma vida de assassinato e ódio. Ele estupra, mata e tortura tudo o que quer por 'diversão', até mesmo jogando pequenos animais de pontes para ver com que força atingem a água. Ele também é o principal proponente e filósofo da guerra ilegal do bando de Glanton."[4]

Base histórica editar

Em sua autobiografia, My Confession, Samuel Chamberlain descreve a personalidade e aparência de Holden:

 
Ilustração de Chamberlain em seu livro mostrando o Juiz Holden. Lê-se na legenda da foto: Lição em Geologia, pelo Juiz Holden.

"O segundo no comando, agora encarregado do campo, era um homem de tamanho gigantesco que nomeava-se humoradamente como Holden, chamado de “Juiz” Holden do Texas. Quem ou o que ele era não se sabia, mas um vilão de sangue frio nunca passou despercebido; media dois metros e um de altura (6,6 pés) em seus mocassins, tinha um corpo grande e carnudo, um rosto opaco da cor do sebo, sem pelos ou qualquer expressão. Porém, quando acontecia uma briga e derramava-se sangue, seus olhos semelhantes aos de porco, brilhavam com uma sombria ferocidade, digna do semblante de um demônio. Seus desejos eram sangue e mulheres, e terríveis histórias circulavam no acampamento, de horríveis crimes cometidos por ele quando possuía outro nome, na nação Cherokee e no Texas; e antes que deixássemos Fronteras, uma menina de dez anos foi encontrada no chaparral, obscenamente violentada e assassinada. A marca de uma manzorra em sua pequena garganta apontava-o como o violador, já que nenhum outro homem tinha tal mão, e mesmo que todos suspeitassem, ninguém o acusou do crime.

Holden era de longe o homem mais instruído do norte do México; conversava com todos em suas próprias línguas, falava variados jargões indígenas, num fandango tomava a Harpa ou o Violão das mãos dos músicos e a todos encantava com sua maravilhosa performance, superando qualquer poblana do baile. Ele era um "craque" com rifles ou revólveres, um ousado cavaleiro, familiarizado com a natureza de todas as plantas estranhas e seus nomes botânicos, excelente em geologia e mineralogia, em suma, outro Admirável Crichton (sc., o prodígio e polímata escocês do século XVI James Crichton) e, acima de tudo, um flagrante covarde.

Não que ele não possuísse coragem o suficiente para lutar contra índios e mexicanos ou qualquer outro onde tivesse vantagem em força, habilidade e armas, mas onde o combate fosse igual, ele o evitaria se possível. Eu o odiei à primeira vista e ele sabia disso, entretanto nada poderia ser mais gentil e amável do que seu comportamento em relação a mim: frequentemente ele buscava conversar comigo e falava de Massachusetts, e para minha surpresa, descobri que ele sabia mais sobre Boston do que eu."[5]

Alguns historiadores amadores interpretaram o nome "Juiz Holden" como um pseudônimo, e esperavam conseguir estabelecer sua verdadeira identidade. [6] Candidatos populares ao título incluem Charles Wilkins Webber, um homem instruído da região que usou certa vez o pseudônimo de "Holden". [7]

Meridiano de Sangue editar

Um Holden fictício é personagem central no romance faroeste de 1985 de Cormac McCarthy, Blood Meridian . No livro, ele e Glanton são os líderes numa companhia de criminosos itinerantes que roubam, estupram, torturam e matam pela fronteira entre os Estados Unidos e o México. Ao longo do romance, Holden assassina brutalmente dezenas de pessoas, inclusive crianças. A busca por evidências adicionais que possam apontar para a existência de Holden, tem funcionado como um hobby para alguns estudiosos de McCarthy.

Como retratado em Blood Meridian, Holden é uma figura misteriosa, um assassino a sangue frio, e, como implícito, um pedófilo;[8] além das crianças mortas explicitamente, Holden é visto seduzindo crianças com doces, além de que muitas vezes alguma criança desaparece quando ele está pelos arredores. Em um certo momento do romance, Holden é descrito nu em seu quarto com uma menina de 12 anos também nua. Ele também apresenta conhecimentos em paleontologia, arqueologia, linguística, direito, desenho, geologia, química, prestidigitação e filosofia.

Ele é descrito como tendo quase 2,13 m (7 pés) de altura e completamente desprovido de pelos, incluindo sobrancelhas e cílios. Tem uma estrutura maciça, é extremamente forte, um excelente músico e dançarino, um ótimo desenhista, excepcionalmente articulado e persuasivo em várias línguas e um exímio atirador. Sua pele é tão pálida como se quase não tivesse pigmento. Esta aparência estranha, bem como seus reflexos aguçados e extremamente rápidos, força, agilidade, aparente imunidade ao sono e ao envelhecimento e várias outras habilidades indicam que ele é algo além de um ser humano normal. Nas páginas finais do romance, McCarthy faz referências mais diretas ao Juiz como sendo uma entidade sobrenatural ou um conceito personificado. [9]

Em 2002, a revista Book, classificou Holden como o 43º melhor personagem da ficção do século XX. [10] Ele é considerado um dos maiores personagens da literatura moderna, comparado a um “Capitão Ahab do deserto”. [11] Harold Bloom o descreveu como "aquém de Moby Dick, a aparição mais monstruosa de toda a literatura americana". [12] Holden foi caracterizado como "o personagem mais assustador da literatura americana". [13]

Biografia editar

  1. «John Glanton». web.archive.org. 4 de abril de 2003. Consultado em 15 de maio de 2024 
  2. «XROADS Has Been Archived». xroads.virginia.edu. Consultado em 15 de maio de 2024 
  3. Sepich, John Emil (1991). «The Dance of History in Cormac McCarthy's "Blood Meridian"». The Southern Literary Journal (1): 16–31. ISSN 0038-4291. Consultado em 15 de maio de 2024 
  4. Douglas, Christopher (11 de março de 2018). «The unfilmable 'Blood Meridian'». The Conversation (em inglês). Consultado em 15 de maio de 2024 
  5. Samuel Chamberlaine (1956). My Confession. [S.l.]: Harper and Brothers (New York) 
  6. «The Monster Who was Real: Judge Holden of Texas, Scalp-hunting Giant». Texas Hill Country (em inglês). 16 de janeiro de 2019. Consultado em 15 de maio de 2024 
  7. «Topic: New historical notes on Judge Holden, Glanton, Tobin, and the rest | CormacMcCarthy.com». web.archive.org. 30 de janeiro de 2022. Consultado em 15 de maio de 2024 
  8. «Blood Meridian and Its Implications | Society for US Intellectual History» (em inglês). 14 de janeiro de 2014. Consultado em 15 de maio de 2024 
  9. «LitCharts». LitCharts (em inglês). Consultado em 15 de maio de 2024 
  10. Paik, Christine. «NPR: 100 Best Fictional Characters Since 1900». www.npr.org 
  11. Hall, Michael (21 January 2013). «Desperately Seeking Cormac». Texas Monthly. Consultado em 15 de maio de 2024  Verifique data em: |data= (ajuda)
  12. «Harold Bloom on Blood Meridian». The A.V. Club. June 15, 2009. Consultado em 15 de maio de 2024  Verifique data em: |data= (ajuda)
  13. Cusher, Brent Edwin (2 de outubro de 2014). «Cormac McCarthy's Definition of Evil: Blood Meridian and the Case of Judge Holden». Perspectives on Political Science (em inglês) (4): 223–230. ISSN 1045-7097. doi:10.1080/10457097.2014.900318. Consultado em 15 de maio de 2024