Karaköy é um bairro do distrito de Beyoğlu, no centro de Istambul, Turquia. Situa-se a parte norte da embocadura do Corno de Ouro e na margem contígua do lado europeu do Bósforo. O termo Karaköy é usualmente identificado como o nome turco para Gálata, se bem que por vezes se distingam os dois termos, chamando-se Gálata apenas à zona mais elevada e mais distante da costa.

Turquia Karaköy

Gálata

 
  Bairro (semt ou mahallele)  
Vista de Karaköy e Gálata desde o Bósforo
Vista de Karaköy e Gálata desde o Bósforo
Vista de Karaköy e Gálata desde o Bósforo
Localização
Karaköy está localizado em: Istambul
Karaköy
Localização de Karaköy na Turquia
Coordenadas 41° 01' 22" N 28° 58' 30" E
País Turquia
Cidade Istambul
Distrito Beyoğlu
Bairros adjacentes Taksim, Galatasaray, Şişhane, Tophane

Karaköy é um dos bairros mais antigos e com mais história da cidade e atualmente é um importante centro comercial e de transportes. A ligação com os bairros vizinhos é feita sobretudo pelas avenidas que partem da Praça Karaköy. A Ponte de Gálata liga Karaköy a Eminönü, a sudoeste, a Avenida da Tersane (tercena/estaleiro) liga com Azapkapı a oeste, a Avenida Voyvoda (ou Bankalar Caddesi, avenida dos bancos) com Şişhane a noroeste, a íngreme Avenida Yüksek Kaldırım com Beyoğlu, a norte, e as avenidas Kemeraltı e Necatibey ligam com Tophane a nordeste.

A área comercial, onde outrora se encontravam as sedes de bancos e seguradoras desde o século XIX até à década de 1980, está hoje ocupada também por lojas de maquinaria, e materias e peças de canalização, eletricidade e eletrónica.

Etimologia editar

A palavra Karaköy é a combinação de "kara" e "köy"". Esta última significa aldeia. Provavelmente "kara" tem origem no termo turco karay, que se refere aos judeus caraítas da Crimeia que falavam línguas túrquicas. Durante algum tempo, a maior parte da população do bairro era caraíta. No entanto, em turco moderno, "kara" significa negro ou escuro.

História editar

 
O cais de num postal de cerca de 1914

Karaköy é uma área portuária desde o período bizantino, quando a margem norte do Corno de Ouro era uma localidade separada de Constantinopla. Depois da reconquista da cidade ao Império Latino, em 1261, o imperador bizantino concedeu aos mercadores de Génova permissão para ali se instalarem, no âmbito de um pacto de defesa. A área desenvolveu-se rapidamente e os genoveses construíram grandes fortificações para protegerem as suas gentes e os armazéns. Ainda há fragmentos das muralhas genovesa, mas o vestígio mais notório é a Torre de Gálata, que se erguia no ponto mais alta e mais fortificado das muralhas e ainda hoje domina a vista daquela parte da cidade. No século XV Gálata assemelhava-se muito a uma cidade italiana.

Em 1455, logo após a conquista de Constantinopla, o bairro tinha três categorias de habitantes: mercadores genoveses, venezianos e catalães de passagem; genoveses com cidadania otomana; e gregos, arménios e judeus. A composição da população mudou rapidamente e, de acordo com o censo de 1478, quase metade da população já era então muçulmana. A partir de 1500, fixaram-se em Karaköy muitos judeus sefarditas que escaparam às perseguições da Inquisição em Portugal e Espanha.

Durante a Guerra da Crimeia (1854–1856) Karaköy asssitiu a uma segunda vaga de vinda de cristãos para Karaköy, quando tropas do Reino Unido, França e Itália acorreram a Istambul. A falta de cais dificultava o embarque e desembarque de tropas e equipamento; em 1879 um empresa francesa obteve uma concessão para a construção do cais de Karaköy, o qual foi concluído em 1895.[1] Na última década do século XIX o bairro desenvolveu-se e tornou-se um centro financeiro e o local onde os bancos que operavam no Império Otomano tinham as suas sedes ou delegações, como o Banco Otomano e diversas companhias de seguros italianas e austríacas. Com o aumento da atividade comercial no início do século XX, foram construídos edifícios para alfândegas, terminais de passageiros e armazéns navais. Karaköy tornou-se também famoso pelos seus restaurantes gregos ao longo do cais. Depois de 1917, milhares de russos brancos fugidos da revolução bolchevique desembarcaram em Karaköy e aí se estabeleceram.

Transporte editar

 
Mercado de peixe

Atualmente Karaköy é um dos centros de transporte mais importantes para tráfico entre cidades e internacional. A Ponte de Gálata liga Karaköy com a cidade antiga e é usada pela linha T1 de elétricos rápidos Zeytinburnu-Kabataş. O funicular subterrâneo chamado Tünel transporta milhares de pessoas todos os dias desde 1876 entre a parte mais baixa, junto ao mar, e o princípio da Avenida İstiklal, junto à Torre de Gálata. Há ferryboats a cada 10 ou 20 minutos para Haydarpaşa e Kadıköy, no outro lado do Bósforo.

No porto de Karaköy operam ferryboats para destinos no Mar Negro como Constança na Roménia e Odessa, Ialta, Sebastopol, Kherson, Eupatoria e Novorossiysk na Ucrânia. O porto é igualmente usada por grandes navios de cruzeiro que navegam no Mediterrâneo entre portos como Atenas (Grécia), Dubrovnik (Croácia), Civitavecchia (Roma) e Veneza.[2]

Comércio editar

Como desde há séculos, Karaköy continua a ser um centro comercial importante de Istambul. Todo o tipo de equipamentos e peças mecânicas são vendidas no Perşembe Pazarı (literalmente: mercado de quinta-feira) situado à volta da Avenida Tersane. Na Avenida Voyvoda encontram-se sobretudo lojas de equipamentos e peças elétricas. Na Avenida Kemeraltı são as lojas de canalizações, na Selanik Pasajı, um centro comercial na Praça Karaköy, há sobretudo lojas de peças eletrónicas. A passagem subterrânea de peões a Praça Karaköy tem também um mercado.

Além do comércio, Karaköy é também um local popular para comer, especialmente peixe e marisco, börek (massa), muhallebi (pudim turco) e baklava (doce do Mediterrêneo Oriental). Há inúmeros restaurantes de peixe, bares e cafés debaixo do tabuleiro da Ponte de Gálata, os quais atraem muitos locais e turistas. Outra das atrações do bairro é a prostituição.

Monumentos editar

A existência de inúmeros locais religiosos e de educação em Karaköy — católicos, ortodoxos gregos, arménios e búlgaros, sinagogas, escolas francesas, italianas e austríacas — reflete o carácter cosmopolita e histórico do bairro. Há inúmeros monumentos na área, herança das diversas comunidades, sobretudo europeias, que aí se estabeleceram e prosperaram durante o período otomano.[3]

Monumentos civis editar

  • Escadaria de Camondo — construída em estilo barroco para ligar a Avenida Voivoda (ou Bankalar Caddesi, avenida dos bancos) com os bairros chiques do século XIX situados mais acima; foi doada à cidade pelo rico banqueiro judeu sefardita Abraão Camondo (1785–1873).[4]

Museus editar

  • Istanbul Modern — o primeiro museu privado de arte contemporânea da Turquia, foi inaugurado em 2004; ocupa o antigo Armazém Naval.[5]
  • Museu Judeu da Turquia (500. Yıl Vakfı Türk Musevileri Müzesi; em ladino: Fondasiyon Sinkentenaria Muzeyo de los Djudios Turkanos) — instalado na antiga sinagoga de Zülfaris.
  • Museu do Banco Otomano (Osmanlı Bankası Müzesi) — ocupa a sede do antigo banco central otomano, um edifício de 1890 da autoria do arquiteto turco-francês Alexander Vallaury.[5]

Escolas editar

  • Escola Austríaca de São Jorge (Sankt Georg Avusturya Lisesi) — escola secundária criada em 1882, atualmente é uma escola pública, mas parte do ensino ainda é ministrado em alemão e tem professores austríacos nomeados pelo Ministério da Educação da Áustria.
  • Liceu Alemão (Özel Istanbul Alman Lisesi) — fundado em 1868 pela comunidade alemã, é uma das escolas secundárias mais prestigiadas da Turquia onde as aulas são ministradas em alemão e turco.
 
Fachada do Liceu Francês de São Bento (Saint Benoît Fransız Lisesi)
 
Igreja de Surp Krikor Lusavoric (São Gregório, o Iluminador)
  • Liceu Italiano (İtalyan Lisesi) — escola básica e secundária fundada em 1861; apesar de ser privada, é apoiada pelo estado italiano.
  • Liceu Francês de São Bento (em turco: Saint Benoît Fransız Lisesi; em francês: Lycée Saint-Benoît d'Istanbul) — instalada no mosteiro beneditino homónimo construído em 1427, foi fundada como colégio jesuíta em 1583, passando a ser dirigido por lazaristas em 1783. No final do século XIX passou a admitir estudantes muçulmanos.

Igrejas editar

Católicas
  • São Pedro e São Paulo (Saint Peter ve Saint Paul Kilisesi; em italiano: San Pietro and Paolo) — igreja católica originalmente construída por dominicanos italianos no século XVII, foi reconstruida entre 1841 e 1843 pelos irmãos italianos Gaspare e Giuseppe Fossati, autores de vários obras em Istambul, entre elas o restauro da Basílica de Santa Sofia (então uma mesquita). Atualmente é usada pela comunidade maltesa.
  • Sankt Georg — construída entre 1675 e 1677 por franciscanos, foi restaurada em 1908 por lazaristas austríacos.
  • Mosteiro e igreja de São Bento (Saint Benoît) — complexo que além de uma igreja e mosteiro incluía uma escola, um hospital e um orfanato, foi construído em 1427 por beneditinos.
  • Igreja Católica Búlgara de Gálata — uma pequena igreja construída no início do século XX para servir a comunidade católica búlgara.
  • Surp Hisus Pırgiç Church — igreja católica arménia construída em 1834, serviu de sé patriarcal de 1850 a 1928, quando o Patriarcado se transferiu para Beirute.
  • Outras: São Miguel, São Francisco, Santa Ana, Santa Maria, São Domingos, São Zani
Arménias
  • Surp Sarkis (São Sarkis; São Sérgio) — construída cerca de 1360, é a igreja arménia mais antiga de Istambul.
  • Surp Kirkor Lusavoric (São Gregório, o Iluminador) — construída em 1965.
Outras confissões cristãs
  • Igreja ortodoxa turca de Haghios Nikolaos (São Nicolau)
  • Igreja síria de Haghios Ionnis
 
A sinagoga Zülfaris abriga o Museu Judaico da Turquia

Sinagogas editar

  • Neve Shalom — sede do rabinato, anteriormente era uma escola judia; foi convertida em sinagoga em 1938.[3]
  • Tofre Begadim ou Sinagoga Schneider ou Sinagoga Terziler — atualmente é uma galeria de arte.[3]
  • Sinagoga italiana ou Kal de los Frankos — construída pela comunidade judia italiana no século XIX, em 1931 foi demolida para construir a sinagoga atual.[3]
  • Zülfaris — atualmente transformada no Museu Judeu da Turquia, o atual edifício data provavelmente de 1823, está provado que em 1671 já existia uma sinagoga no mesmo local e há indícios que apontam para que a sua fundação remonte provavelmente ao tempo da colónia medieval genovesa.[3]
  • Or Hodeş — construída em 1897 por asquenazes da Polónia.[3]
  • Yüksek Kaldırım — outra sinagoga asquenaze construída em 1900, obra do aequiteto Gabriel Tedeschi.[3]

Mesquitas editar

  • Mesquita Árabe — antiga igreja dominicana dedicada a São Domingos e São Paulo e construída no século XIII no mesmo lugar onde existiu uma igreja bizantina datada do século VI, possivelmente dedicada a Santa Irene. No final do século XV foi transformada em mesquita e poucos anos depois foi cedida aos muçulmanos fugidos de Espanha.
  • Mesquita Sokullu ou de Azap Kapi (não confundir com a mesquita homónima em Fatih), do outro lado do Corno de Ouro.
  • Mesquita Yeralti ("Mesquita Subterrânea") — construída no século XVII.

Notas e referências editar

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Karaköy», especificamente desta versão.
  1. «Galata Sirkeci ve Karaköy Rıhtımları Tarihi ve Hikayesi». www.yelkenci.org (em turco). 5 de abril de 2001. Consultado em 12 de agosto de 2011. Arquivado do original em 27 de setembro de 2007 
  2. «Travel to Neighbor Countries From Istanbul». www.letsgoistanbul (em inglês). Let's Go Istanbul. 2003. Consultado em 12 de agosto de 2011. Cópia arquivada em 27 de março de 2009 
  3. a b c d e f g Brosnahan, Tom. «Jewish Sites in Galata, Istanbul». www.turkeytravelplanner.com (em inglês). Turkey Travel Planner. Consultado em 12 de agosto de 2011. Cópia arquivada em 21 de abril de 2009 
  4. Brosnahan, Tom. «Camondo Stairs, Galata, Istanbul». www.turkeytravelplanner.com (em inglês). Turkey Travel Planner. Consultado em 12 de agosto de 2011. Cópia arquivada em 6 de abril de 2009 
  5. a b Sansal, Burak. «Museums in Istanbul». GreatIstanbul.com (em inglês). Consultado em 12 de agosto de 2011. Cópia arquivada em 22 de junho de 2009 

Ligações externas editar

 
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